Anitta está no limite perigoso do sucesso inaceitável

Anitta. Foto: Reprodução/Youtube

Anitta. Foto: Reprodução/Youtube

Já escrevi aqui que é princípio sagrado do artista alargar os limites de pensamento da sociedade, provocar o comportamento das pessoas, instigar a plateia a perceber o diferente do que ela está acostumada.

Mesmo que isto signifique a rejeição, num primeiro momento. O filme “Cidadão Kane”, de Orson Welles, joia do cinema, foi incompreendido quando exibido pela primeira vez.

A cantora Anitta divulgou o seu último trabalho e, com ele, está provocando a onça com vara curta. Sejamos justos, ela cumpre a sua missão com surpreendente ousadia. Mas pode pagar caro por isto. Como diria Caetano, outro provocador: “ou não!”. Tomara. É bom que alguém avise a ela que isto está acontecendo. É bom que alguém avise que é para ela continuar assim. Já voltaremos a falar bastante de Larissa de Macedo Machado, 1,62m, 24 anos.

Os telespectadores cresceram vendo Susana Vieira na TV e ela tornou-se familiar. Após os 70 anos, a atriz reforçou seu DNA namoradeira e amante da vida. Pronto, babou. “Uma idosa não pode namorar um garotão”, gritam as senhoras da sociedade.

Fátima Bernardes e William Bonner sempre formaram o casal perfeito inatingível aos nossos olhos. Até que ambos decidem se separar. Tudo muito bom, tudo muito bem, como diz a Blitz, até que ela, na casa dos 50, escolhe para namorar um “meninão de trintinha”, barbudinho, de esquerda. Ah, aí, não pode!

Anitta e suas polêmicas celulites. Foto: Reprodução/Youtube
Anitta e suas polêmicas celulites. Foto: Reprodução/Youtube

Roberto Carlos é o expoente católico que, antes da entrega dos presentes de Natal, encanta a família brasileira. Já foi católico fervoroso, bem verdade, baixou um pouco a bola. Ele migrou da religião única para a religiosidade absoluta. Saiu dela, também.

Roberto tem uma das carreiras mais bem planejadas. Ele é profissional.

Sempre será amado pelos brasileiros, se não mudar rápido demais. Ele até se defende: “eu mudo um pouco a cada disco, a cada ano, as pessoas que não notam”.  Sim, ele muda. Mas muda menos que seus fãs, e aí não faz marola. Se fizer muita onda, a fidelidade a ele tão arraigada perde intensidade. Ele sabe disso e sequer aceita gravar um CD só com músicas da bossa nova. É ousadia demais. Não se mexe em time que está ganhando. Os conservadores adoram.

Com Anitta, é diferente. Ela achou que estava sendo lesada, dispensou a empresária e passou a gerir a sua própria carreira. Brilhou mais ainda. Anitta é poderosa.

Ela mirou as crianças, e replicou seu show, antes somente para adultos, e o adaptou para os baixinhos. Emplacou. Anitta é muito poderosa.

A cantora acreditou que poderia ser uma estrela internacional. Foi lá negociar com os gringos, pessoalmente. Ela aceitou ser partner, coadjuvante, gravou em espanhol, inglês e, sem direito a paradinha, está dando seus passos. Prepara!

A artista entendeu que poderia produzir um clipe relevante por mês. Gravou-os e botou para jogo. Todos “causaram”. É, Anitta é mais que “muito” poderosa.

Entre seus dançarinos, rappers, meninos e meninas da periferia, pessoas especiais, gordinhas, plus mesmo. Tudo bem.

Para fechar o ano de 2017, Anitta foi para a laje na favela e misturou-se à sensualidade suburbana, bronzeamento feito com fita isolante, bundas de todos os tipos e tamanhos, celulites na cara de geral, tatuagens e insinuações exalando sexo. Tudo ao som da periferia com a batida e qualidade internacionais. Anitta é poderosíssima.

De 2018 para frente, Anitta vai sofrer dobrado. Ela será perseguida, boicotada, invejada mais do que é, e logo dirão que ela está “metida”, “americanizada”, “chata”, “já deu”, e coisas assim.

Mas ela não é isso tudo por cantar bem ou mal. O papo está em outro patamar. Anitta é atual, porque tem atitude, é abusada. Empoderada. Ela não pede licença, se estabelece. Ela caminha rápido como o mundo contemporâneo nos ensina, bem ao feitio dos nativos digitais que não estão nem aí para aqueles que nasceram antes deles. Aceita que dói menos, dirão. Anitta é sintonizada com o seu tempo.

Anitta está no limite perigoso do sucesso inaceitável, porque a sociedade brasileira, tão íntima do entretenimento, tem seus limites. E ela não os respeita. Dane-se. Para Anitta, o negócio é abrir picada em canavial com as mãos. Depois é que ela vai ver se sangrou ou não.

De 2018 para frente, Anitta vai começar a sofrer. Inimigos, ocultos, novos ou já bem manjados da gente, vão botar a cabeça para fora. Ela será perseguida, boicotada, invejada mais do que é, e logo dirão que ela está “metida”, “americanizada”, “chata”, “já deu”, e coisas assim. Este será o momento em que vamos separar as meninas das mulheres e vamos ver quanto de garrafa Anitta terá para vender. Os progressistas vão com ela, os conservadores vão enlouquecer. Vai, malandra!

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