O samba sem Ivan Milanez
O samba do Rio de Janeiro fica um pouquinho mais pobre de hoje em diante: no último sábado, Ivan Milanez foi compor e cantar longe de nós. Longe dos seus companheiros da Velha Guarda Show, longe do Império Serrano, longe dos muitos amigos que conquistou em palcos, em bares, em becos e vielas, em todos os lugares que, como bom andarilho, percorreu.
Ivan nasceu na Serrinha um ano antes da fundação do Império Serrano. Sua mãe costurava fantasias desde as primeiras horas e seu pai era ritmista da nova escola, onde chegou a ser o segundo diretor de bateria. Sua infância, entre retalhos de lamê e instrumentos de percussão, lhe mostrou o caminho.
Aprendeu a sambar, a tocar, a cantar. Quanto ao dom de compor, ninguém precisou lhe ensinar: nasceu com ele. Tinha inspiração e cantava muito afinado, com aquela voz sem estudo que valoriza os sambas, sem firulas e sem invenção.
Não é preciso falar de seu talento, que todos conhecem. O que poucos sabem ou tiveram oportunidade de conhecer é que Ivan era uma grande figura: inteligente, engraçado, perspicaz. Sempre dando trabalho aos colegas da Velha Guarda Show com sua rebeldia, sua falta de pontualidade e sua aversão às coisas práticas do dia a dia, era querido e respeitado. Até mesmo conseguir comprar dele uma cópia de seu CD Maneiro, de ótima qualidade, era complicado. E por incrível que pareça essa dificuldade toda parece que dava ao disco maior sabor.
Esse era Ivan Milanez, que vai deixar saudade. Nas disputas de samba-enredo na quadra, subia ao palco e gostava de se dirigir ao puxador no início da execução do samba com o bordão: “Canta, meu canário!” Desconfio que ninguém mais chama puxador de canário… Ivan vai fazer muita falta.
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