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Uma trajetória no samba: o sonho de Ruan Vitor Silva

Ruan Vitor Silva. Foto: Arquivo pessoal

Ruan Vitor Silva. Foto: Arquivo pessoal

O relato desta trajetória foi escrito a quatro mãos. As do Ruan Vitor Silva conduzidas pelas mãos de sua tia Lúy Silva. Tímido e sensível, (às vezes malcriado, mas com uma incrível história de superação – sendo uma delas é sua vitória após sofrer dois aneurismas aos 15 anos – , é o orgulho da família, disse a tia) Ruan se “espalha” quando dança.

Ele se tornou um mestre-sala. E vejam só, que a história dele, aqui narrada, vai ter como introdução o Carnaval 2023: o pavilhão do Sociedade Recreativa Cultural Escola Academia Niterói de Samba, da LIVRES, será conduzido por Patrícia Oliveira (que dançou na Viradouro e no Cubango) e será cortejada por Ruan Vitor; e também, ele dançará para cortejar a graciosa Emilly Fonseca que portará o pavilhão do GRCES Camisa Nota 10, no Grupo de Avaliação!

Dois desfiles na Intendente Magalhães, Rio de Janeiro, e isto sem falar de um convite que poderá acontecer para retornar a dançar em uma escola na qual ganhou um prêmio em 2019! Para ele e sua família isso é sinônimo de alegria! Ele é um dançarino da dança nobre do samba e do carnaval e um dedicado estudante. Ele adora o ambiente escolar e estudar (“puxou a tia”, como ela contou orgulhosa).

Atualmente, ele estuda na Escola Municipal Machado de Assis, ensino fundamental , suas notas são as melhores: 9.9, 10. E ele, com 23 anos de idade, percebeu a importância de frequentar uma escola regular, enfrentou seus medos, se tornou referência no município de Mesquita e, todos da escola lhe dedicam um carinho. Antes, ele já estudou na Escola Municipal Professor Marcos Gil, onde trabalha a professora Glaucia dos Santos Carvalho.

Certo dia, a professora foi avisada que o circo do Marcos Frota, que convida grupos de dança para realizar a abertura de seus espetáculos, encaminhou um convite por meio da psicóloga Renata Ignácio, para seus alunos participarem do evento sobre inclusão: o dia da deficiência. Então, sua professora Glaucia, que se dedica a Educação Especial, nos contou que propôs ao grupo um trabalho para apresentar no circo: num desdobramento da aula sobre Charles Chaplin, uma apresentação de dança baseada na música Sorri, versão brasileira feita por Braguinha (João de Barro) da canção Smile, que ficou bastante conhecida na voz do artista Djavan.

Alguns alunos foram escolhidos para representar a turma, por demonstrarem comprometimento, cumplicidade e cordialidade durante a dança, além da disponibilidade para o dia da apresentação. Ruan, que ama dançar e estava perfeitamente no perfil exposto, foi um deles. Pois é, ele subiu no palco junto com o amigo Alex e “quebrou o pé”! Foi emocionante.

Mas, vamos falar da paixão pelo bailado do mestre-sala e porta-bandeira. Através de sua tia, assim nos escreveu o Ruan: “minha história começa em 2005, exatamente assim! Os municípios de Mesquita e Nilópolis, são separados apenas por um rio. Um belo dia minha avó (Dona Zeny da Silva), moradora de Mesquita, começou a fazer parte do GRES Beija-Flor de Nilópolis, na ala das baianas como acontece sempre! Fui apresentado aos sete anos de idade aos projetos, mas, nos desfiles eu tinha que vim na ala das crianças.

Como era sagrado todos os sábados lá ia eu, participar do projeto de mestres-salas e porta-bandeiras do Sonho do Beija- Flor, coordenado pela Selminha, depois fazia aula de passista.

Lembro como se fosse hoje, toda vez que começava a aula de passista minha mãe andava atrás de mim. Mas eu queria mesmo era aprender a ser mestre sala. Logo quando chegava os ensaios, eu não conseguia dar um passo, sem ficar admirando o primeiro casal dançando. Ali meu coração já começava me apontar o que eu queria do samba: ser um mestre sala. Até que um belo dia, numa apresentação na quadra, eu lá em cima do palco sambando, o Fabio, filho do seu Alcibiades Belenzinho, se aproximou da minha avó e disse: “eu vejo o Ruan um mestre sala e não passista.” Ela deu um sorriso, ele voltou ao assunto junto com um convite: “ meu pai tem uma ala na Pimpolho na GRES Grande Rio. Leva ele, e coloca lá com eles”, e foi informando o dia e horário de ensaios.

Voltamos para casa e elas não me falavam se iam ou não iam comigo. Eu permaneci calado, com a vontade de conhecer pelo menos a Ala. Tomei a liberdade de perguntar para elas, quem iria comigo. As duas não pensaram nem duas vezes, logo me responderam. Eu não vou muito longe, minha avó falou: “arruma quem vai com você, que eu pago a passagem.” Fui, até a minha tia, triste. Ela concentrada fazendo almoço, eu parei na frente dela e falei: “tô muito triste, sabe?” E ela me olhando, perguntou por qual motivo? Eu logo respondi que queria ir lá na Grande Rio , mas , não tinha ninguém pra ir comigo. Que elas não entendem eu queria ser mestre sala e não quero ser passista. Aí ela falou, que se eu queria ser um mestre sala, ela iria vou lá comigo, mas para eu prestar bem atenção ! Ser for pra ser, que fosse direito, que não queria ver palhaçada! Naquele momento me enchi de esperança.

No dia, ela já arrumada me esperando, fomos nós, de encontro com o segundo capítulo da minha trajetória. Eu só tenho agradecer a minha tia Luiza Maura por acreditar em mim. Chegando na quadra, o Fabinho já tinha conversado com seu Belenzinho e dona Maire, assim fui colocado na ala. Como eu dançava, não perdia um ensaio, os dois sempre com paciência e carinho conosco, lá vamos nós! Um belo dia, apareceu um jornalista francês para fazer uma reportagem sobre escola mirim. Belenzinho e dona Maire me pregaram uma peça, me colocando na frente do jornalista e falando: “você que vai dar a entrevista”; ainda bem que tinha um intérprete . Com mais dois anos, eles, simplesmente, chegaram me chamaram, eu e a Juju, a Julia França, e nos comunicaram: “vocês serão o terceiro casal do Bloco Império do Gramacho”. Juju foi minha primeira porta-bandeira na Pimpolho, dançamos juntos por muito tempo, saímos na ala de casais na Portela em homenagem a Dodô. Aqui eu deixo a minha gratidão ao seu Belenzinho e dona Maire pelos ensinamentos e oportunidades que me ofereceram no meu começo como mestre sala, a eles e ao seu filho. Serei sempre grato por tudo. Se não fosse o Fabinho, hoje eu não sei se teria avançado.

Mas adiante, conheci o projeto Madureira Toca, Canta e Dança, coordenado por dona Estelita e seu Gallo. Lá fui corrigido por Yuri Perrone, sendo “torturado” com aquele cabo de vassoura, todos os sábados, era aquele sofrimento para melhorar minha postura, mas foram proveitosos.

Em 2017, chegou a hora de colocar em prática tudo que aprendi, com um convite para ser o primeiro mestre-sala do GRES Acadêmicos do Dendê. Que responsabilidade com dezessete anos defender aquele pavilhão, essa foi a minha chegada na Intendente Magalhães.

Mas o destino tinha me reservado mais do que isso! Para ensaiar, fui convidado para ir ao Minueto do Samba de Viviane Martins e Carlinhos Brilhante; lá, aprendi muito com eles: a trabalhar a minha calmaria. Meu amigo e padrinho Carlinhos brilhante, que tenho até hoje ao meu lado. E foi com a orientação dele e da Vivi, que ganhei minha primeira premiação: Troféu Estrela de Ouro (da saudosa Sol Mesquita, se minha tornou madrinha), como melhor casal junto com a Kamile Macedo.

Nesta caminhada, em 2019, passei ligeiramente pela Jardim Bangú, União de Campo Grande e Colibri, o meu ciclo se fechou no Dendê e outro se abriria no grupo D, no GRES Império Ricardense. Fui convidado pela porta-bandeira Kauana Freitas, para defender o primeiro pavilhão. Ao terminar aquele desfile, mais uma premiação como melhor-mestre sala do grupo, Prêmio Samba na Veia. Também ganhei um Olhometro, na mirim Infantes do Lins em 2022.

Em minhas estreias na Intendente Magalhães: fui baliza no primeiro desfile no Bloco Amigos de Tinguá. Recebi o convite do meu presidente Vaninho, que também é presidente da Colibri; segundo mestre sala da GRES Tubarão de Mesquita, convidado pelo diretor geral Arnaldo que me viu dançando no bloco e me fez esse convite, que não me opus em aceitar, porque também é do meu município e ganhou como vice-campeã; e terceiro mestre sala da GRES União do Parque Curicica em 2022.

Assim, sigo com meus sonhos e agradecimentos aqueles que vem me estendendo as mãos. Obrigado tio Carlinhos, Bagdá e Jamelão que contribuíram muito com seus ensinamentos. Bonifácio Jr, te agradeço muito, tudo que você fez em me orientar e me dar a oportunidade de desfilar no grupo B, você é mil. Ao seu Manoel Dionísio por abrir as portas do seu projeto, para que eu possa dar continuidades ao meu sonho.”

Eu me emocionei ao conhecer a trajetória deste sambista, neto e sobrinho de sambistas. E para fechar este depoimento singelo, solicitei uma foto com a famosa tia, aquela que portou a bandeira do sonho do menino. E a foto veio para confirmar a história!

Eliane Santos de Souza é professora e pesquisadora do tema: dança, dança do samba, bailado do mestre-sala e porta-bandeira. Lecionou, como substituta, no curso de Bacharelado em Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ. É Doutora em Arte pelo PPARTES-UERJ com a tese: Daqui de onde te vejo: reflexões de uma porta-bandeira sobre o mestre-sala, com publicação em formato de livro com o mesmo título. É Mestre em Ciência da Arte- UFF com a dissertação: Uma semiologia do samba: O bailado do mestre-sala e da porta-bandeira. Ainda é especialista em Educação pela Universidade Federal Fluminense, Docente do Ensino Fundamental e especializada em Educação Infantil. Porta-bandeira aposentada, é apoio, orientadora e apresentadora de casais. Foi membro de comissões julgadoras do quesito mestre-sala e porta-bandeira, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, São Paulo e Uruguaiana.

Crédito das fotos: portal SRzd
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

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