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Enquanto há samba, a Festa continua!

Ensaios técnicos: Arranco, Bangu, Ponte e Ilha simularam seus desfiles na Sapucaí

Ensaios técnicos. Foto: SRzd

Saudações ao meu querido povo do samba e do Carnaval!

Hoje, vou comentar o segundo final de semana de Sapucaí, abrindo suas portas para os ensaios técnicos das escolas de samba da Série Ouro, no sábado, dia 21 .

A primeira Escola de Samba a se apresentar, tinha hora marcada para começar seu ensaio; 19h30. Mas o Arranco do Engenho de Dentro só pisou na Avenida por volta das 21h. Atraso muito significativo.

O Arranco está retornando a Série Ouro e quem pensa que vai fazer feio, está muito enganado. Fez um ensaio ótimo, comunidade cantando forte, organizada, todas as alas com camisetas, pequenos tripés posicionando as alegorias e uma excelente surpresa; o samba que faz homenagem ao personagem conhecido como “Zé Espinguela”.

O enredo proposto pelo carnavalesco Antônio Gonzaga tem como título: “Zé Espinguela – Chá do meu terreiro”. Nessa esteira, a escola aproveita e festeja os cinquenta anos de sua fundação. Para aqueles que não conhecem o homenageado, além de ter sido morador do bairro do Engenho de Dentro, foi jornalista, escritor, pai de santo, sambista carioca, integrante do Bloco dos Arengueiros e fundador da Estação Primeira de Mangueira.

Parabéns ao Arranco e ao seu carnavalesco pela boa escolha de enredo. Bons enredos geralmente propiciam ótimos sambas, e foi isso que pudemos sentir no canto forte da sua comunidade, empolgada e orgulhosa, com este retorno à Sapucaí. Destaco ainda a homenagem feita ao final do ensaio, para o mais emblemático compositor da sua história, autor de 18 sambas; Juan Espanhol, vulgo “Espanhol”. É dele uma das frases mais marcantes que geralmente abrem suas apresentações e que se eternizou na memória de todos nós, apaixonados pelos desfiles das escolas de samba:

“Na ilusão desta avenida, o Arranco é todo amor….vaaaaai”

A segunda agremiação a fazer seu ensaio técnico foi a Unidos de Bangu. O enredo é “Aganjú… A visão do fogo, a voz do trovão no Reino de Oyó”, de autoria do carnavalesco Robson Goulart.

A escola da Zona Oeste vai contar a história de uma das qualidades de Xangô, o Orixá da justiça. Chegou com outra personalidade esse ano para seu ensaio técnico, onde o presidente em seu discurso na concentração afirmou que estão preparando um Carnaval para vencer o grupo. Será?

Bom, uma coisa foi perceptível: a escola pareceu bem mais estruturada e trouxe um dos maiores contingentes da noite. A organização foi notória, a começar pela comissão de frente com roupas características ao enredo e, somado a isso, um quadripé de abertura, fazendo a marcação do posicionamento de todas as alegorias. A comunidade com camisa do enredo e todos cantando o samba.

Na abertura do ensaio, teve até queima de fogos! Pura ostentação! Vamos aguardar seu desfile com expectativa. Na letra de seu samba manda um bom recado aos concorrentes: “a maldade vira cinza, na fogueira de Xangô”. Vamos aguardar…

Depois veio a Unidos da Ponte. E, claro, em seu esquenta, cantou sambas antológicos do período áureo em que esteve no Grupo Especial.

Nesse momento, o relógio da Sapucaí já passava das 23h. Em outras palavras, adeus metrô! Mas quem gosta, gosta, e vamos prestigiar a Ponte. Esse ano, canta o tema “Liberte nosso sagrado: o legado ancestral de Mãe Meninazinha de Oxum!”, dos carnavalescos Rodrigo Marques e Guilherme Diniz.

O enredo aborda a saga contra o racismo religioso sofrido pela Ialorixá conhecida como “Mãe Meninazinha de Oxum”, destacando também sua ligação com a cidade de São João de Meriti, sede da agremiação. O ensaio técnico da Unidos da Ponte, em termos comparativos com as aquelas que até o momento tinham se apresentado, foi, sem dúvidas, o mais morno.

A escola estava organizada, trouxe quadripé de abertura, comissão de frente com indumentárias relativas ao enredo e marcação do posicionamento das alegorias. Mas o canto da comunidade não estava valente. Talvez pelo cansaço da espera. No roteiro apresentado, a Ponte seria a segunda escola a se apresentar e acabou sendo a terceira. Outra possibilidade, seria a preocupação dos componentes em como retornar para São João de Meriti. Sinceramente, não sei o que aconteceu. Vale esse alerta para a sua harmonia e diretoria, afinal, é para isso que serve o ensaio técnico: corrigir erros para tudo sair perfeito no desfile oficial.

Finalizando a noite, já nas primeiras horas do domingo, foi a vez da União da Ilha do Governador. Vou ter cuidado no escrever para que a emoção não supere a razão, afinal, Ilha, você nos conquistou já faz muito tempo. Foi quando nos convidou para ver o sol nascer, num lindo dia que se anunciava, e era o “Domingo”.

Na Sapucaí, ninguém arredou o pé. Todos estavam ansiosos em ver a Escola Insulana, e ela chegou, chegando. No seu esquenta, já colocando todos para cantar e sambar, lembrando de antigos carnavais. Informando que o “Rei mandou cair dentro da Folia… e lá vou eu”. Momento de pura emoção.

Para 2023, traz o enredo que tem como título: “O Encontro das Águias no Templo de Momo”, do carnavalesco Cahê Rodrigues. A história homenageia os 100 anos de fundação da Escola de Samba Portela, madrinha da União da Ilha. Uma excelente sacada do carnavalesco, que vai trazer um enredo de pura emoção para à Sapucaí e, pelo que percebi, será uma ode aos seus bons carnavais, num cortejo encantado para saudar sua querida “Madrinha Centenária”.

Afinal, já dizia o seu samba enredo de 1980, do enredo “Bom, Bonito e Barato”: “Obrigado Madrinha Portela, que me ajudou a caminhar”.

Nesse clima de magia, a União da Ilha iniciou seu ensaio. Vou confessar uma coisa: era uma escola do Grupo Especial ensaiando no sábado, que energia!

O samba enredo contagiou! Sei não, se estivesse no grupo de cima seria daqueles que arrastariam o povão. Adorei o refrão que faz homenagem aos sambas do compositor Didi. A letra diz assim:

“Abre a janela que a saudade tá aí Vem cantar mais um verso do Didi A melodia faz o povo arrepiar Vou sorrir! Vou zoar”

O que vou destacar no ensaio de uma escola de samba que foi uma avalanche de alegria e felicidade? Sinceramente, não sei, amigo leitor. Ano passado, a Ilha já fez um desfile extraordinário. Esse ano, buscou um enredo e samba que faz um reencontro com aquela personalidade da escola, que gosta de tomar um porre de felicidade. É o que posso falar do ensaio técnico que fechou o sábado. Parabéns a comunidade da União da Ilha!

Termino fazendo uma homenagem ao saudoso compositor “Espanhol”, do Arranco do Engenho de Dentro, com o refrão do lindo samba de 1989, cujo o enredo foi “Quem vai querer?”. Ele diz assim:

“Enquanto há samba

A festa continua!

Canta meu povo

Que a avenida e sua!”

Jaime Cezário é arquiteto urbanista, carnavalesco, professor e pesquisador de Carnaval.

Começou sua carreira como carnavalesco no ano de 1993, no Engenho da Rainha. Atuou em diversas escolas de samba do Rio de Janeiro, entre elas, a Estação Primeira de Mangueira, São Clemente, Caprichosos de Pilares, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Cubango, Leão de Nova Iguaçu e Unidos do Porto da Pedra. Fora do Rio, foi carnavalesco da Rouxinóis, da cidade de Uruguaiana, e União da Ilha da Magia, de Florianópolis.

Em 2007 e 2008 elaborou o trabalho de pesquisa que permitiu a declaração das escolas de samba que desfilam na cidade do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural Carioca, junto da Prefeitura do Rio de Janeiro e do IRPH, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

Em 2013, a fantasia da ala das baianas – criada por Jaime para o Carnaval de 2012 para a Acadêmicos do Cubango –, entrou para o acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Iowa, no EUA.

Essa fantasia está exposta no setor dedicado as festas folclóricas da América Latina e representa o Carnaval das escolas de samba do Brasil. Esse feito fez de Jaime o primeiro carnavalesco a ter uma obra exposta em acervo permanente num museu internacional.

Crédito das fotos: divulgação
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

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