Um pintor extraordinário
Arlequim. Foto: Obra de Heitor dos Prazeres que está na exposição do CCBB RJ
O Centro Cultural Banco do Brasil tem reunido multidões para admirar a exposição do grande artista brasileiro Heitor dos Prazeres. Diante do seu trabalho se torna difícil expressar uma definição. Seria ele um gênio da arte? Um dos maiores artistas brasileiros? Uma grande personalidade artística? Quem já tem alguma informação sobre ele, através de leituras em sites, livros ou jornais, já sabe que se trata de um artista notável.
Mas, ao se ver diante dos seus quadros, é impossível não experimentar um sentimento de perplexidade, tal a beleza dos trabalhos exibidos.
A maioria do público, entretanto, está descobrindo o artista através dessa exposição. Vale ressaltar o trabalho do Centro Cultural Banco do Brasil que, ao produzir uma mostra como essa, com entrada gratuita, presta um grande trabalho social.
É fascinante observar a reação do público diante dos quadros exibidos na exposição. Algo que mistura encanto, perplexidade e a sensação de descoberta de um tesouro escondido. “Eu nunca tinha ouvido falar desse artista”, disse uma jovem de Engenho de Dentro, olhos arregalados, empolgada com a beleza das pinturas. O sentimento da jovem do subúrbio do Rio certamente foi o mesmo da Rainha Elizabeth II que, ao ver um quadro do artista numa exposição em Londres perguntou: “quem é esse pintor extraordinário?”. E na sua pergunta dona Elizabeth nos deu a mais perfeita definição do trabalho de Heitor, um artista que tem a capacidade de impactar com o requinte e a delicadeza. Outra coisa que chama atenção nos quadros é a brasilidade contida nos traços, nas cores e nos temas trabalhados. Talvez seja isso o que mais causa impacto no público: o brasileiro se vê retratado verdadeiramente nos quadros. E gosta do que vê, pois é retratado com elegância, classe e estilo.
A mostra “Heitor dos Prazeres é o meu nome” certamente será um divisor de águas na valorização desse artista como expoente da pintura brasileira. É uma exposição que, graças à forma como foi elaborada, estimula um novo interesse pelo trabalho dos grandes pintores do país. E também nos provoca uma imensa curiosidade sobre esse homem de origem simples que se tornou um grande agitador da cultura brasileira na primeira metade do século 20.
A verdade é que ele sempre foi muito mais lembrado e celebrado por sua trajetória na música brasileira. Motivos não faltam. Além de cantor e compositor, tocava clarinete, cavaquinho e instrumentos de percussão. Foi amigo e parceiro de Noel Rosa. Participou da criação das primeiras escolas de samba, o que faz dele um dos fundadores da moderna música brasileira. Certamente sua presença marcante na vida musical do país fez com que sua pintura tenha sido relegada a um segundo plano.
Mas a exposição do CCBB parece ter vindo para demonstrar que, na verdade, Heitor foi um gênio da pintura cuja arte foi sufocada pela força da MPB. E ele soube se expressar artisticamente em outros segmentos. Foi um marceneiro talentoso que surpreendia seus clientes com o refinamento das peças que criava. Por conta dessa atividade profissional algumas de suas pinturas foram feitas diretamente na madeira. Trabalhou como alfaiate e deixou que sua alma de artista fosse fonte de inspiração para as roupas que criou. Mademoiselle Chanel ficaria orgulhosa das roupas que ele costurou.
A exposição de Heitor dos Prazeres no CCBB merece ser vista várias vezes. É um mergulho maravilhoso no que há de mais belo e nobre na arte brasileira.
Waldir Leite é jornalista e filósofo existencialista graduado pela UFRJ. Gosta da vida e dos filmes de Woody Allen. Escreve contos e romances. Vai a praia sempre que pode. E sofre muito por não poder acabar com a guerra, a fome e a miséria.
*As opiniões contidas neste texto não refletem, necessariamente, as do portal SRzd
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