Carnaval/RJ

Notícias atualizadas sobre o Carnaval do Rio de Janeiro.

Liesa: o princípio da inércia ou o magnífico ato de procrastinar, por Jorge Renato Ramos

Sambódromo da Marquês de Sapucaí iluminado. Foto: Henrique Matos

Sambódromo da Marquês de Sapucaí iluminado. Foto: Henrique Matos

O princípio da inércia, como é conhecida a primeira lei de Newton, diz que um corpo tende a permanecer em repouso ou em movimento retilíneo uniforme a não ser que uma força atue sobre ele e o faça mudar de estado. Aprendemos isso nas aulas de física, das poucas coisas que consegui guardar dessa matéria.

“Por que fazer algo hoje se posso deixar para amanhã (ou daqui a dez, vinte anos)?”. Procrastinação é isso, a protelação do ato, empurrar com a barriga a resolução de um problema ou o desenvolvimento de uma tarefa, ou melhor ainda, projeto mais complexo.Carnav

E por quê, cara pálida, falar de assuntos assim tão desconexos em uma coluna sobre as escolas de samba, o carnaval carioca? Porque, amigo, para mim tem relação direta com a omissão, a pasmaceira principalmente da LIESA. Enquanto pessoas apaixonadas, e abnegadas, pelo carnaval desenvolvem projetos incríveis para exaltar as escolas de samba, seus personagens, heróis, sambas, enredos etc, o “Carnaval Boi Beleza” é o maior exemplo, a Liga se limita a divulgar uma nota, dizendo: “Valeu, pessoal! Fiquem tristes não, o carnaval de 2022 vai ser muito bacana!”. Não fazem nada, neca de pitibiriba para promover o produto do qual ela é a representante, legal, inclusive. São omissos, preguiçosos e ultrapassados.

O caso mais grave de omissão da LIESA ocorreu nesse carnaval quando, todo mundo sabe, derrubaram as lives de diversos canais no Youtube, para que “não atrapalhasse”, supostamente, um programinha horroroso e vergonhoso que a Globo exibiu. Ninguém queria saber daquilo, uma afronta para as escolas de samba, mas sim em acompanhar o belíssimo trabalho do “Boi com Abóbora”, dos jornalistas Fábio Fabato e Gustavo Melo, o “Carnaval Boi Beleza” (uma ideia sensacional, que deveria, caso permitam, perdurar por vários carnavais). Passou pela minha cabeça que poderia ser coisa da própria LIESA, mas já que afirmaram com tanta certeza que foi a Globo, e pelo histórico dela, de amassar (ou tentar) quem se põe em seu caminho, então foi a emissora do Jardim Botânico. Nenhuma nota de repúdio da LIESA ou, pior ainda, de escola quase alguma. Se calaram de forma covarde e medíocre.

Eis aí a questão: por conta do dinheiro que a Globo paga à LIESA e, consequentemente, às escolas, todos permanecem calados, de cabeça baixa, subservientes à emissora. “Ah, mas a gente tem que levantar a mão pro céu e agradecer que ainda tem a mãe Globo para pagar e transmitir os desfiles…”. Porra nenhuma, desculpa o termo. “Aihnnn, ninguém quer saber de escola de samba hoje em dia, o negócio é pisadinha…”. Amigo, vamos aterrissar, planeta Terra, século XXI. Hoje em dia, com tantas e tantas, inúmeras plataformas, possibilidades, mídias digitais, sociais etc, uma pessoa, organização, um ritmo, uma manifestação cultural, qualquer coisa, enfim, pode e deve fazer sucesso e arrecadar dinheiro, muito dinheiro, desde que… esteja atualizado, saiba o que tem que ser feito, domine essas plataformas e, principalmente, queira muito fazer.

Sem querer parecer preconceituoso, mas basta ver o que faz sucesso hoje em dia no Brasil. Ainda não conseguiram me convencer que isso é melhor, tem mais qualidade do que as escolas de samba, que é, para mim, ainda, o maior produto do Brasil. E o melhor: envolve paixão. A pessoa está pouco se importando para carnaval, mas, provavelmente, se perguntarem, ela tem uma escola de samba com a qual ela simpatize. Caramba, é um baita produto, pronto, mas porcamente trabalhado. Não tem que haver subserviência à emissora alguma. Deveria ser o inverso. Era hora de botar a p… na mesa e mostrar quem são as escolas de samba do Rio, mas não…, em nome da “parceria” com a Globo, preferiram se calar e se omitir.

“Você quer que a gente pegue o bonde andando e faça alguma coisa?”. Não, amigo. Nem bonde a gente acha mais. Tem gente que chama isso de VLT, mas não é o caso. A LIESA tem que pegar o BRT andando. Atrasado, cheio à beça, mas, espremendo um pouco, dá para entrar. O BRT da história está passando e a LIESA, e muitos, estão apenas olhando. Hora de andar com o queixo para o alto, peito estufado, afinal de contas, são as escolas de samba do Rio, o “maior espetáculo da Terra”, a “maior manifestação popular do Brasil”. Momento de sair da inércia, colar com quem conhece e dar o nosso grito de independência. Afinal de contas, quem impõe algum tipo de limite às escolas?

Sobre o autor

Natural de Padre Miguel, Jorge Renato Ramos é pesquisador, bacharel em Letras/Francês (UFRJ/UERJ) e autor da série de livros “Apoteótico: os maiores Carnavais de todos os tempos”.

Comentários

 




    gl