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São Clemente 61 anos, uma escola de família

Alexandre Araújo e Jamie Cezário. Foto: Acervo pessoal

Alexandre Araújo e Jaime Cezário. Foto: Acervo pessoal

Saudações povo do samba e do Carnaval! Foi lançado no último sábado (12) o livro que conta os 61 anos de história da escola de samba São Clemente.

Todos os carnavais serão lembrados com ênfase aos personagens que o construíram. Vamos ver os relatos de carnavalescos, compositores, diretoria, mestre-salas e porta-bandeiras, passistas e interpretes. Todos que, de alguma forma, participaram da construção de cada desfile.

Assim se estrutura o livro de 808 paginas escrito pelo escritor, jornalista, radialista e compositor de samba, Alexandre Araújo.

No seu lançamento pude reencontrar personagens importantes dessa história da escola de samba onde a crítica, o bom humor e a irreverência, moldaram sua personalidade dentro do universo do Carnaval carioca. O colunista que vos fala está em quatro capítulos desse livro, referentes aos anos de 1996, 1997, 1998 e 1999. A São Clemente foi a minha segunda escola e representa páginas importantes na minha trajetória como carnavalesco ao longo desses 30 anos de profissão pelo Carnaval do Brasil.

O Alexandre, quando me contactou para saber das histórias sobre esses quatro anos por lá, me deixou super empolgado e coloquei meu acervo de fotos e recortes de jornais a sua disposição. Mas claro que ele pincelou algumas coisas, pois foram anos de muitos acontecimentos e só eles já dariam um livro.

Quero aqui registrar minha homenagem ao presidente Ricardo Gomes (in memorian), um dos dirigentes mais incríveis e apaixonados pelo Carnaval, com quem pude conviver e trabalhar ao longo da minha vivência na criação desse espetáculo.

Este é um livro que recomendo aos apaixonados pelos desfiles de escolas de samba terem em seus acervos. Neste dia, descobri que apenas 200 edições foram impressas, para variar, por falta de apoio. Ao leitor que desejar ter um exemplar desse livro, eles serão vendidos na quadra da escola ou contactando o próprio autor através das suas redes sociais. Seu instagram é @alexandrearaujo75, caso tenham dificuldades, falem comigo, que tentarei ajudar! Meu instagram é @jaimecezario. Leitores, recomendo!

Nesse dia de econtros, estava lá presente o carnavalesco atual da escola, Jorge Silveira. Tenho muito orgulho em poder dizer a todos que sua primeira oportunidade de participar da estruturação de um projeto de Carnaval foi comigo!

O Carnaval era o de 2012, para a Acadêmicos do Cubango. Jorge Silveira é oriundo da escola de Belas Artes, um apaixonado pelos desfiles das escolas de samba, herança deixada pelo seu pai, outro grande apaixonado pela cultura popular e que foi carnavalesco nas décadas de 70 e 80 em Niterói e municípios vizinhos.

O desafio para 2023 é levar a preta e amarela da Zona Sul de volta ao Grupo Especial e, para isso, está trazendo um enredo autoral com o estilo que a escola gosta, irreverente, cheio de bom humor e divertido; “com gosto de mate gelado e biscoito de polvilho à beira da praia”, assim Jorge descreve o enredo que tem como título O achamento do Velho Mundo.

Uma história genuinamente carioca que começa na praia de Botafogo e leva para o Velho Mundo as vivências e experiências das praias do Rio de Janeiro, onde a São Clemente assume a condição de embaixadora da nossa carioquice.

A sinopse do enredo é leve, bem redigida, divertida e clara, cria uma ficção onde nossos índios irão descobrir, ou melhor, achar o Velho Mundo. Os Tupis partem da enseada de Botafogo em treze canoas rumo ao desconhecido e vão achar o dito Velho Continente. Os filhos de Tupã vão encontrar os portugueses e a eles levarão a cultura celebrada nas Terras de Pindorama.

A celebração dos costumes tipicamente cariocas serão mostradas em alas e alegorias, tudo costurado pela temática indígena! Dessa forma veremos nosso mate gelado, a caipirinha, o guaraná, o funk, o biscoito de polvilho, os biquínis minúsculos, o rebolado das danças e, claro, terminando em muito Carnaval. A mensagem que o enredo quer deixar, além de muita diversão, é de respeito ao próximo, igualdade e a necessidade de preservação da natureza e do meio ambiente.

Aos leitores que acharem alguma semelhança a idéia do enredo Tupinicópolis, de 1987, criado pelo carnavalesco Fernando Pinto na Mocidade Independente, pode ter certeza que tem sim. É um enredo tropical e tropicalista, que tenta resgatar vários símbolos que ele imortalizou no Carnaval, uma homenagem especial que o Jorge faz à narrativa que o tornou inesquecível para todos nós amantes dos desfiles das escolas de samba.

Segundo o artista, o seu enredo é uma humilde tentativa de homenagear esse formato tão especial de Carnaval criado pelo Fernando Pinto e que anda meio desaparecido do Templo do Samba, que é a Sapucaí.

A São Clemente encerra a primeira noite de desfiles da Série Ouro, na sexta-feira de Carnaval, e pelo que tudo indica, vai Botafogo na Sapucaí!

Jaime Cezário é arquiteto urbanista, carnavalesco, professor e pesquisador de Carnaval.

Começou sua carreira como carnavalesco no ano de 1993, no Engenho da Rainha. Atuou em diversas escolas de samba do Rio de Janeiro, entre elas, a Estação Primeira de Mangueira, São Clemente, Caprichosos de Pilares, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Cubango, Leão de Nova Iguaçu e Unidos do Porto da Pedra. Fora do Rio, foi carnavalesco da Rouxinóis, da cidade de Uruguaiana, e União da Ilha da Magia, de Florianópolis.

Em 2007 e 2008 elaborou o trabalho de pesquisa que permitiu a declaração das escolas de samba que desfilam na cidade do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural Carioca, junto da Prefeitura do Rio de Janeiro e do IRPH, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

Em 2013, a fantasia da ala das baianas – criada por Jaime para o Carnaval de 2012 para a Acadêmicos do Cubango –, entrou para o acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Iowa, no EUA.

Essa fantasia está exposta no setor dedicado as festas folclóricas da América Latina e representa o Carnaval das escolas de samba do Brasil. Esse feito fez de Jaime o primeiro carnavalesco a ter uma obra exposta em acervo permanente num museu internacional.

Crédito das fotos: divulgação
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

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