Moana: símbolo de empoderamento em meio à desesperança

MATÉRIA ESCRITA POR FERNANDA FERNANDES

Quatro e sete anos. Essas eram as idades de Emily Victória Silva dos Santos e Rebecca Beatriz Rodrigues dos Santos, respectivamente. Idade que tinham quando foram mortas à tiros enquanto brincavam em frente de casa na comunidade Santo Antônio em Duque de Caxias.

Os projéteis atingiram a cabeça de Emily e o coração de Rebecca. E, agora, estão investigando se elas foram mortas por balas perdidas disparadas pela polícia. Embora, testemunhas digam que viram uma viatura nos arredores quando tudo aconteceu.

Foto: Redes Sociais

 

Emily faria 5 anos no dia 23 e seu aniversário teria como tema a princesa Moana da Disney. Ela foi sepultada com o vestido da mesma princesa que usaria na festa de aniversário. Não há um teor trágico em vendermos empoderamento através de entretenimento e mostrarmos que aquela esperança não importa na vida?

Moana: Um Mar de Aventuras é um filme lançado em 2016 pela Disney e dirigido por Ron Clements e John Musker. O filme conta a história de Moana de Motonui, filha do chefe da ilha, que parte em busca de Maui para devolver o coração de Te Fiti à deusa e restaurar o equilíbrio que vinha destruindo todas as ilhas.

Fotos: Divulgação/Disney

Moana (Auli’i Cravalho) é uma princesa destemida, corajosa e auto suficiente, tanto que não há par romântico no longa metragem. Se trata somente da aventura e da força da personagem.

A princesa navega pelo mar, encontra o semideus Maui (Dwayne Johnson) e com ele vai derrotar o Te Ka para devolver o coração de Te Fiti. Dentro dessa narrativa, há uma desconstrução do personagem de Maui com relação às próprias inseguranças e poderes, o que o torna mais sensível e humano. Outro ponto importante é que Te Fiti e Te Ka são o mesmo ser, mostrando que a diferença entre a vida e a destruição da natureza é a ação humana de roubar o coração da ilha.

Além de empoderada, Moana restaura o coração de Te Fiti através do diálogo, ou canto neste caso, e da empatia ao perceber que Te Ka era Te Fiti sem o coração. O que mostra que a saída é sempre a empatia.

O filme recebeu diversas críticas positivas e foi bem recebido pelo público embora, tenha causado controvérsias com algumas representações da cultura polinésia.

Foto: Divulgação/Disney

A principal questão de tudo é que a Moana se tornou uma figura de empoderamento no universo das princesas, trazendo representatividade para muitas meninas, inclusive, Emily e Rebecca.

Mas, qual o nexo de mostrarmos uma Moana para estas crianças e tirarmos a vida delas e de outras no dia seguinte? É como criar esperança no coração de alguém para depois arrancar isso delas num piscar de olhos. Que futuro é este que estamos preparando?

As Moanas da vida real não estão crescendo. Estão sendo mortas, seja literalmente, seja pela morte da esperança. Quando o futuro no entretenimento vai ser compatível com o futuro na realidade? Esperança é preciso, mas para se ter esperança é preciso estar vivo.

 

Comentários

 




    gl