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Um colorido verde e amarelo no Deserto do Atacama

Brasileiros no Atacama. Foto: Arquivo pessoal

Vamos imaginar um casal carioca, suingue e sangue bom, acostumados ao sol ao céu e ao mar deste Rio 40 graus. Mas que, no vai e vem dessa vida louca vida, resolve jogar para o alto aquilo pelo que lutavam e o que conquistaram no Brasil, partindo para uma aventura… no Deserto do Atacama, no Chile. Historinha? Minissérie? Novela? Reality show? Nada disso. Reality, sim, mas sem show e com muita ralação, porque é à vera. É a história de vida de Carla e Renato, hoje os os maiores empreendedores na área de turismo no deserto e nômades – no Atacama e agora também em outros destinos do Chile.

Lá no Atacama o casal está recebendo mais de 200 brasileiros por mês e fizeram o nome em menos de um ano. Além disso, empregam nove pessoas no Brasil e no Chile. Por aqui, os dois tinham vidas típicas de jovens de classe media e resolveram fazer mestrado na Coppead, na UFRJ, considerada a melhor escola de negócios da América Latina. Ali eles se conheceram, e Carla passou a sonhar mais alto depois de largar o emprego numa assessoria de imprensa. Quis ser livre, despojada de tudo, e passou a viajar. Desde 2013, ela já publicava o blog “Fui, Gostei, Contei”, o que a ajudou a manter o sonho de viajar, mesmo com grana curta. Foi passar uma temporada na Europa, e nesse período acabou ganhando dois concursos internacionais, sendo um do turismo espanhol e outro para conhecer Kerala, na Índia (apenas ela e outra brasileira foram representando o Brasil, entre 30 blogueiros do mundo todo).

Daí não quis parar mais. Conseguiu terminar os últimos seis meses do mestrado na Croácia depois de passar por uma prova dificílima. Aproveitou para ir antes e rodar alguns países e passando alguns perrengues, como pular de bungee jump e quebrar o braço em três lugares já na véspera de começar as aulas na Croácia. Não bastando isso, contraiu uma infecção gravíssima nos rins e ficou internada no hospital por uma semana. Não contou isso a ninguém da família, e chegou a pedir ajuda do Consulado Brasileiro na Croácia, pois estava sozinha no país.

Nem assim desistiu da viagem. Recuperou-se e seguiu os estudos. E sempre que tinha oportunidade saía para conhecer outros países, e com isso o blog foi crescendo cada vez mais e no mundo inteiro. Depois de vir embora de volta ao Rio para defender a tese dela (com louvor), trabalhou nas Olimpíadas, onde juntou mais uma graninha e saiu para viajar pela África. Quando a grana acabou, soube por um amigo que no deserto do Atacama havia oportunidade de emprego. Nem pensou duas vezes, comprou passagem só de ida com milhas e embarcou com só 100 dólares no bolso. Antes de embarcar, seu amigo que estava lá sugeriu “Vamos vender os passeios do Atacama no seu blog?” Ela disse que ele estava louco, que quem iria comprar? Acharam melhor deixar a ideia para depois.

No Atacama, o encontro de Carla e Renato

Brasileiros no Atacama. Foto: Arquivo pessoal

No deserto chileno, encontrou Renato, então seu amigo, que tinha saído para dar uma volta ao mundo depois de se decepcionar com seu antigo sócio. Ele tinha uma empresa de Home Care em Sao Paulo, com uma vida bastante confortável e uma renda mensal daquelas. Ao terminar a sociedade pegou o dinheiro que sobrou, comprou um mochilão e saiu para viajar por um ano. Desde então já se passaram mais de 2 anos…

Renato estava trabalhando de guia no Atacama, e tinha acabado de começar a sair com um tour de bike que ele mesmo criou a rota. O dinheiro dele estava super curto, e precisava trabalhar para seguir viajando. Assim que a Carla chegou, ele a ajudou a conseguir trabalho. No início ela também vendia brigadeiro na rua com uma amiga pra fazer mais dinheiro. Nao deram duas semanas, e os dois já estavam morando juntos e planejando viagens pelo restante do ano.

A ideia inicial dos dois era ficar uns poucos meses no deserto e sair para viajar. E assim fizeram. Mas poucos meses depois a grana acabou, de novo, enquanto viajavam já há mais de 40 dias pelo Peru. E para onde voltaram? Sim, ao deserto mais seco do mundo. Novamente com a ideia de ficar só dois meses e voltar pra estrada. Mas eles não tinham nem ideia do que eles ainda iriam construir ali. Sabe aquela ideia inicial do Renato sobre vender os passeios pelo blog? Então…

Renato sempre teve uma mente empreendedora, e em tudo busca a possibilidade de negócios. Carla tinha construído um público enorme com seu blog, e virava referência de Atacama para os brasileiros.

Aos poucos as coisas aconteceram. Cada vez mais gente começava a perguntar a eles dicas, pedindo ajuda no roteiro, recomendação de hospedagem, e até mesmo ajuda pra fechar os passeios. Primeiro eles começaram ajudando amigos, fechando passeios, fazendo roteiro. Carla trabalhava em uma agência de luxo, onde ganhava muito bem, e Renato sempre insistia que ela devia pedir demissão para abrirem seu próprio negócio. Eles estavam juntando dinheiro para isso, até que a Carla precisou enviar todo o dinheiro que tinha juntado para ajudar a família no Brasil. Tinham voltado à estaca zero. A Carla, insegura, tinha medo de largar o emprego “estável” sem ter nenhum centavo guardado. Até que um dia foi demitida. Chegou em casa chorando, e essa deve ter sido a melhor notícia que Renato recebeu nos últimos tempos. Ele vibrava! Ainda em choque, ela contou o acontecido no stories do Instagram, onde tem muitos seguidores. E disse que iria abrir sua própria agência, e toda ajuda seria bem vinda.

Amigos e blogueiros abraçaram a ideia e divulgaram aos seus contatos. E nesse dia mesmo eles viram a oportunidade que tinham em mãos. A própria Carla começou atendendo os clientes por Whatsapp desde a hora em que acordava até ir dormir, enquanto Renato organizava toda a parte operacional da empresa. Isso foi em Dezembro de 2017. Nesse mesmo mês entregaram a casa onde viviam no deserto e compraram um motorhome. Ficaram ainda mais conhecidos como os brasileiros do motorhome no deserto.

As pessoas se identificaram com esse estilo de vida, de duas pessoas que levavam uma vida “normal” no Brasil e um dia saíram pra tentar criar sua própria história e viver sua própria liberdade.

Em seis meses, mil brasileiros no deserto

Ao crescer, a empresa ganhou um nome: Fui Gostei Trips. Nos primeiros 6 meses eles receberam mais de 1.000 brasileiros no deserto. Hoje já são mais de 200 brasileiros por mês… Isso mesmo, por mês! Além do Deserto do Atacama, levam os clientes também ao Salar de Uyuni, na Bolívia. A equipe cresceu e hoje conta com 9 pessoas. No momento estão em fase de testes para começar a vender os passeios de Santiago também (previsão para Outubro), e já têm planos de expandir para o Sul do Chile.

Carla e Renato fizeram revoluções em suas vidas. Carla, que era jornalista e trabalhava numa boa assessoria de imprensa, se tornou empreendora no Chile, empregando brasileiros. Renato abandonou a vida mais que confortável no Brasil para se jogar pelo mundo sem ter ideia do que esperar. Assim, acabou empreendendo mais uma vez. Ambos têm 31 anos, não tiveram medo de se arriscar e serem felizes fazendo o que mais gostam que é viajar, sendo principalmente livres para fazerem o que quiserem.

A amizade e o companheirismo se transformaram em amor e se dividem entre viver no motorhome e viajar. Muita gente adoraria viver a vida deles. Servem, inclusive, de incentivo para as pessoas se aventurarem a conhecerem o mundo sendo livres de amarras e preconceitos.

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