Roger Waters deixa seu recado em showmício no Maracanã

Quando os agentes fecharam as datas para os shows de Roger Waters no Brasil, jamais imaginariam a ebulição que o país estaria vivendo às vésperas das eleições. E como tudo nos dias atuais, os shows acabaram virando um motivo para o povo expor ostensivamente seu posicionamento político. Não foi diferente na apresentação desta quarta-feira (24) no Rio de Janeiro. A galera que levou chuva no lombo do início ao fim da noite aproveitou todas as brechas do show para entoar seus bordões de guerra ou retrucar os gritos contrários. Como vem acontecendo em todos os shows da perna brasileira da turnê “Us + Them”, Roger se posicionou não só através de frases e imagens no telão, mas também ao homenagear Marielle Franco, convidando a família da ex-vereadora para subir ao palco. “Marielle acreditava nos direitos humanos, assim como eu” – declarou o britânico. Muita gente ovacionou, muita gente reclamou. O retrato de uma sociedade partida ao meio.

Como de costume, Roger abusou dos efeitos visuais. O telão era algo jamais visto no Brasil, cobrindo praticamente toda a extensão do gramado do Maracanã, de lateral a lateral. Dividido em duas partes, o setlist misturou os clássicos do Pink Floyd com canções do último disco solo de Roger, “Is This the Life You Really Want?”, lançado em 2017.

No primeiro set entraram os hinos “Time”, “Wish You Were Here” e “Another Brick in the Wall”, esta fechando a primeira metade do show, com a participação de 12 alunos do projeto social EducaGente, de Vicente de Carvalho. Momentos antes deste final apoteótico, três canções do último disco – pouco conhecidas pelo grande público – deram uma esfriada no povo.

No intervalo de pouco mais de 20 minutos, o telão repetia a palavra RESIST e mostrava mensagens de combate ao fascismo, ao racismo e à homofobia. O segundo set teve como cenário as enormes chaminés da usina termelétrica que decora a capa do álbum “Animals”, lançado em 1977. Deste mesmo disco saíram as duas canções que abriram o set: a enorme “Dogs” e “Pigs”, críticas abertas à desigualdade social e ao capitalismo, com direito a uma encenação de quase toda a banda usando máscaras de porcos brindando em um banquete. Roger ergueu duas placas que diziam “Os porcos mandam no mundo” e “Fodam-se os porcos.” O velho porcão inflável também deu suas voltinhas pelos ares do Maraca.

Na reta final do show, uma grande pirâmide de luz é projetada sobre a área reservada à pista vip, com feixes coloridos emulando a capa do histórico álbum “Dark Side of the Moon”, de 1973. Depois da pausa para homenagear Marielle, o bis trouxe “Mother” – com o telão sugerindo o Ele Não – e “Comfortably Numb”

Como costuma fazer por onde passa, Roger deixou sua mensagem. Musicalmente, através de um repertório fantástico executado em arranjos fiéis, além de um som com qualidade impressionante. E politicamente, com seu posicionamento firme na crítica a governantes que a todo o momento apareciam no telão. Trump apanhou um bocado. Acho, inclusive, que a resistência tão pregada durante a noite, deveria começar pela proibição da pista vip nos shows, uma vez que só quem pode pagar um ingresso caríssimo consegue ver todo esse espetáculo de perto e, de quebra, ser coroado com um lindo e mítico prisma sobre suas cabeças.

Parte 1

  1. Speak to Me
  2. Breathe
  3. One of These Days
  4. Time
  5. The Great Gig in the Sky
  6. Welcome to the Machine
  7. Déjà Vu
  8. The Last Refugee
  9. Picture That
  10. Wish You Were Here
  11. The Happiest Day of Your Lives
  12. Another Brick in the Wall Part 2
  13. Another Brick in the Wall Part 3

Parte 2

  1. Dogs
  2. Pigs (Three Different Ones)
  3. Money
  4. Us and Them
  5. Smell the Roses
  6. Brain Damage
  7. Eclipse
  8. Mother
  9. Confortably Numb

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