O que esperar das baterias do Grupo Especial em 2020

Desfile Paraíso do Tuiuti 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

O SRzd conversou com os Mestres e entendeu a proposta de trabalho de cada bateria do Grupo Especial do Rio de Janeiro para o Carnaval 2020.

ESTÁCIO DE SÁ

A Bateria Medalha de Ouro volta ao grupo especial com a difícil tarefa de abrir o carnaval. O já experiente Mestre Chuvisco virá com um andamento mais pra cima, como já é típico na Escola. As bossas desse ano não fogem à característica do Mestre, utilizando as conversas entre instrumentos e desenhos de caixa, valorizando ainda mais o efeito. Outros pontos fortes são as alas de tamborim, chocalho e cuíca, que assumem o protagonismo nos desenhos. A novidade é para uma ala de atabaques que fará uma bossa de impacto. Seu jeito particular na levada de repique e os surdos com firmeza e volume, são características da Escola também. A emoção, a garra e a entrega de seus componentes são as maiores virtudes desta bateria. Essa dedicação resulta em um show repleto de tradicionalismo e identidade.

UNIDOS DO VIRADOURO

Chegando ao seu 33º ano como Mestre de Bateria e participando do carnaval desde 1976, Ciça é hoje a uma lenda em atividade. Porém, o mais incrível é que parece o primeiro ano do “garoto”, pois a sua volta para a Viradouro fez bem a ambas as partes. A Furacão Vermelho e Branco virá com 300 ritmistas e neste ano, em função do enredo, acrescentou timbales e agogôs no ritmo. Mas o naipe que mais se destaca em qualquer bateria do Mestre são as caixas de guerra. Esse ano serão 120, com caixas de 14”e 12”. A Bateria caprichou nos ensaios promete uma proposta diferenciada na afinação, quatro bossas (destacando a da cabeça do samba), batidas no contratempo e levadas baianas. As alas de tamborim e chocalho também estão no caminho certo para fazer um ótimo trabalho. Ciça, como sempre, garante uma bossa para levantar o público. Vamos aguardar!

ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA

Em seu segundo ano na frente da Bateria “de” Mangueira, Mestre Wesley conseguiu fazer um excelente teste de som na avenida e, ao que tudo indica, terá um ano espetacular. Houve uma evolução muito interessante no naipe de tamborins, na execução das caixas e na qualidade das bossas, comparando ao ano passado. Lembrando que a bateria já conseguira os 40 pontos em 2019. Com uma ala de timbales incrementando o ritmo e acrescentando muito nos desenhos do ótimo samba, serão apresentadas quatro bossas, sendo uma em especial, que deve fazer a Sapucaí vir abaixo: a bossa do funk, que foi feita em cima do trecho “favela, pega a visão…”. Dando um toque final, uma ala de pratos, agogôs de duas bocas, cuícas e chocalhos desenhados fecham com chave de ouro a excelente fase da bateria tradicionalíssima de Mangueira.

PARAÍSO DO TUIUTI

O tempo passa rápido! Mestre Ricardinho está indo para o seu 18º ano como Mestre de Bateria. A Supersom da Tuiuti está cada vez mais madura e confiante na sua proposta de trabalho. A filosofia do ano anterior foi mantida, com 250 ritmistas, bossas de impacto e muita precisão na execução do ritmo. A Supersom já tem a cara do Mestre e vice-versa, com boa distribuição de instrumentos, afinações bem definidas e peças leves (tamborim, chocalhos e cuícas) em ótima fase. Não haverá naipe de agogôs neste ano. Serão quatro bossas em partes diferentes do samba para se apresentarem sem se preocupar com o momento em que passará na frente das cabines. A bateria da Tuiuti é extremamente disciplinada, e teve uma grande carga de ensaios para fazer um ótimo desfile.

GRANDE RIO

Com o peso dos 40 pontos do último ano, a Bateria da Grande Rio está indo para mais um ano com a mesma filosofia de trabalho. O jovem Mestre Fafá provou que talento é uma coisa com que se nasce. Em seu segundo ano de trabalho, a bateria virá com um padrão ainda mais bem definido do que o último ano. Se fechar os olhos, pode-se imaginar que estamos na década de 2000, onde a bateria tinha personalidade, ótimas notas e muitos prêmios. Com excelentes alas de tamborins, chocalhos e cuícas, a bateria trará um andamento mais comportado do que as demais escolas. Serão três bossas executadas e os surdos terão a afinação bem definida. Em uma das bossas, dois timbales farão uma convenção com todos os instrumentos parados e a paradinha de maior destaque é a do refrão do meio do samba. Serão 270 ritmistas e o Mestre, que possui uma diretoria muito unida, promete mais ritmo do que bossa para valorizar o excelente samba.

UNIÃO DA ILHA

Com o lema “um pelo outro”, os Mestres Keko e Marcelo vieram para quebrar o paradigma de que dois ou mais mestres não dão certo. Já no primeiro ano, a Bateria da União da Ilha conseguiu pontuar a nota máxima após dezenove anos. A ideia do trabalho é manter a filosofia da bateria dos antigos Mestres da escola, em especial Mestre Paulão. Serão 280 ritmistas acompanhados de 48 músicos de pagode (banjo, tantan e pandeiro) que vão interagir com a bateria em duas bossas. São quatro bossas, com destaque para o “pagofunk”, mas os Mestres dizem que possuem uma surpresa que só será feita na Sapucaí. Com sua tradicional batida de caixa, tamborim tocando 3×1, cuíca falando alto e chocalhos bem tocados, a bateria da União da Ilha promete um desfile técnico e com muita surpresa.

PORTELA

Mestre Nilo da Bateria Tabajara da Portela está indo para seu 15º ano à frente do ritmo. Ao longo desse tempo foram muitas conquistas, porém a principal delas é a retomada da identidade da tradicional bateria. Como nos anos anteriores, a boa ala de tamborim virá com um desenho moderno, batida de caixa bem definida e terceiras fazendo desenhos com duas macetas. Além de uma bossa com “pegada” indígena, há outro arranjo na segunda do samba, onde a terceira puxa o ritmo com batidas no contratempo e bem ousadas. A tradicional ala de agogô abrilhanta ainda mais a melodia do bom samba. Mestre Nilo, cada vez mais maduro, promete uma bateria segura e firme no objetivo da nota máxima.

SÃO CLEMENTE

A Fiel Bateria do Mestre Caliquinho vem para o desfile novamente com uma diretoria da comunidade. A única bateria que não utiliza apito requer ritmistas ainda mais atentos, porém isso não preocupa o Mestre, que confia demais em sua galera. Serão três bossas com destaque para a do refrão principal, onde se mescla explosão e conversa entre os instrumentos. Famoso por formar muitos ritmistas, Calico conta com ritmistas muito técnicos e lapidados pelo próprio Mestre. Caixas, repiques e marcações sustentam o ritmo swingado da cozinha. O tamborim elaborou um desenho muito funcional e, em sincronia com o chocalho, serão utilizados em uma bossa da Fiel Bateria. Mestre Caliquinho está tão confiante no trabalho que aproveita alguns momentos para sambar ao reger.

UNIDOS DE VILA ISABEL

O Mestre Macaco Branco vem para o seu segundo ano na frente da bateria da Vila Isabel. Serão 276 ritmistas prezando o ritmo tradicional da bateria, com três bossas, uma paradinha e uma nuance, tudo bem encaixado na melodia do samba, e com andamento próximo a 144 bpm. Uma das bossas tem características indígenas, outra traz ritmos regionais no refrão do meio e a última de mais de explosão no final da segunda, sendo todas “linkadas” com o enredo. O naipe de tamborins, chocalhos e cuícas fazem um trabalho moderno e bem feito, mas é na cozinha (taróis, caixas, repiques e marcações) que está a principal característica da Vila Isabel, com seu ritmo fácil de ser identificado. O músico Macaco Branco traz pra dentro da Swingueira de Noel uma técnica muito bem elaborada e um resultado final com muito swing!

ACADÊMICOS DO SALGUEIRO

Os Mestres irmãos Gustavo e Guilherme vão para o segundo ano na frente da Furiosa. Diferente do ano anterior, onde assumiram pouco antes do carnaval, para 2020 os Mestres tiveram tempo de trabalhar e colocar a bateria com a cara deles. O foco principal foi na batucada, no swing da cozinha e no enquadramento dos taróis nesse contexto, pois tiveram sua quantidade aumentada de 20 pra 38. Serão 280 ritmistas no total, com treze diretores, os mesmos do ano passado. Apresentarão duas bossas, mas ambas divididas em dois módulos. Certamente o ponto alto da bateria do Salgueiro foi o trabalho de pesquisa feito sobre as trilhas sonoras dos circos. Será apresentada uma valsa e uma polca. A poderosa ala de tamborim se destaca com um ótimo desenho e “conversa” com a ala de chocalhos e cuícas. Em comparação com o ano anterior, foram baixados dois pontos no andamento pra que todos os arranjos, tanto da bateria quanto do carro de som, soem perfeitamente. A bateria Furiosa vem que vem!

UNIDOS DA TIJUCA

A Bateria Pura Cadência do Mestre Casagrande promete muita disciplina, boa divisão nos naipes, onde todos os instrumentos podem ser ouvidos. Serão 272 ritmistas, três bossas e um arranjo de caixas na primeira do samba, com retomada nos tamborins. Haverá uma bossa em homenagem à favela, com um funk dentro do enredo, onde todos os instrumentos participam. Em todos os anos achamos que esta bateria já chegou no seu ápice, mas quando passa na avenida vemos que aquilo que era ótimo ficou melhor ainda. Casagrande tem sua bateria “na mão”, com muita precisão em tudo que faz, postura na apresentação, comando e liderança. A Banda Pura Cadência chegou! Corre que vem coisa boa aí.

MOCIDADE INDEPENDENTE

A Bateria Não Existe Mais Quente do Mestre Dudu aproveitou o excelente samba para ousar mais do que o normal. Serão cinco bossas, sendo todas muito musicais e com nível de dificuldade bem elevados. Uma ala de timbal será utilizada e terá destaque em uma paradinha no refrão do samba, nessa hora terá uma interação na dança do casal de mestre sala de porta bandeira nos três módulos, com o ritmo da bateria, o que é um grande desafio. Uma outra novidade, é uma caída de segunda, artifício dificilmente utilizada pela bateria NEMQ. A ala de caixa está cada vez mais forte e todos os naipes estão crescendo com o trabalho ousado. Dudu no seu nono ano na frente da bateria, passa por seu melhor momento e promete um desfile de altíssimo nível.

BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS

A Bateria da Beija-Flor sob o comando dos Mestres Rodney e Plínio vem para mais um ano de muita batucada, condução e swing. Serão sete bossas e levadas, com uma delas fazendo um toque afro misturado com samba de roda. Certamente esse é o ano em que a bateria Soberana mais inovou nos arranjos, onde serão utilizadas conversas entre surdos sem perder a base das caixas e interagindo com os demais instrumentos. A ala de repique-mor continua com sua poderosa contribuição para o ritmo e os tamborins com um desenho valorizando o bom samba. Um dos pioneiros na padronização das afinações dos surdos, Mestre Rodney sempre se preocupa muito com essa característica e promete um desfile muito técnico em busca das notas. Mestre Plínio participou de todos os quatorze campeonatos da Beija-Flor e talvez seja a pessoa mais vencedora do carnaval carioca. Nossos respeitos ao grande baluarte!

Bom carnaval a todos!

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