Nyldo Moreira

Jornalista, especializado em cultura e economia. Ator e autor de peças de teatro. Apresentou-se cantando ao lado de artistas, mas não leva isso muito a sério. Pratica a paixão pela música em forma de textos e críticas. Como diretor, esteve a frente de dois curtas, um deles que conta a vida no teatro.

Entrevista: Mariza está no Brasil para show e conta que gravou com Djavan

Mariza faz show no Tom Brasil, em São Paulo | Foto Divulgação

Mariza faz show no Tom Brasil, em São Paulo | Foto Divulgação

A fadista Mariza está no Brasil para cumprir uma agenda de shows hoje (23) no Rio de Janeiro, e amanhã (24) em São Paulo, no Grupo Tom Brasil, onde ainda há ingressos disponíveis. Belo Horizonte e Porto Alegre também estão no calendário da artista nos dias 25 e 29 respectivamente. Em entrevista exclusiva ao jornalista Nyldo Moreira, do portal SRZD, ela conta sobre suas origens, em Moçambique e faz um breve restrospecto de sua carreira até a infância. Morando desde criança em Portugal, a cantora diz que faz questão de voltar anualmente à África para que seu filho tenha contato com a cultura da mãe.

 

Mariza adianta que não haverá composições brasileiras neste show que está em turnê pelo mundo, mas adiantou que gravou com Djavan e deve lançar em breve o dueto. Confira a entrevista completa e sua admiração por Elis Regina:

 

NM:  Mariza, você nasceu em Moçambique, correto? Ainda nova, no colo dos seus pais foi para Portugal. Olhando para suas origens, um lugar que sofre tanto com a fome e até mesmo com recentes catástrofes naturais, qual é o seu sentimento e o seu apelo?

 

MARIZA:  Sim, nasci em Moçambique e fui para Lisboa ainda pequena. Eu vou todos os anos a Moçambique, sempre tento levar meu filho comigo, também. Minha avó vive em Moçambique, eu tenho 16 tios e 40 primos, ou seja, a minha família está toda em Moçambique. Acho muito importante leva-lo para passar essa africanidade para o meu filho.

 

NM: Portugal é um berço de gigantes intérpretes e de um nome forte no fado feminino, que é Amália Rodrigues. De onde nascem suas raízes para a música? 

 

MARIZA:  No bairro onde eu cresci em Lisboa, a Mouraria, o fado é a música de toda gente. Toda gente canta enquanto limpa a casa, nas tabernas, em todo lugar. Meu pai é um fanático por fado e incrivelmente só gostava de ouvir o fado com vozes masculinas! Só fui escutar Amália bem mais tarde por conta disso. Portanto, eu não tinha escolha – o fado me rodeava, por todos os lados. (risos)

 

NM:  O Brasil adora você, nós somos também um país que respira música. Soube que Elis Regina é uma de suas referências, correto? O que você ouvia e como descobriu Elis?

 

MARIZA:  Eu ouvia música brasileira em minha casa, desde muito pequena. Minha mãe gostava de ouvir música brasileira, é apaixonada pelo Roberto Carlos. Sou fã de muitos artistas da MPB, os mais antigos. Conheço muito pouco a nova música do Brasil, para ser sincera. Mas, por Elis eu tenho uma verdadeira paixão pela voz, pela maneira de interpretar os temas, pelas escolhas musicais que fazia. Sou fascinada por Elis, mas gosto muito de Alcione, Clara Nunes, Maria Bethânia, Chico Buarque, Milton Nascimento, Ivan Lins….

 

NM:  Como o Brasil influenciou o seu canto? Já te ouvi cantando Lupicínio Rodrigues e é lindo. O que podemos esperar nesse seu show aqui? Teremos algum compositor brasileiro na playlist? Quais as novidades neste álbum? Nosso arranjador, Jacques Morelenbaum participa do álbum, não é?

 

MARIZA:  Não vou cantar temas brasileiros, porque este show é o mesmo que estou fazendo pelo mundo todo, até dezembro. Pode ser que alguma vez eu cante, se sentir vontade, mas ainda não agora. Vou promover ao vivo o meu último disco “Mariza” e claro que trago comigo também temas que muitos conhecem, como “Ó Gente da Minha Terra” e “Chuva”. Deste novo álbum, “Oração”, “Quem me dera” e “Semente viva” estão entre os que vamos apresentar. Tenho dito que é uma viagem entre todos os meus discos. Adoro o Jaques Morelenbaum, foi uma grande honra pra mim ter a sonoridade do seu violoncelo num dos temas deste disco. Já fiz um disco com o maestro, em 2004, já fiz concertos com ele. Sou uma grande fã e espero que a gente se encontre muito mais vezes para poder trabalhar e fazer música juntos.

 

NM:  O fado é lindíssimo, e ao mesmo tempo que ele tem alegria, ele profundamente conta histórias de amor, de uma dureza, sofrimento, súplica. Eu sempre tenho a impressão de que as fadistas sofrem bastante cantando, e isso me comove. É como se cantassem com uma lágrima na voz. Estou correto? O fado, de fato, penetra tanto no intérprete na hora de cantar?

 

MARIZA:  O amor é um tema universal que fala a toda gente, e não tem nada melhor do que o fado para falar de amor. Pode ser um amor melancólico, pode ser alegre, mas sempre será amor. Sou uma intérprete que só canto o que me representa, o que posso sentir, porque é preciso sentir para cantar.

 

NM:  Para finalizar, tem algum cantor brasileiro com quem você tem vontade de fazer um dueto?

 

MARIZA:  Gravei um dueto com Djavan do tem “Um amor puro”, que ainda vamos lançar, não houve tempo de estar nesse disco. Foi um encontro maravilhoso. Conheci o Djavan numa das vezes que se apresentou em Portugal, sou fã de muitos temas e cantava esse tema para mim. A oportunidade surgiu e pareceu bem a todos os que comigo trabalham poder gravá-lo com o próprio. O convite foi aceito e aí está o tema, estou muito feliz com o resultado, mas espero fazer muitas outras colaborações com artistas brasileiros. 

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