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A segregação que os brasileiros não querem ver, por Sidney Rezende

Crescimento das favelas do Rio de Janeiro. Foto: SRzd

Crescimento das favelas do Rio de Janeiro. Foto: SRzd

A pessoa que chegar ao Rio de Janeiro pelo aeroporto Internacional Tom Jobim, logo após o avião pousar na mais conhecida cidade brasileira do planeta, usará a via expressa Linha Vermelha. Do seu lado direito, se verá um tapume colorido que bloqueia visualmente a paisagem da favela da Maré. O que se disse quando o mureta foi construída é que ela seria a alternativa para proteger os motoristas de eventuais balas “perdidas” vindas da comunidade. A “solução” também serviu para dar distanciamento à pobreza gritante que percorre toda a extensão da pista.

Não é estranho dizermos que o Brasil é o país a que nos acostumamos a conviver com paredões físicos e virtuais, justamente para impedir o enfrentamento dos problemas em definitivo. Por nossas bandas, as classes mais favorecidas aceitam os pobres por perto desde que sejam braços obreiros, mas nunca vão à casa deles. Nem para uma simples visita de rotina.

Os brasileiros escondem a pobreza dos seus olhos.

Há um fosso entre as classes sociais, e de tão generoso tamanho, onde nas rachaduras crescem seitas, bolsões crentes que se nutrem de fake news e exploradores de todo o gênero prontos para subjugar a fé alheia. É uma terra onde as regras da Constituição inexistem para todos, porque não há um país ali. Há uma geleia geral quase incontornável.

As favelas crescem a olhos vistos. A foto desta reportagem comprova que a Rocinha e Vidigal esparramaram-se pelas encostas dos morros desafiando a impossibilidade de um dia existir uma tragédia anunciada. Muitas das construções nas suas fundações têm pouco mais de 1 metro de profundidade. Em caso de chuva forte, poderemos ter algo multiplicado, como ocorreu no morro do Bumba, em Niterói.

Sabemos que o pior existe, mas insistimos em deixar acontecer quando o ideal seria tratarmos agora o que deveria ter sido providenciado para ontem.

Nossas malditas escolhas

De acordo com pesquisa do QualiBest, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro apareceu em segundo lugar na lista de mulheres mais admiradas, com menção de 5,4% dos entrevistados. Em 2022, ficou em sexto lugar, citada por 2,5%.

Levantamento da Genial/Quaest mostrou que a maioria dos 82 influentes executivos e economistas de fundos de investimentos consultados crê em recessão, está pessimista com impacto do novo arcabouço fiscal sobre a dívida pública e sinalizaram que veriam com bons olhos a volta de Bolsonaro e sua entourage.

Os exploradores dos pobres agem nas periferias.

Se o antigo governante não puder concorrer, já tem gente que alimenta a hipótese de investir no deputado federal mineiro Nikolas Ferreira (PL) como alternativa de candidatura à presidência da República. A imprensa tem dado a ele espaço semelhante ao que dava ao deputado Jair Bolsonaro.

A segregação brasileira separa ricos e pobres, educados com curso superior e os sem instrução, os que têm fonte de renda e os desvalidos, mas os meios de comunicação preferem divulgar a plástica da minoria que ainda está ligada na tomada. Somos praticantes de se colocar um muro, uma murada, um mural que nos permita não ver a realidade.

Na comédia “Corra que a Polícia Vem Aí”, estrelada por Leslie Nielsen, tem uma cena em que ele aparece de braços abertos berrando “Não há nada para ver aqui”, o foco da lente da câmera abre em panorâmica e atrás dele se vê uma gigantesca explosão de fogos.

Passou da hora de vermos o Brasil com a lente certa. É melhor que seja assim. Diagnóstico errado pode levar o dente a morrer antes da hora.

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