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Com Bruna Surfistinha e tudo

Que roteiro daria esses 200 dias com peso de anos?

A cinebiografia de Bruna Surfistinha pode ser acusada de qualquer coisa, menos de ser ativista. A trama conta a história de uma menina da classe média paulista que se torna prostituta e vive os altos e baixos de uma profissão marginalizada. Para quem já revelou preferir um filho morto a homossexual, trata-se de um filme sem maiores perigos. O ativismo, neste caso, parte do acusador.

Bolsonaro diz defender os valores familiares, algo tão difuso quanto complexo. Há famílias que defendem o livre acesso à cultura, educação e à boa formação humanista. Há outras que defendem ações de milicianos em áreas carentes e homenageiam este tipo de gente, com condecorações e nomeações em gabinetes. Há quem pegue a mão de uma criança para protegê-la ou como forma de carinho; há outros que modelam na mão inocente o símbolo de uma arma de fogo.

Existem os que defendem a liberdade de expressão e outros, como o presidente, que tentam domá-la. Sem se ater à grandeza do cargo que ocupa, Bolsonaro expõe, cada dia mais, a crueza de um pensamento retrógrado e pouco democrático. O deputado ocioso do baixo clero (expressão que pego emprestada de Cora Rónai) faz-se presente sem pudor algum. E tende a piorar.

Que roteiro daria esses 200 dias com peso de anos? No caos despudorado de um governo em eterna crise, Bruna Surfistinha surgiria como a heroína da chanchada, combatendo a hipocrisia e o dissabor de um hambúrguer frito com tempero de nepotismo. E quem sabe revelasse as mazelas de um pai que nunca soube dar limites aos filhos.

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