O samba se consagrou na Festa da Penha, por Eliane Santos de Souza
Por Becca Lopes
Onde foi que o samba nasceu eu não sei, só sei que ele foi consagrado na Festa da Penha. Isto porque, segundo um depoimento registrado pelo grande compositor sambista Heitor dos Prazeres: “Naquele tempo não tinha rádio, a gente lançava a música na Festa da Penha. Eu só fiquei conhecido a partir da Festa da Penha”.
O primeiro disco brasileiro foi gravado em 1902, por Manoel Pedro dos Santos, o cantor Bahiano, o Lundu “Isto é Bom” de Xisto da Bahia, porém, considerando o fato de que o rádio chegou ao Brasil nos anos 1920 e se expandiu na década seguinte, a Festa da Penha foi, sem dúvidas, o principal canal de divulgação do samba e do sambista, então, o samba que agradasse nessa festa, fatalmente faria sucesso no carnaval seguinte. Portanto, a Festa da Penha era um acontecimento que atraia os músicos da época como Donga, Sinhô, Caninha, Pixinguinha, Ismael Silva, Heitor dos Prazeres, Cartola e por consequência o público em geral, além da presença das chamadas “tias” baianas como: Ciata, Bebiana, Dadá, Perciliana, Amélia, Mônica, Carmem do Xibuca,Veridiana, Josefa Rica e tantas outras, que eram as guardiãs da cultura popular e tinham suas barracas e tabuleiros de doces e quitutes na festa.
Essa história cultural se mantém viva até hoje com o mesmo encanto, no mês de outubro, sob a batuta do Padre Thiago Sardinha, um amante do samba. Esse enredo histórico virou trilha sonora, o tema musical de meu curta-metragem “Lalu de Ouro – O Primeiro Mestre Sala” (2014), um filme que fala sobre a vida de Hilário Jovino Ferreira, o Lalu, que também era frequentador da Festa da Penha com sua xará Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata. Ele foi o precursor da figura do mestre-sala nas escolas de samba e também o primeiro a tirar o seu rancho dos desfiles do “ Dia de Reis” e passar a desfilar no carnaval, sendo seguido pelos outros ranchos e posteriormente pelas escolas de samba.
O filme “ Lalu de Ouro” foi classificado, em 2015, no Festival de Cinema de Lisboa como inclusão social, para ser exibido em nove países de língua portuguesa.
Preto Joia, um partideiro de fé, fruto da região da Leopoldina, gravou o tema musical do filme, um samba de minha autoria, Becca Lopes, com arranjos de Pedro Miguel e participação especial dos músicos Jorge Sant’Anna Junior, Jorge Fornalha e os vocais de Henrique César, Nanci Venerotti e Leila.
Pedindo licença, a essa legião consagrada de sambistas que fizeram daquele penhasco um espaço para encontro de compositores, com muito respeito e gratidão…
Dá licença!
Venha ser feliz na Festa da Penha.
BECCA Lopes – Fotojornalista, especialista em produção e roteiro para TV, produtor cinematográfico; músico profissional, autor de “Na Festa da Penha” e compositor do GRES Imperatriz Leopoldinense; autor do premiado documentário “Tapuias e Abaunas na Terra da Luz” (2012) e de “Lalu de Ouro, O Primeiro Mestre-Sala” (2014), entre outros curta-metragem.
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