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Sábado de ensaio técnico; a sensação ficou por conta da turma da Zona Sul

Ensaios técnicos. Foto Acadêmicos de NIterói

Saudações meu querido povo do samba e do Carnaval! No último sábado tivemos na Sapucaí a apresentação das últimas quatro agremiações da Série Ouro.

O Rio de Janeiro teve um sábado bom para os praieiros, temperatura de 41º e, em alguns lugares, com sensação térmica passando dos 50! Em outras palavras, um sábado efervescente. Na Avenida, ensaiaram as quatro escolas de samba que faltavam para completar suas apresentações no grupo; Em Cima da Hora, Império da Tijuca, Acadêmicos de Niterói e São Clemente.

O ensaio, marcado para começar as 19h30, começou às 21h. Adeus Metrô na volta para casa… Essa quentura, fez desse sábado o ensaio mais desgastante de todos. O público, para variar, ficou por conta das suas torcidas e comunidades. Mas, mesmo assim, quando a hora estava próxima da meia-noite, sentimos um esvaziamento da Avenida.

A primeira a pisar na passarela foi a Em Cima da Hora. A escola do bairro de Cavalcante fez seu esquenta lembrando de um de seus sambas antológicos que abrilhantaram seus desfiles, outrora, no Grupo Especial: “Os Sertões”, samba do desfile de 1976, do saudoso compositor Edeor de Paula. Uma poesia em forma de samba-enredo! O público veio abaixo, ouvi comentários que diziam que muita gente fazia questão de vir assistir esse ensaio por causa do seu esquenta. E foi realmente maravilhoso, todo mudo cantando com aquela alegria saudosa. Obrigado Edeor!

O enredo para o Carnaval de 2023 tem como título: “Esperança, presente”, desenvolvido pelos carnavalescos Marco Antônio Falleiros e Carlos Eduardo. Este enredo resgata uma personagem pouco conhecida da nossa história, que viveu no Piauí: a escrava Esperança Garcia. E quem foi Esperança? Segundo informações, é considerada a primeira advogada do Brasil, por uma carta escrita ao governo da província do Piauí, na qual pedia o mínimo de dignidade para sobreviver. Essa carta foi considerada o primeiro habeas corpus do Brasil. Sinceramente, não conheço muito sobre a homenageada, mas juro que vou pesquisar mais e observar com muita atenção esse desfile. Esperança parece que foi uma mulher bastante instruída, algo pouco comum para a sociedade da época. Estou curioso.

O ensaio técnico foi bem organizado, alas com bom numero de componentes e todos uniformizados com camisas, e bela apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta bandeira. A comissão de frente está prometendo coisa boa. Uma bateria forte, também merece registro. Porém, o canto vai precisar de uma atenção especial do seu diretor geral de harmonia. As alas da comunidade notadamente cantavam com muita vontade, mas tinham momentos que era perceptível que alguns componentes ainda não aprenderam a letra do samba. Nada que não possa ser consertado, para tudo sair perfeito no seu desfile oficial.

A próxima a sacudir a Sapucaí foi a Império da Tijuca. A turma do Morro da Formiga já colocou a Sapucaí para “tremer” no seu esquenta, lembrando do samba enredo do seu ultimo carnaval no Grupo Especial, em 2014. O refrão dizia assim:

“Vai tremer o chão vai tremer

É nó na madeira, segura que eu quero ver

Coisa de pele batuk ancestral

Lá vem a sinfonia imperial”

O Império da Tijuca traz este ano o enredo: “As cores do Axé”, dos carnavalescos Júnior Pernambucano e Ricardo Hessez. O enredo fala sobre a obra do pintor argentino Hector Carybé e mostrará, como retratou em suas pinturas, o universo místico baiano, passando pelo candomblé e seus terreiros, os cortejos festivos e o Carnaval. Carybé viveu seus últimos 50 anos de vida na Bahia.

No seu ensaio técnico o que não faltou foi a boa energia; a comunidade do Morro da Formiga estava elétrica. Tudo começando pela bela apresentação da sua comissão de frente, capitaneada pelo coreografo Jardel Augusto. Daí em diante, o show ficou por conta da comunidade, todos cantando com vontade seu bom samba, com muita alegria. O registro que tenho que fazer, foi a falta de uniformidade nas camisas das alas. Ora se via componentes com camisas do enredo, ora vestindo camisas comuns sem padronização de cor. Isso deixou, em todos presentes, a nítida impressão de falta de recursos. Esta observação não tira o brilho do ensaio, que foi ótimo. Fico na torcida que essa falta de verba, notadamente sentida, seja porque tudo está sendo direcionado para a produção de um requintado carnaval! Esta é muinha torcida. Vamos aguardar.

Agora chegou a vez de conhecermos a novidade do Carnaval de 2023, a novíssima Acadêmicos de Niterói. Essa jovem escola vem ocupar a vaga da Acadêmicos do Sossego, que agora vai desfilar apenas no Carnaval de Niterói, segundo informado. Mas toda a estrutura dessa nova agremiação, assim como a comunidade, é da Sossego. O mesmo presidente, o carnavalesco e tudo mais. Hoje, como tudo anda tão avançado, poderíamos dizer que seria a “Sossego Trans”.

Brincadeiras a parte, a ideia de uma escola com o nome desse forte município é algo bastante interessante e que poderá render ótimos frutos, principalmente com o apoio mais direto da prefeitura. O seu símbolo é outra boa escolha, o Índio Araribóia, perfeito para nova proposta.

O título do enredo é “O carnaval da vitória”, desenvolvido pelo carnavalesco André Rodrigues e vai falar da história do carnaval no município. Outra ótima sacada.

Aos que desconhecem, saibam que a cidade já teve um Carnaval de rua fortíssimo, e que em termos de desfile de Escolas de Samba, ocupava a posição de segundo melhor do país. Basta lembrarmos das disputas antológicas na cidade, entre Cubango e Viradouro, e pasmem meus amigos, quem venceu em número de campeonatos foi a Cubango. Alguém pode imaginar?

O seu ensaio técnico teve algumas surpresas; a azul e branco trouxe uma comissão de frente animada, mas com uma indumentária, um tanto peculiar. Poderiam ter ido pelo lado dos antigos carnavais, mas preferiram algo mais modernoso. Destaque para o poderoso primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Fabrício Pires e Giovanna Justo, com uma bela apresentação. A grande surpresa foi a escolha ousada de colocar a Bateria do Mestre Demétrius na frente da escola. A bateria foi um show a parte nesse desfile, fazendo o público se animar no ritmo do seu bom samba-enredo, que na primeira parte da letra já faz uma boa síntese do enredo:

“É Niterói

A pedra fundamental

Do meu amor carnaval

Tá na memória!

Feito estrela a brilhar

Orgulho do meu lugar

Sob o olhar de Araribóia”

Outro bom destaque foi a energia da comunidade, todos cantando forte e felizes o seu samba-enredo. O contingente era grande e a medida que avançavam na pista, o som ia sumindo, e metade da escola ficou sem escutar o samba e a bateria. Resultado, o samba atravessou! Vimos o desespero dos diretores de harmonia tentando fazer o canto se harmonizar, mas digo que ficou impossível.

Destaco a atuação enérgica da diretora geral de harmonia, Carolina Ribeiro. Vendo o fato acontecer, tentou de forma enfática diminuir esse prejuízo. É isso meu povo, toda ousadia tem prós e contras, não acredito que eles farão isso no desfile oficial. No ensaio técnico, onde sua função é justamente testar possibilidades, foi claramente perceptivo que não será uma boa opção.

Agora, “chegou a hora da emoção contagiar… Coração bate mais forte, São clemente vai passar”. Frases do samba de esquenta da escola, que fazem a Avenida sambar gostoso com a Preta e Amarela da Zona Sul. Amigos, outra escola que sou suspeito em falar, afinal, na minha história como carnavalesco, assinei quatro de seus carnavais. Conheço grande parte da diretoria, aos quais tenho grande apreço e carinho. Sendo que minha maior relação profissional e de amizade foi com o sempre e saudoso presidente Ricardo Gomes, ao qual rendo minhas homenagens! A escola foi rebaixada no ano de 2022, então, agora vai fechar a sexta-feira de Carnaval com um enredo dos mais cariocas possíveis, “O achamento do velho mundo”, do carnavalesco Jorge Silveira, que está de volta a agremiação. Jorge estava aniversariando e pode celebrar em plena Sapucaí. Mais um ano de vida e amor ao Carnaval! Parabéns Jorge!

Uma história genuinamente carioca, que começa na praia de Botafogo e leva para o Velho Mundo as vivências e experiências das praias do Rio de Janeiro, onde a São Clemente assume a condição de embaixadora da nossa “carioquice”. Os filhos de Tupã vão encontrar os portugueses e a eles levarão a cultura celebrada nas Terras de Pindorama. A celebração dos costumes, tipicamente cariocas, serão mostradas em alas e alegorias, tudo costurado pela temática indígena! Dessa forma veremos nosso mate gelado, a caipirinha, o guaraná, o funk, o biscoito de polvilho, os biquínis minúsculos, o rebolado das danças e, claro, tudo terminando em muito Carnaval.

O ensaio técnico mostrou a escola completamente no clima dessa gostosa irreverência, começando com a comissão de frente trazendo índios surfistas. Chegou mostrando a estrutura de estar acostumada a desfilar no Especial: organização das alas, todos uniformizados e com adereços indígenas, alas coreografadas em apresentação, bateria na pressão, casal de mestre-sala e porta-bandeira com bela apresentação. O contingente impressionava, afinal, já estávamos com o relógio quase chegando a uma hora da manhã. O samba-enredo é animado e pegou bem a irreverência proposta pelo enredo, com frases jocosas e engraçadas, como esse refrão final:

“Quando o tambor tocar, quebra até o chão

Samba de ladinho, vem pro batidão

De alma leve e corpo quente

É Carioca! É São Clemente”

Amigos, após ver todas essas escolas, posso afirmar que teremos uma Série Ouro quente, com pelos menos cinco agremiações disputando diretamente o título, pelo que foi apresentado nesses ensaios técnicos! Pode ter surpresa? Claro que pode! Tudo agora vai depender do conserto dos erros observados. No desfile oficial, veremos a magia da escola vestida no universo de seus enredos, onde a plástica poderá ser um ponto diferenciado no somatório geral! Boa sorte à todas agremiações e minha torcida para que vença a melhor.

Jaime Cezário é arquiteto urbanista, carnavalesco, professor e pesquisador de Carnaval.

Começou sua carreira como carnavalesco no ano de 1993, no Engenho da Rainha. Atuou em diversas escolas de samba do Rio de Janeiro, entre elas, a Estação Primeira de Mangueira, São Clemente, Caprichosos de Pilares, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Cubango, Leão de Nova Iguaçu e Unidos do Porto da Pedra. Fora do Rio, foi carnavalesco da Rouxinóis, da cidade de Uruguaiana, e União da Ilha da Magia, de Florianópolis.

Em 2007 e 2008 elaborou o trabalho de pesquisa que permitiu a declaração das escolas de samba que desfilam na cidade do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural Carioca, junto da Prefeitura do Rio de Janeiro e do IRPH, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

Em 2013, a fantasia da ala das baianas – criada por Jaime para o Carnaval de 2012 para a Acadêmicos do Cubango –, entrou para o acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Iowa, no EUA.

Essa fantasia está exposta no setor dedicado as festas folclóricas da América Latina e representa o Carnaval das escolas de samba do Brasil. Esse feito fez de Jaime o primeiro carnavalesco a ter uma obra exposta em acervo permanente num museu internacional.

Crédito das fotos: divulgação
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd


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