Sandro Salvatore. Foto: Acervo Pessoal

Sandro Salvatore Giallanza

Economista formado pela Faculdades Integradas Bennett, pós-graduado em Mercado em Derivativos e pós-graduado em Gestão em Projetos, pela Universidade Cândido Mendes. Escritor de publicações sobre Empreendedorismo, Gestão em Projetos, Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas. Consultor do Sistema Sebrae, das 3 maiores entidades municipalistas brasileiras e de dezenas de prefeituras brasileiras.

A corrida armamentista

Foto: Reprodução

Enquanto o maior vendedor de armamentos do mundo está nas Américas, o maior comprador fica no Oriente Médio, em um mercado altamente influenciado pela geopolítica global histórica e cujas raízes não conseguem ser extirpadas pela diplomacia planetária.

Cinco países controlam três quartos do mercado de vendas de armas no mundo. O último relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês) aponta que Estados Unidos, Rússia, França, Alemanha e China responderam, nesta ordem, por 75% das exportações de armas no período entre 2014 e 2018.

Os Estados Unidos não apenas lideram a lista como estão bem à frente da Rússia, o segundo maior vendedor de armas do mundo. Entre 2009 e 2013, os números de vendas de armas americanas eram 12% maiores do que as dos russos. De acordo com o relatório do Sipri, entre 2014 e 2018, essa diferença alcançou 75%.

O Oriente Médio é o principal destino das armas. A região registrou um aumento das compras, enquanto foi identificada uma redução
em outras partes do mundo se comparado o volume registrado nos períodos 2009-2013 e 2014-2018. Por conseguinte os desvio de armamentos que caem nas mais de grupos terroristas fundamentalistas e ideológicos tem sua base de comercialização para o mundo, seja para terroristas bem como para narcotraficantes sua origem principal no Oriente Médio.

Por décadas, os Estados Unidos têm sido o principal exportador de armas do mundo. É impressionante como a diferença em relação aos outros países tem ficado cada vez mais notável.

Os Estados Unidos respondem por 36% das exportações mundiais, enquanto a França vende 6,8%, a Alemanha contribuiu com 6,4% e a China com 5,2% neste lucrativo mercado. Americanos, franceses e alemães aumentaram suas vendas se comparados os períodos 2009-2013 e 2014-2018. A Rússia, por sua vez, viu suas exportações despencarem 17%, fruto principalmente da perda de sua importância econômica na geopolítica planetária a partir do esfacelamento da URSS, queda na comercialização de armas soviéticas por seus principais e restritos clientes Índia e Venezuela, cancelaram compras previstas.

A Índia foi buscar armamentos em outros mercados, e a Venezuela sentiu o impacto da crise econômica e política no país e reduziu drasticamente a aquisição de armas. De acordo com o relatório do Sipri, a Venezuela foi o maior importador de armas da América Latina entre 2009 e 2013. Mas as aquisições do país caíram 83% nos cinco anos subsequentes.

A Venezuela foi por anos um cliente muito importante da Rússia, um dos poucos compradores das armas russas na América Latina. Agora, com a crise econômica, a hiperinflação, e a situação política, muitos contratos foram postergados ou cancelados. Isso tem influenciado de forma negativa as exportações de armas russas.

A Rússia, depois da China, é o segundo parceiro comercial e credor da Venezuela. Entre 2005 e 2013, os governos de Caracas e Moscou firmaram mais de 30 contratos na área de defesa orçados em aproximadamente US$ 11 bilhões (cerca de R$ 42,3 bilhões).

Em dezembro passado, chegaram à Venezuela dois Tupolev 160, o “Cisne Branco”, um bombardeiro estratégico supersônico desenhado por soviéticos e um grupo de pilotos de treinamento. Ainda assim e apesar das aquisições recentes e de algumas doações de armas, os níveis de compras caíram drasticamente na Venezuela e impactaram negativamente o mercado de armas russo.

Por que os EUA são os maiores vendedores de armas?

Os Estados Unidos lideram há anos o mercado mundial de venda de armas, apesar de oferecer produtos muitas vezes mais caros.

O êxito está relacionado a uma estratégia complexa de vendas, que inclui capacitação, treinamento e garantia de segurança, além de apoio em caso de conflitos. Por isso muitos países preferem comprar equipamentos americanos, apesar de China e Rússia, por exemplo, oferecerem produtos mais baratos.

Há ainda questões geopolíticas em jogo. Países que apoiam bloqueios regionais, como as sanções impostas pela Otan, preferem comprar equipamentos e tecnologias de nações aliadas e não de países que se colocam como inimigos em potencial, como a Rússia. Há também o fato de ser estratégico nessas alianças regionais ter uma tecnologia comum a todos os países.

No governo do presidente americano Barack Obama, Prêmio Nobel da Paz em 2009, a Casa Branca implantou uma ampla manobra para promover a assinatura de acordos internacionais sobre armas, que, segundo o Centro de Estudos sobre Políticas Internacionais, foi o maior da história após a Segunda Guerra Mundial (1939-45).

No ano passado, em uma entrevista à rede de televisão americana CNN, o senador republicano Marco Rubio considerou que, por trás dessa estratégia de venda de armas, há a possibilidade de influência em conflitos potenciais. “As vendas de armamentos são importantes não apenas pelo dinheiro, mas também porque proporcionam influência sobre comportamentos futuros. Armas precisam de nossas peças sobressalentes, nosso treinamento… e essas são coisas que podemos usar para influenciar comportamentos”, disse o senador.

A China, por exemplo, vem expandindo seu mercado consumidor e, por extensão, sua influência. Entre 2004 e 2008, eram 32 países importadores. Nos quadriênios seguintes, passou a 41 e depois a 53 compradores.

Que tipo de armas são as mais vendidas?

São diversos os tipos de armamentos complexos que dominam o mercado internacional de compra e venda. Entre 2014 e 2018, os mais vendidos foram:

Caças F-35, aviões de combate de quinta geração

Mísseis

Sistemas antimísseis

e helicópteros.

Quem mais compra armas?

O relatório do Sipri indica que países da Ásia e da Oceania (entre eles Índia, Austrália, China, Coreia do Sul e Vietnã como os principais compradores regionais) receberam 40% do total das importações mundiais de armas entre 2014 e 2018. Os países do Oriente Médio representaram 35% do total global nesse período.

Arábia Saudita é o principal comprador global de armas. Comprou 12% do total de armas vendidas entre 2014 e 2018, ante 4,4% no quinquênio anterior. Os Estados Unidos são o principal fornecedor de armas para os sauditas. Não se sabe, contudo, se essa parceria será afetada pela morte de Jamal Khashoggi, jornalista saudita que trabalhava no jornal americano Washington Post e que foi assassinado em um consulado da Arábia Saudita na Turquia. Há ainda alegações de supostos crimes de guerra cometidos pela aviação do país árabe no conflito do Iêmen. Trump, que escolheu as terras sauditas como seu primeiro destino para uma visita externa como chefe de Estado, recusou-se a impor sanções.

Enfim este intrincado mercado global demonstra uma relação estreita com a mudança política presente no planeta. Há uma expectativa em torno da guinada mundial predominando para governos conservadores para uma propulsão nas aquisições de armamentos fruto do acirramento ideológico entre governos socialistas e de direita por força desta tensão há uma movimentação em ritmo maior sobre a indústria armamentista. Ponto negativo para a estabilidade socioeconômica.

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