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Dodô da Portela, uma narrativa biográfica

Por Angélica Ferrarez

A saudosa porta bandeira tia Dodô da Portela despertou em mim toda minha ancestralidade desde meu primeiro encontro com ela no ano de 2012. Tive pouco tempo de convívio já que ela faleceu em 2015 aos 97 anos, mas o suficiente para entender que tinha um compromisso com sua passagem no Aye. Atualmente estou escrevendo a narrativa biográfica dela através do conceito de biografema de Roland Barthes como tese no programa de História Política da UERJ. Partindo do método de narrativa onde não há apenas um sujeito discursivo, um narrador biógrafo, pois no biografema o espaço narrativo só é possível se houver dialogia, onde as múltiplas vozes saberes se cruzam, caminhando da parte para o todo, por isto ao contar a história de tia Dodô vamos ao encontro da história social das mulheres negras.

Para isso selecionei três momentos emblemáticos da vida de tia Dodô no que chamo as três interfaces do biografema. Primeiro busco refletir no início do século XX o movimento de Migrações de Mulheres Negras com a chegada da mãe de tia Dodô e seus filhos, vindos de Barra Mansa, no momento em que o Vale do Café entra em decadência para morar no Morro da Providência, na Zona Portuária do Rio de Janeiro.

Dodô da Portela. Foto: Wigder Frota

Num segundo momento quando tia Dodô aos 13 anos consegue se empregar numa fábrica de cartonagem no vizinho bairro da Saúde, busco refletir quem era a mão de obra das fábricas de início do século XX com as Operárias do Samba, já que foi ali que ela descobriu o samba e começou a sonhar com a quadra da escola de samba, Portela. Aqui trabalho e samba se cruzam e o movimento operário feminino ganha as quadras das escolas de samba.

E na terceira interface do biografema é quando vou analisar patrimônio, objetos materiais e produção de memória me perguntando “E quando o acervo é samba?” Tia Dodô no final de sua vida consegue realizar um antigo sonho que é transformar sua casa num museu na favela, mas com sua morte sua casa é pilhada e fechada. Em A memória em disputa é quando entramos num tema muito caro ao universo do samba, refletindo preservação de bens materiais, interesse público por essa fonte de memória e qual o próprio valor tem o povo do samba de seu patrimônio.

É um trabalho sobre memória, linguagem e poder, onde poder contar nossas histórias na primeira pessoa do plural é um ato político e autêntico que nasce desse movimento de ocupação dos espaços e dos instrumentos de poder por mulheres negras.

Sobre a autora

Angélica Ferrarez de Almeida
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Politica da UERJ
Mestre em História Social – PUC-Rio
Graduada em História – UERJ

Eliane Santos de Souza

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