Ator bastante popular nos Estados Unidos tanto no cinema quanto na televisão, John Krasinski tem se arriscado mais, demonstrando grande amadurecimento profissional, conforme observado em sua atuação em “13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi” (13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi – 2016), de Michael Bay. No entanto, sua aposta mais arriscada não foi em frente às câmeras, mas nos bastidores exercendo as funções de produtor, roteirista e diretor de longas-metragens. E nesta quinta-feira, dia 05, o maior desafio cinematográfico de Krasinski chega às salas de exibição brasileiras: “Um Lugar Silencioso” (A Quiet Place – 2018).
Depois de dirigir as comédias “Brief Interviews with Hideous Men” (Idem – 2009) e “Família Hollar” (The Hollars – 2016), John Krasinski estreia com competência nos gêneros do suspense e do terror com uma trama sobre monstros cegos e com forte armadura que dizimam a humanidade, sendo atraídos pelos sons produzidos pelas pessoas. Ou seja, o silêncio absoluto é imprescindível para garantir a sobrevivência. E numa situação capaz de levar todos ao limite, principalmente emocional, uma família faz o que pode para não ser atacada por três destas criaturas que rondam sua propriedade, localizada nos arredores da cidade, agora, fantasma.
“Um Lugar Silencioso” começa no 89o dia após a invasão dos monstros de origem desconhecida, apresentando a dinâmica familiar dos Abbott e todas as privações que lhes são impostas pela ameaça constante. Tudo isso é mostrado na primeira metade da produção que, neste ponto, segue fórmula parecida com a do primeiro blockbuster da história do cinema, “Tubarão” (Jaws – 1975), ambientando o espectador à rotina dos personagens e aos elementos que os rodeiam, dando vez ao terror propriamente dito somente em sua segunda metade e sem abusar de efeitos visuais.
Com uma fotografia eficiente e trilha sonora inserida com precisão pela montagem de Christopher Tellefsen para aumentar a atmosfera de tensão, o longa chama realmente a atenção pela maneira com a qual os momentos de silêncio são explorados, assim como por seus efeitos sonoros e edição de som impecáveis. É um trabalho interessante que agrega bastante valor à trama, influenciando diretamente seu resultado final.
Contudo, o único deslize de “Um Lugar Silencioso” está justamente no roteiro assinado por Krasinski, Bryan Woods e Scott Beck. O trio foi feliz em partir de uma premissa batida pelo cinema pipoca, a de ataque de criaturas misteriosas, utilizando elementos originais e certa roupagem de filme de arte, mas negligenciou um pouco a construção psicológica dos personagens, defendidos com garra por todo o elenco. Desta forma, algumas situações mal resolvidas surgem esporadicamente na tela, sobretudo no que tange ao relacionamento entre pai e filha, Lee (Krasinski) e Regan (Millicent Simmonds), abalado pelo forte sentimento de culpa originado por uma tragédia familiar.
Tendo como fio condutor a preocupação de um homem para com a segurança de sua família, “Um Lugar Silencioso” não é uma obra-prima, mas uma produção que acerta ao evitar clichês e trabalhar suspense e terror com muito cuidado. E ao final da projeção, a sensação que fica é a de que John Krasinski, tal qual Ben Affleck, provou não ser apenas mais um rosto bonitinho do showbusiness americano. É um profissional dedicado e competente que não tem medo de sair de sua zona de conforto para se arriscar em filmes mais densos, independente das funções que se propõe a assumir. Basta lembrarmos que ele é um dos produtores executivos de “Manchester à Beira-Mar” (Manchester by the Sea – 2016), vencedor de duas estatuetas do Oscar e indicado a outras quatro, inclusive de melhor filme.
Assista ao trailer oficial legendado:
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