Eliane Santos de Souza. Foto: Divulgação

Eliane Santos de Souza

Porta-bandeira aposentada. Doutora em Arte pelo PPARTES-UERJ (tese: Daqui de onde te vejo:reflexões de uma Porta-Bandeira sobre o Mestre-Sala, com publicação de livro com o mesmo título). Mestre em Ciência da Arte- UFF (dissertação: “Uma semiologia do Samba: O Bailado do Mestre-Sala e da Porta-Bandeira”; membro das Comissões Julgadoras de desfiles de entidades de samba (RJ/SP/POA/URUGUAIANA). Conselheira Fundadora e ex-presidenta do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos do Negro – COMDEDINE-RIO.

O samba se consagrou na Festa da Penha, por Eliane Santos de Souza

Festa da Penha de 1916. Foto: Reprodução

Por Becca Lopes

Onde foi que o samba nasceu eu não sei, só sei que ele foi consagrado na Festa da Penha. Isto porque, segundo um depoimento registrado pelo grande compositor sambista Heitor dos Prazeres: “Naquele tempo não tinha rádio, a gente lançava a música na Festa da Penha. Eu só fiquei conhecido a partir da Festa da Penha”.

O primeiro disco brasileiro foi gravado em 1902, por Manoel Pedro dos Santos, o cantor Bahiano, o Lundu “Isto é Bom” de Xisto da Bahia, porém, considerando o fato de que o rádio chegou ao Brasil nos anos 1920 e se expandiu na década seguinte, a Festa da Penha foi, sem dúvidas, o principal canal de divulgação do samba e do sambista, então, o samba que agradasse nessa festa, fatalmente faria sucesso no carnaval seguinte. Portanto, a Festa da Penha era um acontecimento que atraia os músicos da época como Donga, Sinhô, Caninha, Pixinguinha, Ismael Silva, Heitor dos Prazeres, Cartola e por consequência o público em geral, além da presença das chamadas “tias” baianas como: Ciata, Bebiana, Dadá, Perciliana, Amélia, Mônica, Carmem do Xibuca,Veridiana, Josefa Rica e tantas outras, que eram as guardiãs da cultura popular e tinham suas barracas e tabuleiros de doces e quitutes na festa.

Heitor dos Prazeres. Foto: Reprodução

Essa história cultural se mantém viva até hoje com o mesmo encanto, no mês de outubro, sob a batuta do Padre Thiago Sardinha, um amante do samba. Esse enredo histórico virou trilha sonora, o tema musical de meu curta-metragem “Lalu de Ouro – O Primeiro Mestre Sala” (2014), um filme que fala sobre a vida de Hilário Jovino Ferreira, o Lalu, que também era frequentador da Festa da Penha com sua xará Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata. Ele foi o precursor da figura do mestre-sala nas escolas de samba e também o primeiro a tirar o seu rancho dos desfiles do “ Dia de Reis” e passar a desfilar no carnaval, sendo seguido pelos outros ranchos e posteriormente pelas escolas de samba.

O filme “ Lalu de Ouro” foi classificado, em 2015, no Festival de Cinema de Lisboa como inclusão social, para ser exibido em nove países de língua portuguesa.

Becca Lopes e Preto Jóia. Foto: Arquivo pessoal

Preto Joia, um partideiro de fé, fruto da região da Leopoldina, gravou o tema musical do filme, um samba de minha autoria, Becca Lopes, com arranjos de Pedro Miguel e participação especial dos músicos Jorge Sant’Anna Junior, Jorge Fornalha e os vocais de Henrique César, Nanci Venerotti e Leila.

Pedindo licença, a essa legião consagrada de sambistas que fizeram daquele penhasco um espaço para encontro de compositores, com muito respeito e gratidão…

Dá licença!

Venha ser feliz na Festa da Penha.

Becca Lopes. Foto: Arquivo pessoal

BECCA Lopes – Fotojornalista, especialista em produção e roteiro para TV, produtor cinematográfico; músico profissional, autor de “Na Festa da Penha” e compositor do GRES Imperatriz Leopoldinense; autor  do premiado documentário “Tapuias e Abaunas na Terra da Luz” (2012) e de “Lalu de Ouro, O Primeiro Mestre-Sala” (2014),  entre outros curta-metragem.

 

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