Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

Xuxa completa 60 anos

“Xou da Xuxa” é um dos programas mais populares da História da TV brasileira (Foto: Reprodução Instagram xuxameneghel).

Quem cresceu nos anos 1980 e vivenciou o fenômeno Xuxa, embarcou, nas últimas semanas, numa viagem nostálgica a bordo da nave espacial que ocupava lugar de destaque no auditório do antigo Teatro Fênix, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio de Janeiro, onde o “Xou da Xuxa” (1986 – 1992) era gravado – o programa está sendo reprisado pelo Canal Viva. Isso se deve às comemorações do 60o aniversário da Rainha dos Baixinhos, que estreou na televisão há 40 anos, no “Clube da Criança” (1983 – 1998), da extinta Rede Manchete – Xuxa apresentou por três anos, sendo substituída por Angélica após sua decisão de assinar contrato com a Rede Globo.

 

Nascida Maria da Graça Meneghel em 27 de março de 1963, em Santa Rosa, Rio Grande do Sul, Xuxa completa 60 anos de idade nesta segunda-feira (27), mostrando que nunca perderá sua majestade, mesmo afastada da telinha. Xuxa, apelido dado pelo irmão na infância e incorporado oficialmente ao seu nome em 1988, é um dos principais ícones latino-americanos do século XX, uma mulher que venceu inúmeros obstáculos para se firmar como comunicadora, dialogando de forma bastante natural com crianças, dizendo a elas que todas são iguais apesar de suas diferenças, falando sobre inclusão numa época em que o assunto não era sequer debatido.

 

Não há como negar o impacto de Xuxa sobre seus súditos, os baixinhos por quem sempre teve muito respeito e carinho, por vezes, assumindo o didatismo para ensinar a cada um deles que vacinas são importantes aliadas e que o meio ambiente precisa de cuidados, bem como os animais. Isso ia muito além das brincadeiras e de todo o entretenimento oferecido pelo “Xou da Xuxa”, que, sim, marcou um “X” no coração das crianças que não iam para a escola enquanto a apresentadora não dissesse como era bom estar com aquele público, embarcando em sua nave ao som de “Doce Mel”, uma de suas canções de maior sucesso, lançada como a primeira faixa do Lado A de seu primeiro álbum, “Xou da Xuxa”, de 1986.

 

O fenômeno televisivo pavimentou o caminho para que a apresentadora assumisse a responsabilidade de interpretar sua primeira protagonista no cinema infanto-juvenil, poucos anos após o polêmico “Amor Estranho Amor” (Amor Estranho Amor – 1982, Brasil), de Walter Hugo Khouri, e “O Fuscão Preto” (O Fuscão Preto – 1983, Brasil), de Jeremias Moreira Filho – a primeira participação de Xuxa num filme voltado para crianças foi em “O Trapalhão na Arca de Noé” (O Trapalhão na Arca de Noé – 1983, Brasil), que iniciou uma bela parceria com Os Trapalhões.

 

“Super Xuxa Contra o Baixo Astral” é dirigido por Anna Penido (Foto: Divulgação).

Colhendo os louros do sucesso proporcionado pela televisão e no centro de duas lendas urbanas que eram temas dos recreios escolares – a do vinil tocado de trás para a frente com mensagens satânicas e a da boneca de pano de 85 centímetros de altura, lançada pela Mimo em 1987, considerada tão assassina quanto Chucky –, Xuxa invadiu as salas de exibição com “Super Xuxa Contra o Baixo Astral” (Super Xuxa Contra o Baixo Astral – 1988, Brasil) – o longa conta com uma participação não creditada de Jordana Brewster, a Mia da franquia “Velozes e Furiosos” (Fast & Furious – desde 2001, EUA), segundo a própria atriz, que viveu alguns anos no Rio de Janeiro.

 

Com direção de Anna Penido, “Super Xuxa Contra o Baixo Astral” reúne elementos de comédia e fantasia referenciando longas como “A História sem Fim” (Die unendliche Geschichte – 1984, Alemanha Ocidental / EUA), de Wolfgang Petersen, “A Hora do Pesadelo” (A Nightmare on Elm Street – 1984, EUA), de Wes Craven, e “A Lenda” (Legend – 1985, Reino Unido), de Ridley Scott – este último, estrelado por Tom Cruise

 

Um dos filmes mais assistidos nos cinemas brasileiros em 1988, o longa mostra a luta de Xuxa contra o mal, sintetizado na imagem de Baixo Astral (Guilherme Karam), que vive nos esgotos e sequestra seu cachorro, Xuxo, transportando a apresentadora para um universo paralelo chamado Alto Astral. Com “Arco-Íris” em sua trilha sonora, o longa não foi unanimidade entre os críticos à época, mas chama a atenção por sua mensagem, a de que a educação se faz necessária para impedir o avanço de forças maléficas e opressoras.

 

A luta contra o mal também guia o segundo longa-metragem protagonizado por Xuxa, “A Princesa Xuxa e os Trapalhões” (A Princesa Xuxa e os Trapalhões – 1989, Brasil), de José Alvarenga Jr., que levou mais de quatro milhões de pessoas aos cinemas – algumas sessões tinham ação social em que o ingresso era a doação de um agasalho. Reunindo elementos das franquias “Star Wars” (Star Wars – iniciada em 1977, EUA) e “Mad Max” (Mad Max – iniciada em 1979, Austrália), além de “Os Goonies” (The Goonies – 1985, EUA), de Richard Donner, o longa é um dos maiores sucessos da filmografia de Xuxa e, também, de Os Trapalhões.

 

“A Princesa Xuxa e os Trapalhões” é dirigido por José Alvarenga Jr. (Foto: Divulgação).

 

“A Princesa Xuxa e os Trapalhões” conta a história de Xeron (Xuxa), a princesa de Antar, que vive enclausurada no palácio em que foi criada por Ratam (Paulo Reis), desconhecendo as atrocidades cometidas por ele contra o seu povo e o meio ambiente. A verdade só é exposta à princesa depois do encontro com os príncipes Mussaim (Mussum), Dedeon (Dedé Santana) e Zacaling (Zacarias), que lutam ao lado do Cavaleiro Sem Nome (Renato Aragão) para salvar o planeta.

 

“Lua de Cristal” é dirigido por Tizuka Yamasaki (Foto: Divulgação).

No entanto, somente em 1990, Xuxa colocou o circuito exibidor brasileiro aos seus pés com “Lua de Cristal” (Lua de Cristal – 1990, Brasil), de Tizuka Yamasaki. Maior bilheteria do país naquele ano, o longa dialoga com a história de Cinderela por meio da jovem Maria da Graça (Xuxa), que busca uma vida melhor por meio da música, sua grande paixão. Mas o sonho que acreditava poder concretizar com o apoio de sua tia se transforma em pesadelo quando é destratava pelos familiares, sendo obrigada a realizar todo o serviço doméstico. A situação começa a mudar quando conhece Duda (Duda Little) e Bob (Sérgio Mallandro), que surge como o príncipe encantado que lhe salva das garras de Tia Zuleika (Marilu Bueno).

 

Referenciando clássicos como “Branca de Neve e os Sete Anões” (Snow White and the Seven Dwarfs – 1937, EUA), de William Cottrell, David Hand e Wilfred Jackson, e “O Campeão” (The Champ – 1979, EUA), de Franco Zeffirelli, “Lua de Cristal” é embalado pela canção homônima que se tornou um dos grandes sucessos de Xuxa, que ao longo da carreira vendeu mais de 50 milhões de discos. De certa forma, o filme remete ao início da trajetória de Xuxa, a então jovem obstinada em realizar seus sonhos, principalmente o de proporcionar uma vida melhor à sua família, que não tinha tantos recursos financeiros durante sua infância e adolescência.

 

“Super Xuxa Contra o Baixo Astral”, “A Princesa Xuxa e os Trapalhões” e “Lua de Cristal” formam o pódio de uma filmografia repleta de sucessos comerciais, refletindo a capacidade de Xuxa em conquistar diferentes gerações com o mesmo carisma do programa televisivo que a alçou à fama, criando canais sólidos de comunicação com crianças de todas as idades, dos súditos que curtiam o “Xou da Xuxa” aos bebês que aprendiam com a coletânea “Xuxa Só Para Baixinhos”, iniciada em 2000.

 

Com o carisma e talento comparados por muitos aos de Hebe Camargo, Xuxa faz parte da vida dos brasileiros até mesmo em festas de aniversários, com o “Parabéns da Xuxa” sendo cantado logo após ao tradicional, por exemplo. Há de se destacar, também, o trabalho filantrópico que realizou por tantos anos com a Fundação Xuxa Meneghel, inaugurada em 1989 – a instituição enfrentou diversos problemas financeiros nos últimos anos e, atualmente, se chama Fundação Angelica Goulart.

 

Hoje, no dia da celebração de seu 60o aniversário, com “bolo, guaraná e muito doce”, o reconhecimento e a reverência à Maria da Graça Xuxa Meneghel se fazem necessários, pois, como poucos, ela pintou o arco-íris e encheu o mundo dos brasileiros de alegria, permitindo que os sonhos permanecessem vivos apesar das adversidades impostas pela realidade. Ao menos, os de seus eternos súditos, que cresceram ouvindo os incentivos da Rainha dos Baixinhos, entre eles, “querer, poder e conseguir”.

 

Confira a lista dos 10 filmes de maior público de Xuxa:

  1. “Lua de Cristal” – 4.178.165 milhões de espectadores;
  2. “A Princesa Xuxa e os Trapahões” – 4.018.764 milhões de espectadores;
  3. “Super Xuxa Contra o Baixo Astral” – 2.816.000 milhões de espectadores;
  4. “Xuxa e os Duendes” (Xuxa e os Duendes – 2001, Brasil), de Paulo Sérgio de Almeida e Rogério Gomes – 2.621.793 milhões de espectadores;
  5. “Xuxa Popstar” (Xuxa Popstar – 2000, EUA), de Paulo Sérgio de Almeida e Tizuka Yamasaki – 2.394.326 milhões de espectadores;
  6. “Xuxa e os Duendes 2: No Caminho das Fadas” (Xuxa e os Duendes 2: No Caminho das Fadas – 2002, EUA), de Paulo Sérgio de Almeida e Rogério Gomes – 2.310.852 milhões de espectadores;
  7. “Xuxa Abracadabra” (Xuxa Abracadabra – 2003, Brasil), de Moacyr Góes – 2.217.368 milhões de espectadores;
  8. “Xuxa Requebra” (Xuxa Requebra – 1999, Brasil), de Tizuka Yamasaki – 2.046.033 milhões de espectadores;
  9. “Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida” (Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida – 2004, Brasil), de Moacyr Góes – 1.342.806 milhões de espectadores;
  10. “Xuxa em O Mistério de Feiurinha” (Xuxa em O Mistério de Feiurinha – 2009, Brasil), de Tizuka Yamasaki – 1.173.340 milhões de espectadores.

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