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Pedro Figueiredo; um privilégio que só o subúrbio pode proporcionar

Pedro Figueiredo. Foto: Nobres Casais

Pedro Figueiredo. Foto: Nobres Casais

Hoje trago para os leitores do SRzd a história de mais um mestre-sala do nosso Carnaval; Pedro Figueiredo

“Minha história no mundo do Carnaval começou por conta de um privilégio que só o subúrbio pode proporcionar: o convívio com lendas e grandes mestres da história das escolas de samba. Em Quintino, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, cresci sendo vizinho do meu padrinho, Ary do Cavaco, compositor multi-campeão da Portela, e quem dá nome a Ala de Compositores da azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira.

Sempre que me via, e minha irmã mais nova, Paula Campos, saindo para ir para à escola, o poeta falava da janela; ‘vocês parecem um casal de mestre-sala e porta-bandeira, um dia vou levar vocês pra Portela’.

A diferença de idade, entre eu e Paula, é de apenas um ano e meio e sempre tivemos, mais ou menos, a mesma altura. O que reforçava aquela visão de casal.

O fato é que foram anos de convívio com Ary, ouvindo seus sambas e suas histórias sobre a Portela. Certa sexta-feira, ele me chamou em sua varanda e disse: ‘Separe uma calça social, peça a Paula para vestir uma saia. Amanhã vou levar vocês para a Portela’.

Ary era amigo de mestre Waldir Galo, responsável pelo Madureira toca, canta e dança, que forma, na quadra da Portela, casais de mestre-sala e porta-bandeira. E já havia avisado ao mestre Galo que, eventualmente, nos levaria para aprender.

E foi assim, pelas mãos do presidente da Ala de Compositores da Portela, que cheguei ao Portelão para aprender a arte que mudaria minha vida. Tive aulas com Charles Eucy, Marcelinho Pessoa, Rosilane Queiroz, Alessandra Bessa e Diego Falcão. Um sonho construído sob os olhares atentos da águia altaneira.

Em paralelo ao projeto do mestre Galo, assumi o primeiro pavilhão de uma agremiação carnavalesca. O Alegria de Quintino, bloco apadrinhado por Ary do Cavaco. Foi o primeiro a me dar a oportunidade de defender uma bandeira. Isso aconteceu em 2007.

No Engenho de Dentro, na quadra do Arranco, havia, regularmente, um famoso encontro de blocos da região. O Alegria de Quintino era sempre convidado e eu, como mestre-sala, ia para me apresentar.

Nessas idas à quadra do Arranco, surgiu o convite para ser mestre-sala mirim da agremiação e, em 2008, estreei na Marquês de Sapucaí como mestre-sala. No mesmo ano, fui primeiro mestre-sala da escola mirim Golfinhos de Guanabara.

No Arranco eu aprendi como funciona a rotina de uma agremiação, as dinâmicas entre os segmentos e hierarquia. Em resumo, o falcão do Engenho de Dentro foi uma verdadeira escola.

Em 2009, fui promovido a 2º mestre-sala, cargo que ocupei até o Carnaval de 2010. Está foi a minha primeira passagem pela escola.

Nos anos de 2010 e 2011, fui segundo mestre-sala da Em Cima da Hora. Em 2012, fui promovido a primeiro mestre-sala da Em Cima da Hora. Era a primeira vez que eu assumia essa responsabilidade. Defendi o primeiro pavilhão da azul e branco de Cavalcanti, em 2012 e 2013, tendo obtido todas as notas 10 dos julgadores em ambos os anos. O desfile de 2013 foi muito especial, pois a Em Cima da Hora foi campeã e conquistou o direito de retornar à Marques de Sapucaí.

Em 2015, retorno ao Arranco do Engenho de Dentro, agora como primeiro mestre-sala. Defendi o primeiro pavilhão da azul e branco nos anos de 2015, 2016 e 2017.

Pedro na Arranco do Engenho de Dentro. Foto: Eduardo Hollanda

Em 2018 e 2019, fui primeiro mestre-sala da União de Jacarepaguá. Tendo, em 2019, sido campeão com a verdade e branca.

Em 2020, de uma dissidência da União de Jacarepaguá, surgiu o A.R.E.S. Novo Império. Escola que defendi o primeiro pavilhão, neste mesmo ano.

Em 2022, fiz minha estreia como primeiro mestre-sala do Arrastão de Cascadura, conquistando o terceiro título da minha trajetória. Neste mesmo ano, passei a integrar o quadro de casais da Unidos do Porto da Pedra, desfilando como terceiro mestre-sala. Atualmente, sou o defensor do segundo pavilhão da vermelho e branca de São Gonçalo. Defendo, também, o pavilhão da novata Império da Zona Norte.

Em 2022, na Arrastão de Cascadura e na Porto da Pedra. Foto: (1) … (2) Nobres Casais

Uma experiência, que muito me é cara, foi o fato de ter integrado a ala de casas de mestre-sala e porta-bandeira da Mangueira, comandada por Mestre Adilson, em 2010.

Em paralelo com a carreira de mestre-sala, idealizei e fundei, junto com alguns amigos, o Grupo Nobres Casais. Esta instituição é voltada a preservação, divulgação e valorização dos casais de mestre-sala e porta-bandeira do estado do Rio de Janeiro. Em 2019, este trabalho foi reconhecido com o prêmio Samba-Net”.

Eliane Santos de Souza é professora e pesquisadora do tema: dança, dança do samba, bailado do mestre-sala e porta-bandeira. Lecionou, como substituta, no curso de Bacharelado em Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ. É Doutora em Arte pelo PPARTES-UERJ com a tese: Daqui de onde te vejo: reflexões de uma porta-bandeira sobre o mestre-sala, com publicação em formato de livro com o mesmo título. É Mestre em Ciência da Arte- UFF com a dissertação: Uma semiologia do samba: O bailado do mestre-sala e da porta-bandeira. Ainda é especialista em Educação pela Universidade Federal Fluminense, Docente do Ensino Fundamental e especializada em Educação Infantil. Porta-bandeira aposentada, é apoio, orientadora e apresentadora de casais. Foi membro de comissões julgadoras do quesito mestre-sala e porta-bandeira, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, São Paulo e Uruguaiana.

Crédito das fotos: Nobres casais
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

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