Cheryl Berno. Foto: Acervo pessoal

Cheryl Berno

Advogada, Consultora, Palestrante e Professora. Especialista em direito empresarial, tributário, compliance e Sistema S. Sócia da Berno Sociedade de Advocacia. Mestre em Direito Econômico e Social pela PUCPR, Pós-Graduada em Direito Tributário e Processual Tributário e em Direito Comunitário e do Mercosul, Professora de Pós-Graduação em Direito e Negócios da FGV e da A Vez do Mestre Cândido Mendes. Conselheira da Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro.

Mãe é mãe

A vida inteira eu quis ser mãe, mas esperei encontrar o pai certo, terminar os estudos e estar em um trabalho que me desse condições. Demorou. Engravidei e tive o primeiro filho com 35 anos (descobri que adiar a maternidade não é bem assim). Trabalhava e dava aulas até aos sábados. No final da gravidez a médica me disse que ou eu fechava a boca ou o bebê podia nascer com diabetes. Foi a primeira vez que vi que ser mãe consistia em privações. Parei de comer por dois. Mas, não foi o suficiente. Quando estava nos últimos meses da gestação a médica disse que ou eu parava de trabalhar ou morríamos os dois. Eu estava com pressão alta, coisa que nunca tinha tido na vida. Parei. Não podia nem arrumar gavetas, o que é bem difícil para quem vive a mil por hora, mas já não era por mim e entrei em repouso. Fazia todos os exames, era impecável nos cuidados para que ele viesse bem, mas descobri também que essas coisas dependem de médicos, que também erram. Ele veio um pouco antes. Naquele dia 30 de dezembro comecei a sentir as contrações.

Quase que ele nasce ali mesmo, na árvore de Natal da Lagoa, no Rio de Janeiro. Deu tempo de chegar à maternidade. O fotógrafo nem conseguiu e não tenho o vídeo do nascimento. O parto foi normal, como eu tinha programado, mas eu fiquei horas na sala. A médica teve que arrancar a placenta com as unhas porque descobrimos só no parto que a placenta estava com problemas, não detectados nos muitos exames. O peso previsto estava errado. Descobrimos que a maternidade não é bem aquele céu de brigadeiro. A minha sorte é que a médica era muito competente, sabia que eu queria ter mais filhos e salvou o meu útero (Dra. Rita, somos eternamente gratos!). Ele fez todos os exames, ficou bem, só que em razão da situação e dos remédios, eu não conseguia amamentar e eu queria muito e querer é poder, ainda mais para uma mãe. Por eles a gente faz tudo mesmo. Sabia o quanto amamentar era importante. Depois de tentar de tudo, fui pedir ajuda a um pediatra especialista, Dr. Marcos Renato (www.aleitamento.com) e ele nos ajudou a entender que era possível, que não existia leite materno ruim e que até mãe que adota amamenta. Tentei muito – não foi fácil, como nada é fácil para uma mãe de primeira viagem, até que um dia a minha mãe (descobrimos quando nos tornamos mães que a nossa mãe é sábia), cuidando dele, o deixou gritar até que eu chegasse e foi então que ele não teve opção, mamou pela primeira vez no peito com 20 dias e dali para frente até um ano e oito meses. Mamava de 10 em 10 minutos, de dia e de noite. Eu vinha do trabalho para amamentar até na hora do almoço. Pelos filhos as mães fazem de tudo. Eu parecia uma zumbi, mas ele crescia forte e saudável. Eu o amava mais que tudo.

Lembro como se fosse hoje de tudo. O deixava na pracinha de manhã quando eu ia trabalhar, chorávamos os dois. Eu sentia não poder estar o tempo todo com ele, mas ali eu começava a experiência de criar filho para o mundo. Eu fazia de tudo para estar com ele quando não estava no trabalho e isto quase me custou o relacionamento, mas mãe faz tudo mesmo pelo filho. Ele sempre foi saudável (tinha umas alergias, mas até disso demos conta). Foi crescendo feliz e bem cuidado. Com meses, em razão da amamentação, já estava uma bolinha. Lembro bem da primeira escola, do choro para ficar, do orgulho dos primeiros desenhos, de todas as apresentações – nunca faltei uma! Contava histórias para ele todas as noites, alguma vezes várias vezes a mesma. Ele só dormia assim, conosco. Fazíamos tudo o que os manuais mandavam. Ele não dormia na nossa cama, dormia na dele, mas nós que dormíamos com ele, muitas vezes vencidos pelo sono e pelo cansaço. Lembro das primeiras palavras, da primeira vez que andou, com um aninho.

Ele crescia cada vez mais forte e independente. Foi passando muito rápido. Daqui a pouco já não era mais o nosso bebê, começou a ter vontades próprias, mais personalidade. Com 5 anos levou um baque quando o irmão nasceu prematuro e ficou 88 dias na UTI, mas juntos, demos conta desse grande desafio. Ele olhava o irmão na “caixinha” e cantava para ele, me consolava de noite quando eu chegava do hospital. Eu que tinha medo de não conseguir amar mais um como o amava, descobri que amor de mãe se multiplica. A minha vida passou a ser completamente diferente, tudo passou a ser em função dos filhos. As mães sabem que, literalmente, tiramos da nossa boca para dar para eles. Ele foi crescendo muito rápido, sem dar tempo para aproveitarmos mais cada fase. Os anos foram passando e de forma inusitada ele virou “adolescente”. Havíamos ouvido falar que essa fase não era muito fácil, mas tem coisas que a gente só aprende vivendo. Novos desafios.

Ele acha que sabe tudo da vida. Já não sou mais a rainha da vida dele. Eu comecei a ficar pequenininha, embora não fosse mais a mãezinha. Já não era tão importante e o choro da pracinha deu lugar à briga para que eu me afastasse para dar lugar para ele, com todas as suas vontades. Bem difícil educar nesta fase, mas mãe é mãe, não tem pausa. A gente enfrenta tudo, estuda outras coisas, conversa com as professoras, psicólogas, com outras mães e vai aprendendo a lidar com aquele novo filho. Muitas vezes a gente ainda procura o bebê ali naquele homem – sabemos que ele está lá na essência, que aprendeu os valores que passamos, mas ele já tem opiniões bem próprias, que muitas vezes nos surpreendem, de todas as formas. Ele está agora um homem, o corpo mudou. O primeiro sinal foi ficar mais alto do que eu, o que não é muito difícil, mas está mesmo bem grande. O sentimento é um misto de satisfação por estar crescendo com “estamos perdendo o controle”. Hoje ele faz 14 anos, já é outra pessoa – dizem que parece comigo, mas vejo que tem uma personalidade muito peculiar. A relação é bem diferente, muitas vezes (muitas vezes mesmo) conflituosa. Mas, a gente vai aprendendo também que amar é dar espaço para que os filhos vivam as suas próprias vidas e vai se acostumando cada vez mais com a distância física. Sabemos que um dia deixarão o ninho, mas para a gente eles vão ser sempre os nossos “bebês” porque o amor de mãe não muda, amadurece.

Cheryl Berno

mãe

*Parabéns, Leozinho! Mamãe, te ama e sempre te amará!

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