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E o samba de Niterói… Deixa falar!

Ismael Silva. Foto: Acervo da Prefeitura de Niterói

Saudações amigos do samba e do Carnaval!

As escolas de samba, em sua maioria já estão divulgando seus enredos para 2024 e, em breve, estaremos aqui, passeando juntos por cada sinopse apresentada.

Hoje, vamos viajar na história e voltar ao ano de 1928, na região da Cidade do Rio de Janeiro conhecida como Estácio de Sá, apelidada carinhosamente como “O Berço do Samba”. Foi lá, que em 12 de agosto de 1928, foi fundada aquela que ficaria conhecida como a primeira escola de samba: a Deixa Falar.

Um grupo de “bambas”, liderados por Ismael Silva, fundou a célula original formadora das futuras Escolas de Sambas. O leitor que está aí lendo vai com certeza refutar! Como assim? Se tivemos agora, em 2023, a comemoração do centenário da Portela.

Deixa explicar! A Portela marca como início da sua história a fundação do “Bloco das Baianinhas”, que foi no ano de 1923. A Águia de Madureira vai receber o nome de Portela, como é mundialmente conhecida, somente nos preparativos para o desfile de 1935. Mas isso, é uma outra história… Vamos retornar a conversa sobre o celebre Ismael Silva e a “Turma de Bambas do Estácio”.

Reunidos em 12 de agosto de 1928 para criar algo que diferenciasse dos tradicionais “Blocos Carnavalescos”, que eram muito perseguidos pelas autoridades públicas, estes jovens e revolucionários compositores pretendiam melhorar as relações dos sambistas com a polícia, já que, sem autorização policial, não tinham o direito de promover rodas de samba, nem de desfilar.

O preconceito era grande aos sambistas e aos Blocos por eles organizados, e essa manifestação do povo preto carioca era vista como “incivilizada” pelo poder dominante. Os Blocos Carnavalescos tinham a fama de causar brigas, arruaças e muita quebradeira, e saiam às ruas sem o consentimento de acessar o espaço público urbano, pois a licença para isso era sempre negada. Pensando nisso, a Turma do Estácio vislumbrou a criação de algo diferenciado, algo que pudesse quebrar esse preconceito e, enfim, obter a famosa “licença”. Para isso, foram buscar inspiração no “Ranchos Carnavalescos”, manifestação muito popular na época, onde contava com o apoio e a permissão legal para desfilar no Carnaval.

O termo “Escola de samba” foi ideia de Ismael Silva, pois no Estácio havia uma “Escola Normal” que formava professores. Segundo Ismael,  os verdadeiros “professores do samba” eram da turma do Estácio e quando os sambistas da Mangueira ou de Madureira se gabavam de sua superioridade musical, o Professor Ismael só ensinava: “Deixa falar”. Assim, nasceu o nome da primeira escola de samba.

Os bambas do Estácio não trouxeram apenas o nome “Escola de Samba” como novidade. Seus sambistas, que incluíam lendas como Bide, Marçal e Brancura, introduziram a cuíca no samba e criaram o surdo de marcação. Ismael Silva foi responsável pela aceleração da cadência do ritmo mais popular do Brasil, para que os desfiles de Carnaval ficassem mais animados, nascendo então o “bum bum paticumbum prucurundum”.

Então, nós amantes do carnaval das Escolas de Samba, precisamos render nossa homenagem a esse niteroiense, nascido no bairro de Jurujuba, por essa genial ideia. Obrigado Ismael Silva!

Desde então, Niterói presenteia o Universo do Carnaval com excelentes intérpretes, compositores, carnavalescos, personalidades e, porque não dizer, escolas de samba, pois afinal, não podemos esquecer de saudar e homenagear Unidos do Viradouro, Acadêmicos do Cubango e Acadêmicos do Sossego (hoje Acadêmicos de Niterói).

E como anda o Carnaval de lá? Vocês sabiam que Niterói já teve o segundo melhor Carnaval do país? Verdade amigos, o carnaval de rua da cidade era incrível, sem falar nos desfiles de escolas de samba. Quantas saudades deixaram! Constatamos isso hoje, na força das agremiações que desfilam na cidade do Rio de Janeiro. Possuíam escolas de sambas com nomes lindos e sugestivos, como por exemplo: Corações Unidos e Combinados do Amor, em minha humilde opinião, nomes fantásticos para uma agremiação.

Mas infelizmente, por péssimas gestões públicas, essa Festa foi abandonada, chegando ao seu fim. O segundo maior carnaval do Brasil foi deixado a própria sorte, ou melhor, a própria morte, pelos gestores públicos! Sabemos bem o que é isso, não amigos? Basta recordar do “Bispo” como prefeito, não podemos nunca esquecer!

Mas como diz o ditado popular: “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe…” Boas notícias chegam do lado de lá, na realidade, as últimas gestões públicas têm dado uma especial atenção a essa festa, que volta a florescer pelas ruas e “avenida dos desfiles”. Recomeçar é sempre difícil, mas o povo de Niterói tem em seu DNA o amor ao samba e ao Carnaval.

Nesse ano de 2023, fui convidado pela Neltur, empresa de turismo da cidade, para participar como julgador no seu desfile das escolas de samba. Numa jogada de pura inteligência dos gestores, ao meu ver, foi mudada a data das apresentações. Sua realização ocorreu uma semana após o desfile oficial da cidade do Rio de Janeiro, fato esse, que me deu, inclusive, a chance de participar.

Foi ótimo ver as escolas de samba com pujança e garra, se reorganizando para voltarem a ocupar seu lugar de direito nessa festa. Todo início sabemos que é difícil, mas o maravilhoso é ver o carinho com que o poder público tratou o evento. Instalações da melhor qualidade e conforto foram montadas ali no Caminho Niemeyer, para o público. E tudo isso no famoso 0800!

O melhor foi descobrir que existem projetos de construção para sua Cidade do Samba e da Passarela do Samba! Fiquei emocionado, afinal esse que vos escreve, nasceu em Niterói, no Bairro do Barreto, na famosa Rua Dr. March, onde o carnaval de rua era fantástico.

Pra finalizar, participei no sábado, dia 15 de abril, da entrega do Prêmio Radar aos melhores do Carnaval de Niterói de 2023. Festa linda, que contou com a presença de todas as representações das escolas de samba. Todos felizes e motivados em ter sua festa de volta. Fui convidado para participar como Palestrante, da mesa de debates “Carnaval de Niterói Hoje” e tive a companhia do vereador Anderson Pipico e do diretor da Neltur, Eduardo Medeiros. O debate teve como moderador o Coordenador do Prêmio Radar, João Perigo.

Nesse debate, o vereador, que é um apaixonado pela festa e um grande incentivador, confirmou para todos que os projetos da Cidade do Samba e do Museu do Carnaval já estão prontos para sairem do papel. E que realmente existe essa conversa para, num futuro próximo, construir a Passarela do Samba! Mais uma vez fiquei emocionado, ver o renascer de uma festa que a gente ama tanto. Parabéns a todos os envolvidos, Niterói merece e nós também!

Deixo aqui uma sugestão aos organizadores para o Carnaval de 2024; não façam uma semana após, façam sim, uma semana antes, onde as duas cidades estarão lotadas de turistas, ávidos em ver e participar de uma festa como essa. Mantenham começando na sexta e terminando sábado, assim, pegará todo esse clima mágico carnavalesco em ebulição. Seria espetacular! Salve Niterói! Salve as Escolas de Samba! Salve Ismael Silva! Salve o Carnaval!

Jaime Cezário é arquiteto urbanista, carnavalesco, professor e pesquisador de Carnaval.

Começou sua carreira como carnavalesco no ano de 1993, no Engenho da Rainha. Atuou em diversas escolas de samba do Rio de Janeiro, entre elas, a Estação Primeira de Mangueira, São Clemente, Caprichosos de Pilares, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Cubango, Leão de Nova Iguaçu e Unidos do Porto da Pedra. Fora do Rio, foi carnavalesco da Rouxinóis, da cidade de Uruguaiana, e União da Ilha da Magia, de Florianópolis.

Em 2007 e 2008 elaborou o trabalho de pesquisa que permitiu a declaração das escolas de samba que desfilam na cidade do Rio de Janeiro como Patrimônio Cultural Carioca, junto da Prefeitura do Rio de Janeiro e do IRPH, o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

Em 2013, a fantasia da ala das baianas – criada por Jaime para o Carnaval de 2012 para a Acadêmicos do Cubango –, entrou para o acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Iowa, no EUA.

Essa fantasia está exposta no setor dedicado as festas folclóricas da América Latina e representa o Carnaval das escolas de samba do Brasil. Esse feito fez de Jaime o primeiro carnavalesco a ter uma obra exposta em acervo permanente num museu internacional.

Crédito das fotos: divulgação
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

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