Hélio Rainho

Profissional de Comunicação e Marketing, Hélio Rainho veio do teatro, sendo ator e diretor profissional. Autor da biografia do jogador Mauro Galvão e de várias peças teatrais. Nascido na Praça XI, chegou à Portela como jovem compositor nos anos 80 e passou a pesquisar escolas de samba e Carnaval. Idealizador do projeto "Quem És Tu, Passista?", um manifesto pela preservação do segmento, é padrinho dos passistas do Império Serrano e comentarista dos desfiles na Sapucaí. Twitter/Instagram: @hrainho.

50 anos de avenida: a glória de Índio da Mangueira

Índio da Mangueira / Acervo Pessoal

Quando os portões da Marquês de Sapucaí anunciarem a passagem da Verde-e-Rosa na avenida neste 2019, um coração estará batendo em cadência especial. Trata-se do coração de César Augusto da Graça Moutinho, conhecido como Índio da Mangueira. É que, este ano, o baluarte mangueirense estará completando seu cinquentenário a desfilar como passista da escola.

50 anos de desfile! 50 anos de amor, de paixão, de samba no pé, de verdade. A grandeza que faz bodas de prata na avenida e brinda uma plateia inteira com a graça de seus meneios, o requinte de seus riscados, a elegância e a emoção de seu porte de deus da dança no cenário que é uma beleza que a natureza criou. 

Um feito nobre, glorioso, além de longevo. 

É tão difícil para o passista de escola de samba resistir por tanto tempo! É tão difícil para o passista de escola de samba sustentar nas pernas, no peito e no fôlego a gana de defender seu valor em um desfile. Muitas vezes diante de tantas inovações, tantas provas e tantos questionamentos, o passista sente o tempo pesar sobre seus ombros e sobre suas pernas, o conclamando a desistir porque “passou seu tempo”, “deve dar a vez a outros”, “tem que saber a hora de parar” … essas coisas que impiedosamente ouvimos para esse segmento das escolas de samba onde o tempo parece ser usado como argumento contra, nunca a favor.

Pois é. Mas esse inacabável Índio da Mangueira subverte a regra, extrapola a norma, quebra o protocolo. Ele é guerreiro da resistência do samba: homem douto e letrado, sábio e cônscio, aguerrido e obstinado para negar os conselhos contrários; ali reina soberano um guardião de seu ofício, influenciando gerações e compartilhando um saber que não cabe em partituras, não se redige em papel: é força motriz que sacode pernas, dá giros, bate pés sobre o chão, levanta poeira e emana graça por onde passa.

Se fôssemos, de fato, uma avenida coerente e justa, ovacionaríamos esse personagem ilustre e reluzente de nossos desfiles. Porque Índio Moutinho da Mangueira, esse passista célebre e grandioso, é mais do que motivo de orgulho para uma nação verde-e-rosa: ele é patrimônio vivo de um legado ancestral, de uma verdade que se faz presente através de homens que escolheram os pés para expressar o samba!

Índio Moutinho é digno de ser destacado na avenida, de ser homenageado pela escola, de ser aplaudido por uma Sapucaí inteira que o reconheça não apenas por seu talento exemplar, mas por sua obstinação em resistir por tanto tempo com a convicção de que só os verdadeiros e valorosos conseguem atravessas 50 anos com a graça, a grandeza e a humildade que ele tem. 

Faça-se o registro! Louve-se o feito! 

E que fique para a posteridade e para as novas gerações um pouco desse suor, dessa pegada, desse sorriso, desse samba no pé fortalecido e renovado a cada ano – do primeiro ao quinquagésimo – tudo isso que nos faz olhar para Índio da Mangueira e dizer: “Obrigado, mestre!”,  “Parabéns, mestre!”…

Salve Índio da Mangueira! Filho do tempo, dançarino do chão de escola, poeta do riscado, bamba da resistência, bastião das lutas do samba!

Brasil, chegou a vez

De ouvir os Moutinhos…

Tamoios mulatos…

Eu quero um país que não está no retrato

Sambando de fato

A vida inteira…

Como este ÍNDIO DA MANGUEIRA!

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