Por Pedro de Freitas
Caro leitor, ao final desse texto vocês vão perceber que se trata de uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
Por hora, um pouco de paciência: deixem-me falar de uma banda de rock que teve uma breve existência, um disco lançado em 2000, e desapareceu do mercado fonográfico para renascer em 2017. Trata-se do At The Drive In, obra inicial da carreira artística de duas figuras singulares na música pop atual: o mexicano Cedric Bixler-Zavala, e o porto-riquenho Omar Rodriguez-Lopez. Apesar da procedência latino americana, foram criados em El Paso, no Texas. Mas orgulhosos de sua ascendência, evidente pelo uso de elementos latinos na sua música, e no visual dos dois, que ostentavam vistosas cabeleiras afro. Cedric tem carisma e um vocal agudo; Omar é ótimo guitarrista (um dos guitar heroes do século 21, na minha opinião) e um artista pródigo. Recentemente, em carreira solo, lançou nada menos que 60 (!!) álbuns em pouco mais de três anos, com estilos musicais que vão da música erudita a ritmos caribenhos. No At The Drive In, criavam um som derivado do punk, mas com várias outras referências musicais. As performances energéticas impulsionaram o grupo localmente, mas foi o disco “Relationship of Command”, de 2000, que fez com que fossem notados pela crítica e roqueiros em geral. “Relationship of Command” é realmente um disco fantástico, um dos melhores álbuns de rock da primeira década desse século. Em uma época carente de novas referências, foram chamados de “o novo Nirvana”. Mas a carreira do At The Drive In acabou de forma abrupta, quando Credic e Omar criaram uma nova banda, completamente diferente, de rock progressivo: O Mars Volta. Com o Mars Volta, conquistaram notoriedade, respeito da crítica e venderam discos.
Em El Paso, cidade de Omar e Cedric, localizada na fronteira dos EUA com o México, drogas são assunto recorrente. Do outro lado da fronteira está a temida Ciudad Juárez, a “Faixa de Gaza” mexicana, sede de um dos cartéis que controlam a ferro e fogo o tráfico internacional de drogas. E aí nossa história ganha outro foco.
Um grave problema aflige as mulheres de Juárez. Cedric e Omar, criados no ambiente fronteiriço de El Paso e Juárez, cientes deste problema fizeram uma música chamada “Invalid Litter Dept.”, que se tornou uma das faixas de trabalho de “Relationship of Command”. A música, obscura e hermética, não deixa o tema tão evidente, exceto em seu soturno refrão: “dançando sobre cinzas de cadáveres”. O clip da música esclarece qualquer dúvida: é um mini-documentário sobre a violência e os assassinatos que vitimaram centenas de mulheres em Juárez no espaço de poucos anos.
Para quem não sabe, foi a partir de Juárez que o termo “feminicídio” ficou popular e passou a ganhar uso frequente. A cidade cresceu rapidamente, não pelo tráfico de drogas, mas pela criação de centenas de indústrias, filiais de empresas americanas, que, por conta de incentivos fiscais, finalizavam sua produção no México. A fábricas são conhecidas como “maquiadoras”, e passaram a empregar em grande parte, mão de obra feminina. Indefesas, empregadas de “maquiadoras” passaram a ser alvo preferencial de crimes de estupro, tortura e assassinato. Foram centenas de assassinatos, mas pouquíssimos crimes foram solucionados, razão pela qual sabe-se pouco sobre seus algozes: se eram ligados ao tráfico de drogas, ou se produtos de patologias geradas no ambiente de caos e degeneração social em que se transformou Juárez. A presença simultânea de uma cultura profundamente machista, com a corrupção endêmica fez com que essa epidemia de feminicídios fosse subestimada, o que somente foi revertido graças à atuação de um grupo de parentes das vítimas que criou uma organização chamada “Ni Uma Mas”; graças ao protesto de organismos internacionais, e graças a iniciativas pessoais, como a do At The Drive In.
Hoje há evidências de diminuição do número de feminicídios; muitos afirmam, entretanto que, longe de qualquer iniciativa pública, o resultado decorre redução do número de habitantes, muitos fugindo do ambiente socialmente tóxico.
A história das mulheres de Juárez mostra que o Dia Internacional da Mulher, em que pese a justa comemoração por conquistas, deve servir de reflexão: existe de fato igualdade de tratamento, oportunidades e direito para homens e mulheres? Creio que essa é uma pergunta a ser enfrentada sem apego emocional ou ideológico; pois está em jogo o próprio futuro da sociedade. Pergunto rapidamente: qual é o maior patrimônio em empresas modernas como Apple, Facebook, Amazon, Google? A resposta: capital humano. Restringir o imenso capital humano existente através de seleções de gênero, raça, credo ou opção sexual, é simplesmente burrice e um enorme desperdício. E falar em capital humano sem igualdade de tratamento é faltar a uma premissa básica, necessária e indispensável. A ausência de igualdade de tratamento sufoca o livre arbítrio e resulta em opressão. Pura e simples.
P.S Incluo o clip-documentário de “Invalid Litter Dept.”, do At The Drive In. Para reflexão.
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