‘Irmandade’: Tudo sobre a necessária nova série brasileira da Netflix

Divulgação Netflix

O certo é o certo. Mas nem todos que vagueiam estão perdidos. Há sempre muito mais além dos que os olhos veem. Mas não é fácil enxergar isso principalmente se formos tentar entender as causas do problema da criminalidade. Até onde tudo é permitido para se combater a violência? E como tudo isso começa? Só a prisão é a solução? Questões que buscam respostas são abordadas na nova série brasileira da Netflix, “Irmandade”.

Com um grande elenco, liderados pelo cantor e ator Seu Jorge (Cidade de Deus, 2002) e pela talentosa Naruna Costa (Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, 2014)  a produção estreia em 25 de outubro num total de oito episódios. Na trama,  os irmãos Edson (Seu Jorge) e Cristina (Naruna Costa), moradores de uma favela de São Paulo, se separam após Edson ser preso ainda muito jovem, na década de 70, por tráfico de drogas.

Vinte anos depois, Cristina é agora uma advogada que anseia por respeito e uma entrada para o Ministério Público. Edson, seu irmão mais velho, preso há 20 anos, se transforma no presídio e lidera uma violenta facção chamada “Irmandade”. Ao contrário do que aparenta, a Irmandade é muito mais do que uma associação de criminosos. Edson e seus comparsas lutam com o intuito de manter os direitos mínimos dos colegas de cárcere e contra a tortura que acontece no local, totalmente ‘legalizada’ e apoiada pelos agentes da lei em diferentes níveis. Cristina acaba tomando conhecimento do fato ao ver uma ficha de seu irmão no MP e decide ajudar.

Ao fazer isso, é presa e coagida pelo detetive de polícia Andrade (Danilo Grangheia, de Hebe: A Estrela do Brasil, 2019) a se infiltrar na organização criminosa liderada pelo irmão em troca de liberdade. Isso lhe traz um envolvimento com esse universo com sérios riscos à própria vida.

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Um espectador mais atento e envolvido com a época pode encontrar diversas semelhanças com a história do Primeiro Comando da Capital (PCC), também criado na década de 1990, como a Irmandade. No entanto, Pedro Morelli, criador e diretor geral da atração, explicou na coletiva de imprensa que nenhum personagem foi inspirado em uma pessoa real.

“A série não é inspirada no PCC. A Irmandade é uma facção criminosa fictícia que criamos a partir de muita pesquisa sobre várias outras reais e de diversas regiões do Brasil. Existem alguns conceitos recorrentes e os usamos na concepção da Irmandade. O ponto em comum é que todas elas nasceram como uma resposta a uma repressão violenta do Estado no sistema carcerário.  Se tivessem condições decentes de vida dentro das prisões desde o começo, talvez isso (o surgimento de facções criminosas) não houvesse acontecido dessa forma. “ 

Pedro Morelli (diretor e autor da série)

De fato, a série toma liberdades para contar essa história mas é inegável que a produção se banhou muito na verdade dos acontecimentos reais. Acontecimentos estes ainda atuais se colocarmos em evidência a estrutura do Estado hoje no combate à violência. A produção, uma parceria O2 com a Netflix, é muito detalhista e primorosa na abordagem do assunto. É possível perceber todos os lados de uma sociedade, principalmente o problema da desigualdade social.

A representatividade racial é outro fator importante da série, uma vez que grande parte do elenco é formado por atores negros ou pardos. Além disso, o racismo estrutural é algo que influencia a vida e trajetória de muitos personagens. E isso num país onde há claramente uma tentativa diária de extermínio da raça negra é mais do que importante, torna-se necessário.

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Neste quesito, Seu Jorge, Naruna Costa e Hermila Guedes (a mulher de Edson, Darlene) dão um show à parte, com atuações dignas do peso dos personagens e da intensidade do tema. Pedro Wagner e Lee Taylor, que interpretam os bandidos Carniça e Ivan,  e Danilo Grangheia (o detetive Andrade)  são os outros destaques com muita entrega.

Algumas situações são clichês, é claro e algumas decisões beiram o absurdo, mas nada que ali acontece é algo que não vimos antes nos noticiários ou até mesmo escutamos em alguma comunidade. Basta claro, o interesse em se aprofundar no assunto ou ter vivido isso mais intensamente. Irmandade toca em feridas e aborda temas que muita gente não quer ver ou ouvir e seu ritmo cinematográfico em nada deve às produções hollywoodianas. É intensa, pesada, forte, crua e sua crítica machuca todos os lados. Em tempos de debates acalorados sobre segurança pública e fake news elegendo presidentes, importante ver uma produção colocando o dedo na ferida que muitos buscam esconder. Para os espectadores, uma oportunidade de ver o outro lado da lei, afinal nem tudo que reluz é ouro assim como nem toda a verdade vem da Justiça.

Irmandade estreia na Netflix no próximo dia 25 de outubro.

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