Carnaval/RJ

Notícias atualizadas sobre o Carnaval do Rio de Janeiro.

Entre o popular e o erudito, por Vera Aragão – Capítulo 3

Quadro Primeira Missa no Brasil. Foto: Reprodução

Capítulo 3 – A origem de algumas danças folclóricas brasileiras

+ Capítulo 1 – Inventando a tradição?

+ Capítulo 2 – Como surgiram o ballet e o Carnaval

As primeiras tentativas de colonização dos nativos da Terra de Santa Cruz, deixaram claro para os portugueses a necessidade da educação jesuítica, a fim de mostrar aos indígenas os valores da nova civilização. Temos conhecimento de várias apresentações de grupos de meninos índios e portugueses em procissões de característica simultaneamente religiosa e profana, festas que procuravam aproximar as diversidades étnicas e socioculturais da colônia e talvez fossem mais do que a imposição europeia da religião católica, mas a semente de um diálogo híbrido entre as culturas que aqui conviviam.

O pesquisador de carnaval Felipe Ferreira cita que, em 1583, o padre-geral dos jesuítas e o governador-geral Salvador de Sá organizaram uma festa em honra a São Sebastião, onde meninos índios cantavam e dançavam, encenando um combate e uma procissão. Também Eduardo Sucena registra diversas festas religiosas, bodas, eventos comemorativos e, dentre eles, um “Triunfo eucarístico” do ano de 1733, “como se aproximando, guardadas as devidas proporções, do balé dos nossos dias”.

Assim, as danças mouriscas que nos chegaram da Europa e que constituíam a primeira entrada do espetáculo renascentista chamado ballet, tornaram-se obrigatórias nas nossas manifestações populares e, mesmo transformadas, guardaram traços bastante evidentes de sua origem nobre – como as antigas contradanças, quadrilhas e demais danças das cortes europeias – instituindo nossa tradição.

Cabe citar que, de nacionalidade inglesa, a contradança – countrydance, – é de origem popular e não de corte. O gênero foi introduzido na França, no fim do século XVII, quando os grandes maestros de dança se apropriavam de danças populares, faziam adaptações coreográficas e introduziam-nas nos salões, com arranjos musicais mais adequados aos instrumentos eruditos. No Brasil o termo contradança era usado, principalmente no sul de Minas e no Rio Grande do Sul, para um tipo de dança campestre, de pares dispostos em fila; mas, nos salões do século XIX, tudo indica que a popular/aristocrática contradança inglesa, posteriormente a aristocrática contredanse francesa, se chamou quadrilha .

É interessante mencionar ainda a riqueza que a influência africana conferiu às nossas danças: remetendo aos terreiros africanos, algumas incluíram movimentos ondulantes do tronco, ombros e pélvis; outras, de cunho religioso, dispunham os pares em duas filas – como as mouriscas – representando, como a procissão de São Gonçalo, a corte do rei do Congo.

Nesse ponto, uma indagação: o ballet tem sido, ao longo de décadas, apontado como uma dança europeia, importada e que nada tem a ver com a nossa tradição. Para acatar tal premissa, temos que partir do que anteriormente já falamos, isto é, do que seja tradição, pois, curiosamente, nem o carnaval nem as danças populares brasileiras sofrem tal questionamento, sendo reconhecidos por todos como genuinamente nacionais. Serão mesmo?

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