Série da Netflix mostra a ascensão e queda do milionário americano Jeffrey Epstein

MATÉRIA ESCRITA POR VASCO AGUIAR

A mais recente série documental da Netflix, Jeffrey Epstein: Poder e Perversão chegou à plataforma digital no dia 27 de maio e tem provocado discussões sobre os bastidores do poder nos Estados Unidos. Tudo porque esse material aborda a tumultuada vida do milionário norte-americano Jeffrey Epstein, acusado de fazer parte de uma rede de tráfico sexual de mulheres e pedofilia nas últimas três décadas.

A história

Nascido na classe média de Nova York, Epstein começa a carreira profissional através de uma mentira, atuando como professor de Física em um colégio, mas sem diploma universitário. Insatisfeito, decide trabalhar no mercado financeiro de Wall Street, em bancos de investimentos. Ao longo dos anos consegue ganhar a confiança de importantes milionários e torna-se um conhecido gestor de finanças. Em 2019, acumulava o patrimônio de US$ 577 milhões de dólares.

Contudo, a invejável vida do financista tinha um lado obscuro. Denúncias de aliciamento e abuso sexual a dezenas de garotas menores de idade vêm à tona. Em 2008, fazendo uso de seu poder e influência consegue selar um acordo duvidoso com a procuradoria americana. Sendo assim, Jeffrey fica preso por apenas 13 meses, na maior parte em regime semiaberto.

 

Manifestante protesta em frente ao Tribunal Federal de Nova York a favor da acusação contra Epstein por tráfico sexual e pedofilia, em 08/07/2019.
Créditos: Stephanie Keith (GETTY IMAGES)

Caso reaberto

No entanto, em 2018, reportagem de um jornal de Miami examina este acordo e surgem contestações, logo em seguida a justiça o invalida. Epstein, já com 66 anos, era agora acusado de fazer parte de uma rede de tráfico sexual e pedofilia e o caso seria levado ao tribunal. As vítimas finalmente teriam a chance de depor, o que não aconteceu no passado.

Ademais, a narrativa não-linear da série não confunde o público, ao contrário, contribui para o melhor entendimento dos casos relatados, variando entre emoção e suspense. A direção habilidosa de Lisa Bryant faz com que os quatro episódios, em média de 55 minutos cada, coloquem o público a par da intrincada teia de exploração sexual que o milionário faz parte desde os anos 1990. Apesar de contar com uma grande quantidade de entrevistados, o material peca ao não ouvir mais pessoas próximas ao ciclo social de Jeffrey.

Amigos influentes

De forma corajosa, a série apresenta nomes conhecidos que tinham relações próximas a Epstein, como o ex-presidente americano Bill Clinton e o atual Donald Trump, fazendo com que o público se pergunte qual a real ligação destas figuras com o acusado. Porém, a amizade mais polêmica do financista envolve o príncipe britânico Andrew, filho da Rainha Elizabeth II.

Uma testemunha relata ter sido vítima de aliciamento por Jeffrey, que a levou ao herdeiro britânico para que fosse abusada sexualmente. O material da Netflix conta com trechos da entrevista que Andrew concedeu à rede BBC, ele nega todas as alegações. Sobretudo, para evitar mais polêmicas, o príncipe decidiu se afastar de suas funções na realeza.

 

Fim trágico

Assim sendo, com o surgimento de novas denúncias, Epstein foi preso para que não pudesse interferir nas investigações e aguardando julgamento. Em agosto de 2019, um mês após sua prisão, o acusado foi encontrado morto em sua cela, em Manhattan. As circunstâncias apresentadas pela polícia mostram que ele se enforcou com um lençol.

Em contrapartida, a série levanta a hipótese de queima de arquivo, já que a rede de exploração sexual da qual pertencia pode conter diversos poderosos. Sua morte evidencia a bomba relógio prestes a explodir que ele poderia ser quando pressionado no tribunal.

O milionário não teve filhos e deixou uma namorada, a socialite Ghislaine Maxwell. Ela também é acusada por vítimas de ajudá-lo a aliciar garotas menores de idade. Todavia, Ghislaine sempre negou as acusações, mas, continua sendo investigada pela polícia americana.

Por fim, mesmo que não traga novidades sobre as investigações, acompanhar os episódios da série é uma maneira de questionar o funcionamento dos mecanismos públicos. Notamos como na maioria das vezes, os que têm maiores recursos financeiros são privilegiados. Motivo pelo qual Jeffrey Epstein conseguiu por muitos anos não ser levado ao tribunal.

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