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Matheus Soli, um mestre-sala batizado na Intendente Magalhães

Matheus Soli.

Matheus Soli.

Hoje trago para os leitores do SRzd a história de mais um mestre-sala do nosso Carnaval; Matheus Rodrigues de Oliveira, ou simplesmente, Matheus Soli.

“Estudei dança na escola, no Ensino Médio, e me percebi acrescido pelos conhecimentos construídos naquele espaço de forma dançada. Só então entendi a dança como ciência e vislumbrei a possibilidade de atuação no campo.

Minha experiência com Carnaval vem de vivências em outros segmentos de escola de samba e minha trajetória como mestre-sala se inicia como pesquisa acadêmica na Companhia Folclórica do Rio-UFRJ e vem se estendendo para meu TCC (trabalho de conclusão de curso) no Bacharelado em Dança da Universidade Federal Rio de Janeiro.

Eu cheguei na Companhia Folclórica através do processo seletivo para bolsista Proart, mas já conhecia o trabalho da companhia desde 2013, quando assisti o espetáculo Tamborzada. No elenco, danço cacuriá, danças gaúchas, lundu, carimbó, jongo e a dança de São Gonçalo (Gosto muito da dança de São Gonçalo. O nome já me chama a atenção porque é o mesmo nome da minha cidade. Sou morador do município de São Gonçalo, Rio de Janeiro. A energia e o fluxo desta dança são super para cima. É tudo muito animado!), além da cena de mestre-sala e porta-bandeira. Ser mestre-sala tem sido um lugar de trabalho e pesquisa muito grande; é diferente de tudo que eu já havia dançado.

Matheus Soli. Foto: Acervo pessoal
Matheus Soli. Foto: Acervo pessoal

É mágico ser o responsável por apresentar o pavilhão da Companhia Folclórica, um dos nossos maiores símbolos, se não o maior! Sinto que naquele momento eu represento todo um processo histórico que vem de muito tempo, é sobre dar continuidade à toda a tradição do bailado do mestre-sala e da porta-bandeira! E falar disso na universidade pública, dentro de Departamento de Arte Corporal é de extrema importância pois, é afirmar e pôr em evidência a brasilidade de nossos corpos, em um lugar onde o sistema ainda é euro centrado.

A porta-bandeira é a estrela da dança, penso que naquele momento, ela é a pessoa mais importante do mundo. É ela a responsável por empunhar nosso pavilhão, toda a minha dança naquele momento é para enaltecê-la e a colocar em lugar de evidência. Eu não havia tido experiências de dançar com outras moças além da Renata de Araújo Barbosa (que desfilou em alas coreografadas, comissão de frente em diversas escolas de samba, e afirma que o trabalho de porta-bandeira não é fácil, exige muita dedicação, disciplina e treino.), mas depois que começamos a dançar juntos, meu olhar sobre ela mudou. Passei a ter muito carinho pela pessoa dela, porque ela se tornou uma pessoa especial para mim e esses afetos vão para além do palco.

Ser mestre-sala tem me deixado muito feliz. É como se tivesse encontrado a minha dança, e pesquisar na escola Mestre Manoel Dionísio tem sido muito enriquecedor para minha formação enquanto artista-dançarino.

O meu amor pelo Carnaval começou em casa. Minha família sempre gostou muito de Carnaval e nesse convivo com meu próprio núcleo familiar, a festa começou a chamar minha atenção.

Tenho memórias muito fortes de ser levado por Dona Riva, minha mãe, para assistir os ensaios de rua do Porto da Pedra e de como todos aqueles movimentos me atravessavam. Lembro-me também, da alegria do meu tio Washington com o período do carnaval. Ele sempre comprava o CD dos sambas enredos. Eu aprendia a letra de todos!

Somos todos da Cidade de São Gonçalo. Morei a maior parte da minha vida no bairro de Neves onde nasci, mas hoje moro no Bairro do Pita, ainda na cidade de São Gonçalo.

Matheus Soli. Foto: Diogo Nascimento
Matheus Soli. Foto: Diogo Nascimento

Movido por esse sentimento, pelo samba e suas danças, que nasceu em casa e já me entendendo um corpo dançante, me permito viver experiências com o Carnaval. No ano de 2019, em primeiro momento, em segmentos que não são o mesmo que ocupo hoje, mas que muito me construíram para chegar até aqui.

Já compus os elencos de comissões de frente da Unidos de Santa Teresa, na Intendente e no Sousa Soares e Banda Batistão no Carnaval de Niterói, sendo dirigido e coreografado por Allan Carvalho.

No ano de 2020, desfilei como passista no Acadêmicos do Cubango. Tenho muito carinho pela escola e por minha coordenadora, Marluci Azevedo, onde permaneci apenas naquele ano, mas que me trouxe o entendimento de muitas coisas, inclusive sobre a minha própria dança! Em paralelo a isto, eu já me encontrava na escola Mestre Manoel Dionísio estudando sobre o bailado e iniciando a minha pesquisa na construção do espetáculo Viva a Cultura Popular Brasileira, da Companhia Folclórica do Rio-UFRJ.

Eu comecei, em 2021, a procurar uma escola de samba para me iniciar. Queria uma da Intendente Magalhães e procurei meu amigo Matheus Rodrigues. Ele era o carnavalesco da Chatuba de Mesquita, que estava sem mestre-sala. Ele me indicou. E a escola gostou de mim e me fizeram a proposta. Em primeiro momento, eu aceitei dançar apenas na final do samba enredo, que ocorreu no dia 4 de dezembro.

E aí, conheci a porta-bandeira Anna Beatriz Arruda, porque marquei de ir ensaiar com ela para nos apresentarmos no evento e eu simplesmente me apaixonei por ela. Nossa conexão foi muito forte no momento em que estávamos dançando. A sensação que tive era que eu já dançava com ela a muitos anos. Foi um momento muito forte e eu confesso que foi a primeira e única vez que senti isso. Foi naquele momento que eu disse que ficaria na escola. Aquele ensaio com a Bia foi decisivo para mim.

A distância de São Gonçalo pra Mesquita é gigante, mas a minha vontade de voar também é! Hoje eu tenho uma relação de muito carinho com a escola e com toda a comunidade, mas mesmo quando esse sentimento estava em outro lugar, eu queria estar ali por mim, pela Bia e porque eu estava de alguma forma muito realizado de estar ali.

Este ano de 2022, na minha estreia em um desfile oficial no carnaval, dancei com a Bia, que traz a experiência de ter passado na passarela da Intendente Magalhães defendendo o primeiro pavilhão da escola desde 2015, e me ensinou muito sobre as dinâmicas dos desfiles. A Bia é uma mulher extremamente guerreira e tem habitada em seu corpo, uma dança que traz a característica de uma Escola de Samba que saí de Mesquita e enfrenta muitas batalhas para pôr seu Carnaval na rua.

Matheus Soli. Foto: Mariana Penedo
Matheus Soli. Foto: Mariana Penedo

Nossa fantasia representa as joias raras do Reino do Congo e foi produzida por nosso carnavalesco, o Matheus Rodrigues, que em seu processo criativo tinha como principal objetivo, pensar uma fantasia que fosse funcional e não nos atrapalhasse nas apresentações para os módulos julgadores.

Os julgadores do quesito nos deram as notas: 9.9, 9.7 e 9.8 mas, a nossa maior surpresa, foi a honra de recebermos do Ritmo Carioca, o prêmio de melhor casal do grupo B da Livres. Sabemos bem o quanto trabalhamos, tudo que enfrentamos e com essa premiação vem a sensação de dever cumprido!

Toda a minha preparação para o desfile foi feita na Escola Mestre Manoel Dionísio e com o primeiro casal do Porto da Pedra, Rodrigo França e Cintya Santos, no projeto que eles estavam realizando na escola.

A Chatuba de Mesquita é minha primeira escola de samba e a sensação é quase que inenarrável. Sou muito grato a escola e a presidência pela oportunidade de defender seu primeiro pavilhão e pela confiança no meu trabalho. E a escola sempre me auxiliou muito nas questões quanto a transporte, locomoção e alimentação.

Agora, aos 23 anos de idade, sou um mestre-sala confirmado e meu batizado aconteceu na Intendente Magalhães! Sou grato a Chatuba por ter me abraçado e por tudo por tudo que vem me ensinando! Que venha o próximo Carnaval e os próximos desafios”.

Eliane Santos de Souza é professora e pesquisadora do tema: dança, dança do samba, bailado do mestre-sala e porta-bandeira. Lecionou, como substituta, no curso de Bacharelado em Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ. É Doutora em Arte pelo PPARTES-UERJ com a tese: Daqui de onde te vejo: reflexões de uma porta-bandeira sobre o mestre-sala, com publicação em formato de livro com o mesmo título. É Mestre em Ciência da Arte- UFF com a dissertação: Uma semiologia do samba: O bailado do mestre-sala e da porta-bandeira. Ainda é especialista em Educação pela Universidade Federal Fluminense, Docente do Ensino Fundamental e especializada em Educação Infantil. Porta-bandeira aposentada, é apoio, orientadora e apresentadora de casais. Foi membro de comissões julgadoras do quesito mestre-sala e porta-bandeira,no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, São Paulo e Uruguaiana.

Crédito das fotos: pela ordem; Cacuriá, Diogo Nascimento e Mariana Penedo
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

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