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Nanismo e as várias faces do capacitismo, por Sidney Rezende

Kênia Rio em evento da Annabra, no Rio. Foto: Divulgação

Kênia Rio em evento da Annabra, no Rio. Foto: Divulgação

A palavra “capacitismo” tem sido cada vez mais usada e nem todos sabem o que ela significa. É o surrado hábito de discriminar pessoas com alguma deficiência. Elas são constrangidas porque fogem a um determinado padrão social aceito pela sociedade. Existem até casos de suicídios como consequência de bullying.

A história da humanidade é rica em exemplos de injustiças. A diferença de agora para o passado é que as vítimas cansaram de aceitar a condição de inferiorização, e estão indo à luta. Elas estão se rebelando da forma ultrajante como são tratadas e passaram a demonstrar que existem outras formas de convivência. O objetivo delas é se libertar dos papéis sociais que lhes são impostos e mostrar para parte da sociedade que o que tem sido considerado “normal” para muitos, pode embutir dor para quem é alvo de capacitismo.

Kênia Rio em evento da Annabra, no Rio. Foto: Divulgação
Kênia Rio em evento da Annabra, no Rio. Foto: Divulgação

Pessoas com deficiência costumam identificar mais facilmente o preço que pagam pela discriminação. O desafio do emprego onde as oportunidades de trabalho são mais restritas, a dificuldade da busca pelo amor, a chacota que o acusador faz questão de expor para ridicularizar e fortalecer guetos são barreiras quase intransponíveis. Tudo isso faz parte do dia a dia. É corriqueiro.

O nanismo conhece bem sobre o que estamos tratando aqui. “Temos como principal bandeira a busca pela acessibilidade em diversas áreas e o combate ao capacitismo emanado pela sociedade desde tempos antigos, devido à figura que a pessoa com nanismo tem vindo ainda da Idade Média, com todos aqueles mitos de elfos, magos, anões. E essa carga pejorativa e negativa ainda tem presença por mais que seja menor e menos perceptível, no trato do povo em geral, com a pessoa com nanismo”, diz advogada Kenia Rio, presidente da Annabra, Associação Nanismo Brasil.

Existem pessoas que já são calejadas pela vida, já passaram tanto por momentos capacitistas, que já criaram sua própria defesa, mas outras não. Se deprimem, desenvolvem crises de ansiedade.

Mesmo que o preconceito se arraste por anos a fio, existem embates importantes. “Hoje em dia a luta tem sido mais visível. Do mesmo jeito que hoje não é de bom tom fazer piada com negro, homossexual, nordestino e outros, também existe a pessoa com nanismo que não gosta de ser vista como objeto de riso. Desejamos apenas respeito da mesma forma como os nichos citados antes. A princípio, a sociedade precisaria saber sobre acessibilidade, e logo após, sobre o capacitismo, para não disseminá-lo. Primeiro, para tornar o cotidiano da pessoa com nanismo mais digno e melhor. Segundo, para que o respeito seja cada vez maior, o que é um direito de todas as pessoas, serem tratadas com respeito”, ressalta Kenia. E ela diz mais, “existem pessoas que já são calejadas pela vida, já passaram tanto por momentos capacitistas, que já criaram sua própria defesa, mas outras não. Se deprimem, desenvolvem crises de ansiedade. Quando crianças, ainda sofrem com baixa estima, baixa autoconfiança, e cada vez mais problemas psicológicos. Isso desemboca em outras doenças mais ao longo da vida”, conclui.

Dito tudo isso, nunca é demais lembrar que de acordo com a lei brasileira de inclusão, nº 13.146 de 06 de Julho de 2015, no artigo 88, é definido como crime de capacitismo praticar, induzir ou incitar discriminação a alguma pessoa, em razão de sua deficiência. Sob pena de reclusão de até 5 anos e multa.

O ideal é que a sociedade amadureça seus valores e ninguém precise ser preso para entender que respeitar o outro é um princípio básico de convivência entre todos. É uma contribuição para as boas relações civilizatórias.

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