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De olho nas justificativas de casal de mestre-sala e porta-bandeira, por Eliane Santos de Souza

Marcella e Sidclei, casal do Salgueiro, venceram o Prêmio SRzd Carnaval 2019 na categoria e conseguiram a nota máxima na apuração do Grupo Especial. Foto: Leandro Milton/SRzd

No dia do desfile, na Passarela do Samba, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira desfila com a incumbência de assegurar trinta pontos para sua agremiação. Esta é a sua sagrada tarefa. Naquele momento sublime, o par de sambista cumpre seu ritual dançando o samba de forma diferenciada dos outros componentes da escola: ao som de um ritmo batucado, não sapateiam e nem requebram. Eles bailam.

Naquele instante mágico, confirmam a coreografia ancestral, que desde 1946 é submetida aos julgadores dos desfiles das escolas de samba. Sabemos que a preservação da coreografia do bailado do mestre-sala e da porta-bandeira é um fazer de grande importância para o sambista. O bailado é uma das formas de se dançar o samba, com a peculiaridade de realizar com fluência, garbo e leveza passos e gestos, de exibir os movimentos que se tornaram obrigatórios desde a década de 30. Releituras são aplaudidas, novidades e inclusão de gestos e passos de outras modalidades de dança são bem apreciadas, quando não modificam a coreografia.

José Roberto e Alcione, casal da Estácio de Sá, venceram o Prêmio SRzd Carnaval 2019 na categoria e conseguiram a nota máxima na apuração da Série A. Foto: Leandro Milton/SRzd

Em relação ao julgamento, as exigências contidas nos documentos oficiais conduzem a forma pela qual os julgadores avaliam a exibição do par. E as justificativas que acompanham as notas, trazem importantes dicas para o aperfeiçoamento da forma de dançar do casal. Evidenciam-se nas justificativas, nos comentários gerais dos julgadores, o respeito e a reverência destes em relação a presença, a importância e a responsabilidade que um casal de mestre-sala e porta-bandeira possui no contexto da escola de samba.

As justificativas apresentadas pelos julgadores do quesito mestre-sala e porta-bandeira em 2019 destacaram que em relação a Porta-Bandeira, os problemas com ou na indumentária da dançarina causaram perda de pontos. No entanto, as justificativas também revelaram que aconteceram falhas na realização de movimentos obrigatórios, em especial na realização de giros, assim como nas finalizações dos movimentos e em relação a sintonia. Nas justificativas, também ficou anunciado que movimentos de outras danças alteraram o bailado e que, movimentação e gestual alheios à coreografia, causaram estranheza; destacou-se a observação de que andar não é dançar; da mesma forma que não foi considerado o uso de mímica para representar o tema enredo; outro ponto em destaque foi o fato de terem sido vistas bandeiras enrolando no mastro, não abrindo plenamente ou tocando no mestre-sala.

Casal do Império Serrano sofreu com chuva e vento e a porta-bandeira teve dificuldades para manter esticado o pavilhão. Foto: Leandro Milton/SRzd

Quanto ao Mestre-Sala, as justificativas se reportaram a falhas nos movimentos obrigatórios, nos movimentos de pernas e na sincronização. Também foi evidenciado o prejuízo que a indumentária causou na realização da dança, assim como a falta de coerência entre a indumentária descrita no documento enviado ao julgador pela escola e a apresentada em desfile; houve uma sinalização de prejuízo da dança por aplicação de muitas técnicas, e ficaram em destaque, igualmente, a realização de movimentos bruscos e sem leveza, a falha nas terminações e finalizações de movimentos e a falta de sedução (cortejo).

Capa do mestre-sala da Imperatriz fez o casal perder ponto no quesito. Foto: Leandro Milton/SRzd

Em relação a sintonia do casal, as justificativas anunciaram falha na execução de movimentos e gestos bruscos. A quebra de elegância também foi motivo para penalização do par, assim como o desiquilíbrio no ritmo dos movimentos (rapidez e lentidão) e o exagero no emprego de técnicas com prejuízo da naturalidade na execução do bailado. Foi destacada a falta de sintonia e a pouca exploração do espaço cênico. E, da mesma forma, a quebra na dinâmica da coreografia do par, pelas inserções de novidades e gestos alheios ao bailado que, impostos pelo enredo, promoveram modificações da dança.

Algumas interferências foram mencionadas como obstáculo para a plena realização do bailado do casal, como a chuva. O gigantismo da saia ou a saia alta ou as plumas da saia soltas. Em relação a performance do par, uma interferência citada nas justificativas, foi o engessamento do bailado.

Passos realizados pelo casal da São Clemente foram penalizados pelo júri. Foto: Juliana Dias/SRzd

Esta coluna é dedicada a Vera Lúcia Rezende.

Ela voou.

Foi embora como uma borboleta, leve e linda.

Nossa convivência foi curta. Todavia, ela me fez relembrar o que é solidariedade, carinho e cuidado com o outro.

Vera me possibilitou ver uma nova forma de se portar uma bandeira, ao defender, com um vigor aliado a extrema delicadeza, a cores do SRzd.

Simplicidade e elegância. Garbo e cortesia. Uma linda porta-bandeira, dessas que, ao desfilar pela Avenida de um coração, riscam uma suave poesia deixando um eterno encantamento.

Seu respeito pelo samba e pelo carnaval me obrigou a olhar com mais entusiasmo a festa.

Gratidão, minha querida Vera!

Vera Rezende, ex-diretora do SRzd, nos ensaios técnicos para o Carnaval 2019. Foto: Arquivo pessoal

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