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A ascensão de Grazzi Brasil; a retomada das vozes femininas no Carnaval

Grazzi Brasil. Foto: Divulgação

O carnavalesco Marco Aurélio Ruffinn traz mais um texto para os leitores do SRzd.

A coluna é publicada semanalmente, às quintas-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

A ascensão de Grazzi Brasil; a retomada das vozes femininas no Carnaval

Confesso que ao ouvir pela primeira vez, fiquei em choque.

Parei, respirei ofegante e questionei, quem é esse furacão?

Há tempos não ouvia uma voz tão linda cantar samba-enredo.

O Carnaval não é uma ilha, distante dos usos e costumes da sociedade e, portanto, também alvo de velhos preconceitos e conceitos estabelecidos. A figura da mulher, sempre foi algo bem delimitado na hierarquia das escolas de samba e cantar, historicamente, não era território delas, com algumas exceções.

Em espasmos, o talento foi arma inevitável para furar barreiras.

Nesse contexto, impossível não lembrar Eliana de Lima. Um fenômeno surgido  na década de 80, na Faculdade do Samba Barroca Zona Sul, cantando um dos mais belos hinos daquele ano. Logo em seguida foi fazer história na Unidos do Peruche. Iluminou, com sua voz, todas as obras que interpretou e algumas imortalizadas na sua voz. Em 1989 estreia na Leandro de Itaquera, em mais uma parceria de sucesso.

Eliana de Lima. Foto: Divulgação

E a querida Bernadete? De voz grave e aveludada, também brilhou na “Filial” e Império de Casa Verde.

Mais recentemente, Vânia Cordeiro, poderosa na Unidos de São Lucas.

Escrevo sem a menor intenção de comparar. São talentos diferentes, em momentos diferentes.

Apenas o fato de ser mulher e invadir com a força do talento um segmento absolutamente masculino em uma escola de samba, já me seduz reviver as audaciosas autoras de tal proeza.

Tudo começou no final da década de 40, portanto, no florescer dos sambas de enredo, com as pastoras – coral feminino que acompanhavam os intérpretes.

Não se sabe a primeira pastora quem foi. O que se sabe é que uma das mais importantes e precursora, foi Tia Surica, na gloriosa Portela.

Imagine só, eu nem sonhava nascer…

O inovador Salgueiro, em 1969, convidou Elza Soares, já coroada de sucessos no Brasil e no mundo, para puxar o samba que tinha como enredo a “Bahia de todos os santos”. Foi tiro certo, e a Academia sagrou-se campeã.

A partir de então, cada escola foi em busca da “alma feminina do seu samba”.

Em 1972, o Império Serrano contratou a cantora Marlene, uma das estrelas do rádio. Ela protagonizou a homenagem à “Pequena Notável”, em “Alô alô, ta aí Carmem Miranda”. Outro campeonato.

Nos anos seguintes, diversas agremiações tiveram mulheres puxando samba-enredo. Em 1974, Beth Carvalho deu vida a faixa do LP da Estação Primeira de Mangueira, substituindo Jamelão, impossibilitado por questões contratuais com outra gravadora. Ainda, por vezes, auxiliou o velho e imortal cantor na Avenida.

Beth Carvalho. Foto: SRzd

Marlene voltou a cena, desta vez, pela Unidos de Vila Isabel. A amada Clara Nunes, foi convidada pela Portela, para a mesma função. Aliás, foi a mineira a primeira intérprete a cantar os compositores do morro e gravar o gênero. “Portela na avenida”, “Serrinha”, “Canto das três raças”, “Nação”, “Filhos de Gandhi”, entre outros, foram eternizados em seu canto inconfundível.

No Carnaval de 76, o Salgueiro aposta em nova voz feminina para a produção do disco; Divalva. Porém, no carro de som tem de ceder aos homens e desfila como apoio.

No primeiro ano da década seguinte a Unidos de São Carlos contrata Zaira para puxar o samba “Deixa Falar”. Cinco anos depois, Elza Soares grava a faixa da União da Ilha do Governador.

Ainda assim, os anos oitenta não contaram com forte expressão da presença feminina neste setor, até a vinda de Simone.

Por seu talento, sambas de enredo estabeleceram recordes de execução nas rádios. “O amanhã”, da Ilha, e “Por um dia de graça”, de Luiz Carlos da Vila, no estilo de um samba-enredo, que a Viradouro utilizou para o seu desfile de 2015, estouraram.

Em 1989 ela comanda o canto da jovem Tradição ao lado de Candanga. Tradição que apostaria em Alcione, em 2004. Pequeno hiato, até que Leci Brandão, primeira mulher a integrar a ala de compositores da Mangueira, comanda o canto da Acadêmicos de Santa Cruz. No mesmo ano, Selma Reis se destaca na Mocidade, ao lado de Wander Pires.

Infelizmente, a tendência não vingou.

Só em 2015 podemos citar Lucy Alves brilhando na Imperatriz Leopoldinense cantando um dos mais belos sambas do ano, homenageando Zezé Di Camargo e Luciano.

Enfim, chegamos em 2017.

Grazzi Brasil surge como um furacão, encanta, atrai as atenções, vence o Prêmio SRzd na categoria Revelação. Bela, na voz, na alma e no canto. Assediada para a temporada de eliminatórias é contratada também pela carioca Paraíso do Tuiuti.

Chega com uma missão; dar continuidade a história da voz feminina nas escolas de samba de São Paulo e do Brasil.

Espero ser uma grande virada neste território inóspito ao “sexo frágil”. Passou da hora!

Vai-Vai, conto com sua ousadia!

Grazzi Brasil, o furacão alvinegro vem aí!

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