Carnaval/RJ

Notícias atualizadas sobre o Carnaval do Rio de Janeiro.

Samba, Macarrão, Salsicha e Hipocrisia!, por Hélio Rainho

Macarrão com salsicha / Imagem de internet

Feliz 2019! Pena que o ano já começa como 2018…

A gente querendo ouvir samba, bateria, furdunço, ziriguidum, paticumbum…e aí? Do que é que todos querem falar mesmo???

“Dinheiro”!!!

Estariam copiando o enredo da Imperatriz, que fala justamente de dinheiro?! 

Não! 

Estão mesmo é brigando, mais uma vez, com o poder público. Pedindo esmolas de pires na mão. Tudo isso porque, desde o primeiro desfile oficial nos anos 30, não houve UMA alma engenhosa capaz de imaginar que, um dia, um político informante e desconhecedor de gestão de recursos culturais negaria fomento aos nossos desfiles. Digo “nossos” desfiles por força de expressão! Porque nem sei se os desfiles são mesmo “nossos”. Nas quadras, eu sinto que o samba é da gente. Na avenida, não tenho a menor convicção de que isso seja factível. 

E o samba… cadê o dinheiro do samba?! Melhor: cadê “o samba”?! 

Venderam pra TV, venderam pro governo, venderam pros sertanejos, pro supermercado, pro jogador sérvio, pra celebridade branca, pra rainha-sem-samba de bateria que vem da novela, pro ditador estrangeiro, pra máfia política estadual, pra fábrica de iogurte…engraçado: estão vendendo o samba há tantos anos pra tanta gente…e não têm dinheiro em caixa?!?! Venderam ou não venderam?!?! Emprestaram?! Doaram?!?! Onde está o dinheiro?! O gato comeu?!?!

Estão vendendo o samba há tantos anos pra tanta gente…e não têm dinheiro em caixa?!?! Venderam ou não venderam?!?! Emprestaram?! Doaram?!?! Onde está o dinheiro?! O gato comeu?!?

E, como reza o dito popular: “Em casa onde falta o pão, todos brigam, ninguém tem razão”. Falando de comida, aproveito pra pegar uma carona na coluna do amigo Bruno Moraes, sujeito de boa índole e ritmista conhecedor de seu ofício, que escreveu um texto questionando “a quem interessa o Escola Convida”, aquele evento em que semanalmente as agremiações fazem sua quizomba e se confraternizam com as coirmãs em suas quadras. Acho que só essa definição que acabo de dar para o evento já reitera sua extrema relevância na cultura do samba. Menos, é claro, pra quem tá com fome e quer jantar fora. Porque, de fato, se eu dependesse de comida de graça em escola de samba, estaria lascado: cansei de ver passistas sem água, sem nem mesa pra botar garrafa d’água paga do próprio bolso, passando sufoco em quadra de escola como convidado. Suado, cansado, seco e com pressão baixa! A alguns metros dali…champanhe&caviar pros camarotes das “autoridades e celebridades”… aquelas que, agora, negam apoio ao Carnaval!

O bom amigo colunista até citou, na coluna, a “tarde gourmet” do Império Serrano em que foi servido um macarrãozinho com salsicha para seus convidados! Prato delicioso, leve, simples e elegante, fusão da culinária italiana com a nossa carioquice internacional, que pode até não agradar a quem não goste…mas visita não escolhe cardápio. Ou, se escolhesse, deveria exigir antes de aceitar o convite!

Mas como é gostoso falar do amado e imponente Império Serrano: foi a única escola citada no texto – e figurou justamente como uma escola que serviu almoço a quem convidou! Porque – repito – tem gente que não serve NADA! Bem, o colunista, que é meu amigo, não gostou do prato. Mas a verdade é que teve prato, né?

Eu adoraria! Pra quem não sabe, o Império serve até sopa pra comunidade, depois do ensaio de rua! Eu amo a nobreza da Serrinha! Madureira não é lugar de se passar fome! Ô, sorte !!! Mas o amigo não gostou. Ele e, segundo ele mesmo em conversa nossa, “uma galera”. Que não escreve coluna e, portanto, não reclamou onde se pudesse ouvir. Foram todos pro McDonalds se empanturrar, ali em frente à quadra, provavelmente. Onde não tem samba, só calorias e colesterol. Bom apetite! 

De barriga vazia, começam as especulações: “Vai ter ensaio técnico”, “Não vai ter ensaio técnico”. Inegavelmente a história das escolas de samba foi escrita muito mais pelos jornalistas envolvidos com a cobertura das festas – sendo Sergio Cabral (o pai, não o filho bandido) o mais célebre deles – do que pelos historiadores e pesquisadores do país, esses apenas nas últimas décadas se manifestando consideravelmente com seus estudos. No entanto, a mesma imprensa que aos poucos revelou as nossas escolas também se calou durante todos esses anos – e a maior parte dela ainda continua calada – na hora de denunciar mazelas, questionar privilégios, quebrar protocolos e reivindicar o verdadeiro respeito à festa popular. Seduzidos por favores políticos, por cargos públicos, por fanatismos ideológicos imbecis e por empreguismo nos veículos convencionais de comunicação, a maioria fica em cima do muro, se vendendo com suas críticas e opiniões de estalagem, fazendo média e deixando de protestar como deveria contra toda sorte de surrupiação e safadeza que ameaça a legítima cultura do samba. Pra piorar, na mesma onda em que proliferaram positivamente os sites de internet com coberturas de Carnaval, também vieram as aquisições de pessoas que não são profissionais de comunicação, não conhecem a ética da profissão, não têm nem técnica nem argumentação de texto: alguns até pinçados do Carnaval como “estrelas”. Chegam com espaço nos sites e difundem nas redes sociais seus textos sem destino, e acabam fazendo mais e mais lobby, se vendendo ou tomando “a bênção” a esses caciques escravocratas que entregaram o samba nas mãos dos governos, das tevês e de posseiros locais até nas quadras e nos redutos das próprias escolas!

Se hoje estamos entregues à nossa própria sorte é porque não houve cobrança: houve conluio, favorecimento, omissão, o diabo que seja! Tudo, menos atitude!

Se hoje estamos entregues à nossa própria sorte é porque não houve cobrança: houve conluio, favorecimento, omissão, o diabo que seja! Tudo, menos atitude! Com a tal profissionalização, cada um buscou seu lugar ao sol e esqueceu que esse negócio de ser escola de samba é, antes de mais nada, um ato de resistência, luta, expressão autêntica, diversidade, lugar de gente que não se encolhe nem engole sapo.   

Não estou aqui pra fazer pose, nem cuspir fogo, nem envergar o cabresto da pipa que eu não solto! O que eu faço no samba e no Carnaval é aquilo em que acredito, da mesma maneira em 2019 como em 1987, quando um certo Jacyr me levou à quadra da Portela e lá me “batizou” como sambista, me “soltando” entre feras e bambas pra aprender o que é samba, como se faz escola e que cores uma escola tem!

No riscado dos pés ou das letras, busco a mesma verdade. Enquanto não repensarmos essa droga toda de desorganização que diz que nos organiza, as escolas de samba sairão de pires na mão catando moedas oxidadas dos bolsos dos cavalheiros escusos do poder público; entoando sambas-enredo com berros frenéticos de justiça mas escondendo os louvores ocultos aos tiranos da folia; cantarolando falsamente a liberdade enquanto assimilam a opressão! Hipocrisia ridícula!

Sem dinheiro, mas com samba e dignidade! O pouco que sempre tivemos tinha dignidade, e nunca nos deixou em falta, como agora.

Mudem a atitude e parem com a hipocrisia!

É por isso que eu digo: macarrão com salsicha é simples, mas é digno. E tudo que é digno é muito bom!

Ruim mesmo é passar fome sentindo cheiro de caviar…

Comentários

 




    gl