Bruno Moraes. Foto: Acervo pessoal

Bruno Moraes

Comentarista de bateria do SRzd e diretor do Troféu Bateria. Facebook: Bruno Moraes

Mega Camarotes na Sapucaí, um desserviço ao desfile das escolas de samba! – por Bruno Moraes

Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Foto: Liesa

Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Foto: Liesa

Não é de hoje que o sambista reclama desses mega camarotes que tomaram conta da Sapucaí. Certamente mais da metade do público que está nesses lounges sequer sabem qual escola está desfilando naquele dia. É comum ver as pessoas de costas para o desfile, preocupados com o espumante e o camarão que está sendo servido, com o salão de beleza e com o show que tá rolando lá dentro. Que show que vai ter? Sertanejo? Música eletrônica? Pop? Essa é a preocupação de quem vai a um evento desse. O ônibus sai de um hotel do Leblon, da Barra e o público, em sua grande maioria branca, vai em busca da tudo, menos desfile das Escolas de Samba.

Um outro problema é sonoro, pois com o show que acontece dentro desses camarotes, muitas vezes há vazamento de som e atrapalha o próprio desfile. Todo ano fala-se que foi feito um trabalho acústico, mas o problema sempre está lá.

Pegam um espaço da Frisa onde cabiam 100 pessoas, constroem um anexo e transformam em um mega camarote para 2 mil pessoas. O engraçado é que a capacidade máxima do sambódromo continua a mesma há anos.

Conforme falado pelo presidente da Liesa em 24/01/2022, Jorge Pelingeiro, “estávamos com uma deficiência nas vendas dos ingressos e nossos camaroteiros, que são os grandes compradores do Carnaval hoje, estavam reclamando já que só venderem 55% dos ingressos”! Resumindo, o Carnaval foi adiado e um dos principais motivos foi, sim, a venda desses camarotes.

“Nós tínhamos 6 mil frisas no penúltimo Carnaval, hoje são 600 frisas apenas”, afirmou o presidente da Liesa. Isto é, 5.400 frisas foram transformadas em lounges de Mega camarotes.

Em termos mercadológicos, entendo que se há procura por ingressos, qual o problema tem? Não vivo a utopia de que poderíamos fazer o Carnaval sem dinheiro, apenas acho que tudo tem um limite e esse limite já foi ultrapassado há muito tempo.

Já imaginou assistir a um show de tango em Buenos Aires, e as pessoas de costas ouvindo uma música eletrônica? Já imaginou Ballet Bolshoi com pessoas comprando ingressos preocupadas com a comida que vai servir e a música que toca no intervalo?

Se não bastasse isso tudo, agora nos ensaios técnicos, um desses camarotes vai cobrar entrada em um evento que sempre foi gratuito para o povo do samba.

Enfim, o dia em que for entendido o que se passa na cabeça de uma baiana, na emoção de um ritmista, no componente que consome Carnaval o ano inteiro, no público amante de samba, esses pontos acima nunca seriam levantados, pois não haveria nada disso que estamos passando. Precisamos de mais respeito. Respeito à nossa arte, nossa cultura, nossos ritos e, principalmente, à nossa gente!

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