Carnaval/RJ

Notícias atualizadas sobre o Carnaval do Rio de Janeiro.

Samba-enredo é obra nunca acabada

Capa do CD de sambas-enredo do Grupo Especial para o Carnaval 2018. Foto: Divulgação Liesa.

Viva o samba-enredo!

Tem a versão que vai para a disputa, a que fica gravada no disco e aquela que é construída no momento da avenida. E não termina aí. Pensemos nas regravações que poderão vir e nas nossas apropriações e reconstruções ao cantarolar e batucar estes sambas ao longo do tempo, da vida.

O melhor é perceber que, ano a ano, os sambas-enredo são produzidos em vários cantos do país, fortes, vivos, apesar de muitos que contra eles e contra o samba em geral vociferam.

Ratifico o que escrevi anteriormente aqui no SRzd. Temos uma boa safra de sambas para 2018 no grupo especial carioca. Naquele momento fiz comentários sobre os sambas que ganharam as disputas, a partir dos áudios oferecidos pelas parcerias. Desta vez, minhas análises e avaliações são relativas aos sambas em sua forma gravada no CD de 2018, a versão oficial. E se leram o texto anterior, perceberão que há algumas mudanças nas avaliações hoje realizadas. Vamos lá!

Portela durante gravação para o CD. Foto: Vinicius Albudane.
Portela durante gravação para o CD. Foto: Vinicius Albudane.

Vou citar um primeiro grupo de sambas, aqueles de que mais gostei, lembrando que os critérios são letra, poesia, melodia e tudo o que está no manual do julgador da Liesa. Neste primeiro grupo coloquei os sambas de MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL, PORTELA, BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS E PARAÍSO DO TUIUTI.

A gravação do samba da MOCIDADE só não é perfeita por conta da sua introdução, demasiadamente longa e enfadonha. O samba é um primor, com letra e melodia excelentes, especialmente sua primeira parte que esbanja riqueza, inteligência e inspiração. Ainda destaco o refrão do meio, bonito e de rara melodia. Um sambão. Pra mim, o melhor da safra.

É de emocionar o início da gravação do samba da PORTELA, avante portelenses! E o sentimento permanece por toda obra, creio, por conta da cativante melodia elaborada pelos compositores. O samba, como pede o enredo, nos leva para o ambiente do nordeste brasileiro. A instrumentação com triângulo e sanfona acentua a ambiência, bem como a letra em modo coloquial. Gosto do clima, mas há de se tomar cuidado para que o samba, com as várias repetições ao longo da avenida, não fique arrastado, cansativo. O canto da escola, o andamento da bateria e a divisão imposta pelo intérprete serão fundamentais para que isso não ocorra. Aliás, merece registro a bela interpretação de Gilsinho ao longo de toda a gravação do samba.

O samba da BEIJA-FLOR é outro excelente representante deste grupo dos que julgo como melhores da safra. Com forte conteúdo político, temos uma bonita melodia e letra corretíssima. É uma de minhas apostas para bem funcionar na avenida. Vai emocionar!

E para fechar o lugar nessa prateleira, PARAÍSO DO TUIUTI. Letra excelente, poética, bela melodia. A introdução do samba na gravação me pareceu longa, assim como a da Mocidade. Meu único senão. É mais um samba que arrepia.

Outro grupo de sambas muito bons é daqueles que estão na minha segunda prateleira: ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA E SÃO CLEMENTE.

Gravação da Mangueira para o CD 2018. Foto: Mariana Tupynambá
Gravação da Mangueira para o CD 2018. Foto: Mariana Tupynambá

O excelente samba da MANGUEIRA estava posicionado no que chamei de primeiro grupo, quando do texto anterior que escrevi. No entanto, a gravação oficial ficou abaixo das minhas expectativas, especialmente com relação à tonalidade. O samba perdeu um pouco do seu brilho. Isso pode ser avaliado pela diretoria da escola para o desfile. O samba promete. É forte e sua letra bem construída carrega a crítica que todo o povo do samba deseja ver desfilar na avenida. Por isso ele necessita de mais luz e cor.

O samba da SÃO CLEMENTE é muito bom. Bom de ouvir, bom de cantar. Letra elaborada e bem explicativa do enredo. Melodia bonita, momentos interessantes, como no caso do refrão do meio.

Na minha terceira prateleira de sambas e gravações estão ACADÊMICOS DO SALGUEIRO e da IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE.

Se tivesse que apostar num samba que vai crescer assustadoramente na avenida, diria SALGUEIRO. A introdução com Zezé Mota é perfeita, elegante e certeira, sem exageros.

A IMPERATRIZ também traz um bom samba, mas é preciso estar atento a algumas passagens com sonoridades mais graves que podem prejudicar o canto dos componentes e do público. Arthur Franco, excelente intérprete, vai resolver isso facilmente na avenida. É outra letra de samba que conta muito bem o enredo.

Quarta prateleira, a que chamo dos sambas e gravações corretas, ou seja, que prestam bem seu papel, mas que não sobressaem na relação com os demais.

Não farei comentários mais específicos sobre estes sambas e gravações, pois considero que não há questões relevantes a destacar. Estão aqui os sambas de UNIDOS DE VILA ISABEL, UNIDOS DA TIJUCA, IMPÉRIO SERRANO E UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR. Sobre este último, sim, um destaque, a força da interpretação de Ito Melodia, minha favorita do disco, somada a de Gilsinho com a Portela.

Finalmente, a gravação do samba da escola ACADÊMICOS DO GRANDE RIO. A meu ver, trata-se do samba que mais deixou a desejar no grupo especial do carnaval carioca de 2018. A letra é construída a partir de colagens de frases e títulos pré-concebidos. A melodia é previsível e o conjunto final está muito próximo das marchas carnavalescas. De todo modo, possui forte apelo e pode pegar na avenida.

Os andamentos dos sambas gravados estiveram entre 139 e 146 BPM, ou seja, nada de exageros. Ao final, aproveito para dar os parabéns a todos os músicos envolvidos no projeto, aos mestres e ritmistas das baterias, aos integrantes dos coros, à direção e produção musical. Temos um bom resultado, um bom disco.

Ô sorte!

Facebook: Carlos Fernando Cunha

Twitter: @CarlosFCunha

Instagram: carlosfernandocunha

Site: www.carlosfernandocunha.com.br

 

Comentários

 




    gl