Nyldo Moreira

Jornalista, especializado em cultura e economia. Ator e autor de peças de teatro. Apresentou-se cantando ao lado de artistas, mas não leva isso muito a sério. Pratica a paixão pela música em forma de textos e críticas. Como diretor, esteve a frente de dois curtas, um deles que conta a vida no teatro.

A Gota d’água!

Bibi Ferreira | Foto: Nyldo Moreira

Bibi Ferreira | Foto: Nyldo Moreira

Eternizamos Bibi Ferreira! Num momento de tamanha fragilidade para a cultura, que anda sendo banalizada em todas as esferas, perdemos a estrutura mais forte dessa seara. A estrela mór do teatro e dos musicais, do canto clássico e por que não, da ópera!? Aos 96 anos ela deixa um legado cultivado em cada um desses anos, que apontavam um centenário, mas que foi interrompido pelo cansaço físico de um coração que só bateu dentro do teatro. A vida toda de Bibi Ferreira foi dentro do teatro.

 

Ainda recém-nascida, a atriz estreou no teatro substituindo uma boneca que havia desaparecido da produção. A filha do ator Procópio Ferreira, e da bailarina Aída Izquierdo, nasceu para os palcos. Habituada a ouvir ópera nos encontros familiares e de amigos em sua casa, ainda criança, sem entender as letras, Bibi retirava trechos do cancioneiro popular brasileiro e do samba e inseria nas árias de óperas. Foi pinçando essas canções, que Bibi estrelou musicais à frente de orquestras pelo Brasil e no mundo. Interpretou canções de Frank Sinatra, de Amália Rodrigues, por décadas o repertório de Edith Piaf, que sempre ousei dizer que fazia ainda melhor que a criadora. Antes de se aposentar, no ano passado, Bibi estava se preparando para cantar Caymmi nos palcos.

Bibi Ferreira | Foto: Nyldo Moreira
Bibi Ferreira | Foto: Nyldo Moreira

Por diversas vezes, assisti Bibi Ferreira nos teatros. Uma das vezes que estivemos juntos em seu camarim foi para levar um exemplar do DVD com um documentário que dirigi, em que parte homenageava a atriz e que conta com um depoimento dela, ao lado de Jô Soares e Juca de Oliveira. Em toda a minha trajetória pelo teatro estive de olho no que Bibi fazia, assim como qualquer ator neste país!

 

Estamos em uma leva absurda de partidas inesperadas. Perdemos a Deise Cipriano, do Fat Family, e o querido Ricardo Boechat. Além de todas as tragédias que estão ocorrendo no Brasil. A perda de Bibi Ferreira foi a gota d’água! Aliás, este foi o título do musical escrito por Chico Buarque e Paulo Pontes, que foi casado com Bibi. “A Gota d’Água” foi, sem dúvidas, o mais incrível espetáculo já feito no Brasil. Até o final de sua vida a atriz lembrava-se de suas falas da peça.

Bibi Ferreira | Foto: Nyldo Moreira
Bibi Ferreira | Foto: Nyldo Moreira

Os grandes musicais também foram estrelados por Bibi Ferreira, como “My Fair Lady” e “Hello, Dolly”. Como diretora, esteve a frente de inúmeros espetáculos, inclusive musicais, como os de Maria Bethania.

 

Bibi era incansável. Jamais esquecerei, que no auge dos seus já passados 90 anos, ela enaltecia a indiferença com sua idade. Não se distinguindo dos mais jovens. Subia no palco com um salto enorme, aveludava a voz, segundo ela com uma colher de manteiga e um copo de café, brilho no vestido e graves impressionantes. Uma voz incompatível com sua idade! E uma história que superava a sua idade!

Bibi Ferreira | Foto: Nyldo Moreira
Bibi Ferreira | Foto: Nyldo Moreira

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