Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

Top 10: os melhores filmes das plataformas de streaming em 2021

“No Ritmo do Coração” é uma produção original Apple TV+ (Foto: Divulgação).

Em 2020, quando o novo coronavírus se espalhou pelo mundo como rastilho de pólvora, as plataformas digitais ascenderam como jamais visto, e se consolidaram como meio de entretenimento doméstico e seguro num cenário pandêmico e caótico que implicou na estreia exclusiva no streaming de diversos títulos produzidos por estúdio tradicionais para a sala de exibição, como por exemplo, os nacionais “A Menina que Matou os Pais” (A Menina que Matou os Pais – 2021) e “O Menino que Matou Meus Pais” (O Menino que Matou Meus Pais – 2021), ambos dirigidos por Maurício Eça, sobre o caso Richthofen, lançados diretamente na Amazon Prime Video, que também adicionou ao seu catálogo o documentário original “What Drives Us” (What Drives Us – 2021), de Dave Grohl, vocalista e guitarrista do Foo Fighters.

 

Concorrente direta da Netflix, a Amazon Prime Video se destacou no ano anterior com títulos muito potentes, entre eles, “O Som do Silêncio” (Sound of Metal – 2019), de Darius Merder, que, de certa forma, dialoga com uma produção original Apple TV+ que estreou recentemente, “No Ritmo do Coração” (CODA – 2021), de Sian Heder. O streaming da maçã também lançou outros títulos relevantes no decorrer deste ano, como por exemplo, “O Canto do Cisne” (Swan Song – 2021), de Benjamin Cleary, “Finch” (Finch – 2021), de Miguel Sapochnik, e “Cherry – Inocência Perdida” (Cherry – 2021), de Anthony e Joe Russo.

 

“Quanto Vale?” é produzido e protagonizado por Michael Keaton (Foto: Divulgação / Crédito: Netflix).

 

Aprendendo a lidar com a consolidação e popularização não apenas da Amazon Prime Video, mas, principalmente, da HBO Max e da Disney+, que chamou a atenção tanto pelos lançamentos híbridos com custo adicional quanto por seus produtos originais, entre eles, a animação “Luca” (Luca – 2021), de Enrico Casarosa, a Netflix apostou alto, sobretudo no segundo semestre, lançando títulos com elencos estelares, como “Não Olhe Para Cima” (Don’t Look Up – 2021), de Adam McKay, “Quanto Vale?” (What is Life Worth – 2020), de Sara Colangelo, “Identidade” (Passing – 2021), de Rebecca Hall, e “Ataque dos Cães” (The Power of the Dog – 2021), de Jane Campion.

 

Concedendo espaço a títulos, originais ou não, produzidos fora dos Estados Unidos, como forma de contemplar audiências distintas, as plataformas de streaming chegam ao final de 2021 fortalecidas e ainda em busca do sonho dourado em forma de estatueta do Oscar de melhor filme, especialmente a Netflix, que não poupa esforços para vencer a categoria principal do prêmio entregue pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS).

 

Confira o Top 10:

1. “No Ritmo do Coração”:

“No Ritmo do Coração” está disponível na Apple TV+ (Foto: Divulgação).

– Direção: Sian Heder.

– Elenco: Emilia Jones (Ruby Rossi), Marlee Matlin (Jackie Rossi), Troy Kotsur (Frank Rossi), Daniel Durant (Leo Rossi), Eugenio Derbez (Bernardo Villalobos), Amy Forsyth (Gertie), Ferdia Walsh-Peelo (Miles), entre outros.

– Sinopse: O filme conta a história da adolescente Ruby, que divide seu tempo entre o último ano do Ensino Médio e a família, que precisa de sua ajuda como intérprete, pois tanto os pais quanto o irmão mais velho são deficientes auditivos. Trabalhando no barco de pesca ao lado do pai e do irmão, Ruby entra para o coral do colégio movida pela atração que sente por Miles. E, uma vez inscrita, chama a atenção de seu professor, Bernardo, conhecido como Mister V., que a incentiva a lutar pela bolsa de estudos na conceituada Berklee College.

 

Escolhido para abrir o Festival de Sundance deste ano, “No Ritmo do Coração” aborda a realidade de filhos de pais surdos, que têm a linguagem de sinais como primeira língua. Inseridos em ambos os grupos, mas com uma comunidade própria, Children of Deaf Adults (CODA, sigla que é o título original do longa). Neste cenário, Ruby precisa encontrar seu próprio lugar, o que aumenta as angústias e dúvidas inerentes à adolescência, pois, para a jovem, a responsabilidade para com a família está sempre em primeiro lugar.

 

Incentivada por Mister V., figura que serve tanto como conselheiro quanto alívio cômico, algo sintetizado em uma de suas primeiras cenas, enfatizando o som do “R” de seu primeiro nome, Ruby aprende a se olhar como indivíduo e encaixar seus sonhos em seu cotidiano, o que acaba criando atritos no ambiente familiar, principalmente com a mãe, que tem medo de perdê-la para o mundo.

 

Contando com boas atuações, sobretudo do trio formado por Jones, Kotsur e Derbez, “No Ritmo do Coração” é um coming-of-age movie que equilibra drama e humor com muita naturalidade e leveza, prendendo a atenção do (tel)espectador por explorar o medo de uma jovem em falhar na proteção e blindagem de seus familiares, que precisam sair do isolamento voluntário e abraçar o mundo à medida que percebem o potencial da jovem. Remake do francês “A Família Bélier” (La famille Bélier – 2014), de Éric Lartigau, esta é uma produção muito delicada que se tornou um exemplo de representatividade na safra deste ano.

 

2. “A Mão de Deus” (È stata la mano di Dio – 2021, Itália):

“A Mão de Deus” está disponível na Netflix (Foto: Divulgação).

– Direção: Paolo Sorrentino.

– Elenco: Filippo Scotti (Fabietto Schisa), Toni Servillo (Saverio Schisa), Teresa Saponangelo (Maria Schisa), Marlon Joubert (Marchino Schisa), Betty Pedrazzi (Baronessa Focale), Luisa Ranieri (Patrizia), entre outros.

– Sinopse: Ambientado na Nápoles dos anos 1980, o longa conta a história de Fabietto, jovem apaixonado por futebol que fica eufórico com a possibilidade e posterior contratação de Maradona por seu time do coração. Com sua vida girando em torno do jogador argentino, Fabietto é surpreendido pelo choque de realidade que lhe impõe uma mudança radical, colocando o cinema como nova paixão e oportunidade de segunda chance.

 

Retratado na série “Maradona: Conquista de um Sonho” (Maradona, sueño bendito – 2021, EUA / Argentina), disponível na Amazon Prime Video, Diego Maradona fez um gol com a mão, contra a Inglaterra durante a Copa do Mundo de 1986, que lhe rendeu o apelido de “Mão de Deus”. Esta maneira carinhosa de chamá-lo serviu de fio condutor para um dos títulos mais interessantes e envolventes do catálogo da Netflix.

 

Parcialmente inspirado nas memórias de Sorrentino, o longa tem a leveza como elemento essencial da narrativa, mostrando o cotidiano de uma família que, apesar da aparente felicidade inabalável, tem seus problemas e momentos de tensão advindos do adultério, sendo impactada por uma tragédia inesperada que muda a vida de todos, principalmente de Fabietto, que tem uma relação de cumplicidade com o irmão e se acostumou com o isolamento voluntário da irmã no banheiro – espécie de piada recorrente do filme, mas de mensagem clara, uma vez que o desnecessário isolamento social da personagem (sem nenhuma relação com a pandemia, que fique bem claro, porque são situações distintas) implica em perdas e carência afetiva que somente no futuro a jovem perceberá.

 

Vencedor do Leão de Prata no Festival de Veneza deste ano, “A Mão de Deus” é um coming-of-age movie, assim como “No Ritmo do Coração”, sobre a importância da família enquanto base e porto seguro. É um filme dirigido com destreza e sensibilidade por Sorrentino, que escreveu um roteiro consistente e sem nenhuma ponta.

 

3. “Não Olhe Para Cima”:

“Não Olhe Para Cima” está disponível na Netflix (Foto: Divulgação).

– Direção: Adam McKay.

– Elenco: Leonardo DiCaprio (Dr. Randall Mindy), Jennifer Lawrence (Kate Dibiasky), Meryl Streep (President Orlean), Jonah Hill (Jason Orlean), Cate Blanchett (Brie Evantee), Rob Morgan (Dr. Teddy Oglethorpe), Mark Rylance (Peter Isherwell), Tyler Perry (Jack Bremmer), Timothée Chalamet (Yule), entre outros.

– Sinopse: O filme conta a história de dois astrônomos, Dr. Randall Mindy e Kate Dibiasky, que alertam a Casa Branca sobre a aproximação de um cometa em rota de colisão com a Terra, colocando-a na contagem regressiva para um evento de extinção. Mas o ceticismo, o negacionismo e a ambição se tornam tão perigosos quanto o cometa.

 

Não há como negar que “Armageddom” (Armageddom – 1998) é o primeiro filme em que muitos pensam quando se fala em ameaça de extinção causada pela aproximação de um asteroide no cinema catástrofe. De fato, “Não Olhe Para Cima” remete um pouco ao longa de Jerry Bruckheimer, mas com uma diferença brutal, pois, nesta produção original Netflix, o foco é a crítica política por meio da sátira, tornando-o bastante atual, sobretudo no cenário pandêmico no qual o negacionismo e a ambição atuam lado a lado contra a humanidade.

 

No decorrer de quase duas horas e meia de duração, o (tel)espectador é apresentado a uma trama de viés político, sim, na qual se pode identificar governantes que não lutam pela segurança, bem-estar e vida de seu povo, priorizando seus próprios interesses, bem como o de seu grupo de apoiadores. Isto é sintetizado na figura da Presidente Orlean, que tem como braço direito o filho idiotizado no Salão Oval, e o apoio de um empresário bilionário e excêntrico, para dizer o mínimo.

 

Divisor de opiniões, “Não Olhe Para Cima” condensa muito do mundo atual, ganhando potência em virtude da pandemia, pois traçar paralelos com a realidade é inevitável. É um filme que conta com elenco em total comunhão para defender uma trama complexa e repleta de exageros inerentes à sátira que se propôs a fazer, levando o público à reflexão.

 

4. “Quanto Vale?”:

“Quanto Vale?” está disponível na Netflix (Foto: Divulgação).

– Direção: Sara Colangelo.

– Elenco: Michael Keaton (Ken Feinberg), Amy Ryan (Camille Biros), Stanley Tucci (Charles Wolf), Tate Donovan (Lee Quinn), Talia Balsam (Dede Feinberg), Shunori Ramanathan (Priya Khundi), Chris Tardio (Frank Donato), entre outros.

– Sinopse: O filme é baseado na história do advogado Ken Feinberg, escolhido pelo governo dos Estados Unidos para ser Mestre Especial do Fundo de Compensação às Vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001, ou seja, responsável por decidir quanto cada sobrevivente ou morto valeria em cifras aos cofres do país à época presidido por George W. Bush. Instituindo uma fórmula na qual familiares de executivos de grandes empresas receberiam mais do que os de um auxiliar de limpeza, por exemplo, usando como justificativa o “custo da hipoteca” diferenciado, Feinberg teve de enfrentar o ceticismo e passar a enxergar pessoas e histórias por trás de cada número da estatística da penosa lista de vítimas e desaparecidos – muitos corpos não foram encontrados sob as torres gêmeas do World Trade Center. Além disso, o advogado precisou a lidar com a cobrança daqueles que adoeceram em decorrência do trabalho nos escombros, principalmente pela exposição à poeira tóxica e ao amianto, inclusive bombeiros.

 

Exibido no Festival de Sundance 2020, “Quanto Vale?” tem estrutura narrativa similar à de outra produção baseada em fotos reais e protagonizada pelo ator, “Spotlight – Segredos Revelados” (Spotlight – 2015), vencedor das estatuetas do Oscar de melhor filme e roteiro original. Isto se deve à maneira com a qual Colangelo conduz este longa, introduzindo as questões abordadas gradativamente para levar o espectador à reflexão num trabalho respeitoso e impecável. Afinal, em ambos os filmes, os números representam pessoas com histórias e trajetórias distintas, que não podem ser ignoradas nem minimizadas por divisão de classes sociais.

 

Outro ponto que remete bastante a “Spotlight – Segredos Revelados” é a dinâmica entre Michael Keaton e Stanley Tucci, que interpreta Charles Wolf, viúvo de uma das vítimas de 11 de setembro que questiona a fórmula adotada por Feinberg, impondo alterações ao Fundo e iniciando uma revolução interna no renomado advogado, algo que cresce à medida que ele se permite conhecer e escutar os familiares e sobreviventes do maior atentado terrorista da História. Enquanto Keaton surge em cena como um homem que, apesar de designado para defender os interesses do governo e salvar a economia do risco de colapso representado pelas indenizações, passando de insensível a humano, Tucci condensa toda a dor da perda apenas no olhar. São dois gigantes num jogo cênico impecável, tendo como coadjuvante Amy Ryan, no papel de Camille Biros, sócia de Feinberg que luta para que todos tenham os mesmos direitos assegurados pelo governo, inclusive imigrantes ilegais e homossexuais que não puderam oficializar suas respectivas uniões.

 

Produzido por Michael Keaton, “Quanto Vale?” se torna ainda mais potente devido ao momento de seu lançamento, não apenas pela proximidade do 20o aniversário dos atentados que mudaram o mundo, mas pela dor imposta pela pandemia de Covid-19, uma tragédia que chega aos jornais em forma de números em estatísticas. Impossível dissociar a barbárie dos ataques da crise humanitária atual nas cenas que questionam o valor de vidas perdidas, o que mexe ainda mais com a emoção do espectador, pois, novamente, por trás de cada número diariamente contabilizado há nomes, histórias e perdas incalculáveis para os familiares. Não é um filme fácil de assistir por proporcionar ao espectador a inevitável sensação de socos no estômago por diversas vezes, mas é necessário para apresentar à nova geração um evento sombrio da História que, mesmo duas décadas mais tarde, ainda contabiliza vítimas tanto pelo trauma quanto pela longa exposição à toxidade sob os escombros.

 

5. “Ataque dos Cães”:

“Ataque dos Cães” está disponível na Netflix (Foto: Divulgação).

– Direção: Jane Campion.

– Elenco: Benedict Cumberbatch (Phil Burbank), Kirsten Dunst (Rose Gordon), Jesse Plemons (George Burbank), Kodi Smit-McPhee (Peter Gordon), Geneviève Lemon (Sra. Lewis), Sean Keenan (Sven), entre outros.

– Sinopse: Ambientado em 1925, no estado americano de Montana, o longa conta a história dos irmãos fazendeiros Phil. De personalidades opostas, a relação dos dois se torna ainda mais conflituosa após o casamento de George com Rose, a quem Phil não aprova nem simpatiza.

 

De extremo rigor técnico, “Ataque dos Cães” apresenta trama complexa e dividida em capítulos, que se desenvolve sem pressa para permitir ao espectador melhor compreensão acerca das atitudes de Phil, homem amargurado e solitário que vive numa espécie de prisão na qual demonstrações afetivas não são permitidas. Sufocado e sempre prestes a explodir, Phil é defendido com competência por Cumberbatch, que surge como nome forte na disputa por uma vaga entre os finalistas da categoria de melhor ator no Oscar 2022. Popularmente conhecido como Stephen Strange / Doutor Estranho das produções do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), o ator explora as diferentes camadas do personagem com propriedade, sobretudo no que tange aos conflitos internos, expostos gradativamente em virtude do elo estabelecido com Peter, neste que é um dos maiores desafios de sua carreira.

 

Em cena, Benedict Cumberbatch conta com o suporte de coadjuvantes em total sintonia, sobretudo Kirsten Dunst e Jesse Plemons, casados na vida real, que fazem o contraponto à amargura de Phil, concedendo um pouco de sensatez e civilidade ao cenário composto por caubóis preconceituosos que não aceitam nem compreendem indivíduos que não sigam sua cartilha, como Peter.

 

Baseado no livro homônimo de Thomas Savage, “Ataque dos Cães” é um filme sobre um homem que nega sua própria natureza, afetando sua vida e a de todos ao seu redor, o que o coloca no centro de uma trama um tanto macabra, conduzida com elegância por Jane Campion, vencedora do Leão de Prata na última edição do Festival de Veneza. Sem dúvida, um dos títulos mais interessantes do catálogo da Netflix, que o tem como grande aposta da atual temporada de prêmios.

 

6. “Tick, Tick… Boom!” (tick, tick… BOOM – 2021):

“Tick, Tick… Boom!” está disponível na Netflix (Foto: Divulgação).

– Direção: Lin-Manuel Miranda.

– Elenco: Andrew Garfield (Jonathan Larson), Alexandra Shipp (Susan), Robin de Jesus (Michael), Vanessa Hudgens (Karessa), Joshua Henry (Roger), Jonathan Marc Sherman (Ira Weitzman), Ben Levi Ross (Freddy), Bradley Whitford (Stephen Sondheim), entre outros.

– Sinopse: Baseado no musical homônimo e autobiográfico de Jonathan Larson, “Tick, Tick… Boom!” conta a saga do compositor e escritor para produzir seu tão sonhado musical, “Superbia”, que não chegou aos palcos. Obstinado, Larson apostou muito durante oito anos, numa época em que o HIV era um vírus ainda pouco conhecido e se disseminava rapidamente, vitimando seus amigos mais próximos.

 

Um dos nomes mais respeitados dos palcos nova-iorquinos, Lin-Manuel Miranda estreia na direção de longas-metragens homenageando o ídolo que não obteve o devido reconhecimento em vida, Jonathan Larson, em “Tick, Tick… Boom”. Abordando o modus operandi dos bastidores do circuito teatral nova-iorquino, este musical se desenvolve lentamente para apresentar ao público o cenário repleto de incertezas dos anos 1980, sobretudo em relação à epidemia de Aids por meio de amigos próximos de Larson.

 

Produção original Netflix, o filme esmiúça a trajetória de Larson, alicerçado na potente atuação de Andrew Garfield, que mergulha no personagem de maneira a explorar suas emoções e variações de humor em meio à busca pelo sonho e a dor de perdas irreparáveis. É um trabalho de composição impecável que tem a paixão pela arte como força motriz, colocando Garfield como um dos nomes mais fortes da temporada de prêmios americana.

 

“Tick, Tick… Boom” é, no fim das contas, sobre os sacrifícios de um homem em prol de sua carreira e a subsequente realização do sonho de montar um espetáculo teatral, colocando em suspensão sua vida pessoal, principalmente o relacionamento amoroso e a convivência com os amigos que sempre o apoiaram e esperam dele o suporte para que possam enfrentar as adversidades da vida.

 

7. “7 Prisioneiros”:

“7 Prisioneiros” está disponível na Netflix (Foto: Divulgação).

– Direção: Alexandre Moratto.

– Elenco: Christian Malheiros (Mateus), Rodrigo Santoro (Luca0, Josias Duarte (Rodiney), Vitor Julian (Ezequiel), Clayton Mariano (Bianchi), Lucas Oranmian (Isaque), entre outros.

– Sinopse: O filme conta a história de Mateus, jovem de origem humilde que decide buscar uma vida melhor em São Paulo, onde se depara com uma realidade análoga à escravidão, incluindo, ainda, tráfico humano.

 

Vencedor do Sorriso Diverso Venezia Award de melhor filme em língua estrangeira no Festival de Veneza deste ano, “7 Prisioneiros” chama a atenção pela destreza de seu realizador, Alexandre Moratto, que aborda o submundo do crime por meio da escravidão e tráfico de pessoas na cidade grande. Para contar esta história indigesta, o cineasta recorreu a dois nomes reconhecidos internacionalmente, Rodrigo Santoro e Christian Malheiros, que protagonizou o aclamado “Sócrates” (Sócrates – 2018), estreia de Moratto em longas-metragens.

 

Sem rodeios, “7 Prisioneiros” mostra o aliciamento de pessoas que sobrevivem à beira da miséria no interior do país e sua exploração nos centros urbanos, tendo o medo e a dívida como grilhões. Neste cenário, o lado mais obscuro do ser humano é exposto, colocando na balança tanto o remorso quanto a necessidade de vencer a qualquer custo. E em meio ao dilema moral e à dor, física e emocional, o indivíduo tem como alternativa mais fácil se corromper.

 

No entanto, não há como negar que “7 Prisioneiros” tem como trunfos não apenas a trama estruturada com esmero, mas as atuações de Malheiros e Santoro. Esbanjando química em cena, a dupla assimila com perspicácia as características de seus personagens, explodindo a cada cena e proporcionando ao (tel)espectador a sensação de sucessivos socos no estômago, sobretudo no terceiro ato que subverte qualquer conceito de final feliz.

 

8. “Luca”:

“Luca” está disponível na Disney+ (Foto: Divulgação).

– Direção: Enrico Casarosa.

– Elenco: Jacob Tremblay (Luca Paguro), Jack Dylan Grazer (Alberto Scorfano), Emma Berman (Giulia Marcovaldo), Saverio Raimondo (Ercole Visconti), Maya Rudolph (Daniela Paguro), Marco Barricelli (Massimo Marcovaldo), Jim Gaffigan (Lorenzo Paguro), entre outros.

– Sinopse: A animação conta a história de Luca, criatura marinha que assume forma humana em terra firme. Apesar do susto inicial, Luca decide explorar o mundo desconhecido pelo qual logo se encanta, principalmente ao conhecer Alberto, que vive sozinho após ser abandonado pelo pai. Juntos, embarcam numa aventura por uma pequena vila no litoral italiano, dominada por Ercole Visconti. No local, são acolhidos pela jovem Giulia e seu pai.

 

Originalmente previsto para as salas de exibição, “Luca” estreou diretamente na Disney+ levando à plataforma uma trama guiada pela curiosidade e paixão por uma Vespa para abordar tema importante: respeito às diferenças.

 

Mantendo o padrão de qualidade técnica instituído pela Disney / Pixar, “Luca” dialoga com duas coleções de curtas-metragens que integram o catálogo da Disney+, “SparkShorts – Projetos de Artistas da Pixar” (SparkShorts – desde 2019) e “Launchpad: Uma Coleção de Curtas” (Launchpad: A Short Film Collection- 2021), por levar ao espectador uma discussão necessária sobre respeito às diferenças, aceitação, diversidade e inclusão por meio da amizade de Luca, Alberto e Giulia, que sofre bullying na vila “controlada” por Ercole Visconti. Egocêntrico, Ercole remete a um dos vilões mais famosos dos estúdios Disney, Gastão, de “A Bela e a Fera” (Beauty and the Beast – 1991), de Gary Trousdale e Kirk Wise. Isto se deve tanto à sua vaidade quanto à obstinação em retirar de seu caminho todos que possam lhe atrapalhar de alguma maneira, tentando liderar uma caçada aos chamados monstros marinhos apenas para levar o crédito de mais uma conquista.

 

Com rápida participação de Sacha Baron Cohen, que empresta sua voz ao Tio Ugo, “Luca” é uma produção cujo objetivo é transmitir uma mensagem pacífica para o público de todas as idades, sobretudo a fatia mais nova. Neste ponto, a animação assume função quase didática para mostrar às crianças que ser diferente é normal, importando apenas o caráter e a índole do indivíduo.

 

9. “O Culpado” (The Guilty – 2021):

“O Culpado” está disponível na Netflix (Foto: Divulgação).

– Direção: Antoine Fuqua.

– Elenco: Jake Gyllenhaal (Joe Baylor), Riley Keough (Emily Lighton), Peter Sarsgaard (voz de Henry Fisher), Christina Vidal (Denise Wade), Ethan Hawke (voz de Bill Miller), Eli Goree (Rick), entre outros.

– Sinopse: O filme mostra a angústia de Joe Baylor na véspera de um dia decisivo para o seu futuro. Policial afastado das ruas, realocado como atendente do serviço de emergência, Baylor precisa ajudar uma mulher sequestrada em uma Los Angeles assolada por incêndios florestais.

 

Remake do dinamarquês “Culpa” (Den skyldige – 2018), de Gustav Möller, “O Culpado” opta por priorizar o ambiente do serviço de emergência para conceder a sensação de claustrofobia e, também, de impotência, uma vez que a ajuda prestada pelo protagonista à vítima é limitada, subvertendo clichês de maneira engenhosa. Mantendo o ritmo narrativo, o longa contém a necessária atmosfera de tensão, tendo como trunfo a impecável composição de Gyllenhaal para o policial cuja obscuridade do passado é revelada aos poucos. É uma interpretação rica em detalhes e que explora toda a dor de um homem atormentado por sentimentos distintos, parte considerável deles oriunda de um grave problema que afetou até mesmo sua vida familiar.

 

Produzido por Antoine Fuqua e Jake Gyllenhaal para a Netflix, “O Culpado” apresenta sua trama ao espectador em forma de peças soltas que, mais tarde, formam um quebra-cabeça doloroso e indigesto no qual remorso e doença mental caminham lado a lado, impondo ao protagonista uma jornada em busca de redenção e paz interior. E a cada pedido de ajuda de Emily (voz de Riley Keough), o público percebe o próprio grito de socorro de Joe cujo inferno pessoal e profissional é simbolizado pelas chamas que consomem a área verde da cidade, mostradas nos monitores da sala do serviço de emergência.

 

Rodado durante 11 dias em meio à pandemia, com seu diretor trabalhando isolado numa van por ter tido contato com pessoa que testou positivo para Covid-19 poucos dias antes do início das filmagens, “O Culpado” tece uma crítica às ações policiais por meio das consequências enfrentadas pelo protagonista, que se sente aprisionado tanto pelo ato do passado quanto pela impossibilidade de ir às ruas para exercer sua função. É, sem dúvida, das adições recentes mais interessantes da gigante do streaming, apesar de dois pequenos deslizes, um deles de continuidade.

 

10. “Cherry – Inocência Perdida” (Cherry – 2021):

“Cherry – Inocência Perdida” está disponível na Apple TV+ (Foto: Divulgação).

– Direção: Anthony e Joe Russo.

– Elenco: Tom Holland (Cherry), Ciara Bravo (Emily), Jack Reynor (Pills & Coke), Forrest Goodluck (James Lightfoot), Michael Rispoli (Tommy), Jeff Wahlberg (Jimenez), Michael Gandolfini (Joe), entre outros.

– Sinopse: Baseado na autobiografia homônima de Nico Walker, o longa conta a história de Cherry, universitário que se alista para lutar no Iraque e, ao voltar para casa, não consegue lidar com as lembranças dolorosas, desenvolvendo transtorno pós-traumático, o que o leva aos opioides e à heroína. Envolvendo a esposa no vício e sem dinheiro suficiente para mantê-lo, Cherry começa a assaltar bancos, mergulhando de vez no fundo do poço.

 

Produção original Apple TV+, “Cherry – Inocência Perdida” tece uma crítica à guerra e ao tratamento concedido aos veteranos, abandonados à própria sorte pelo governo após se arriscarem no Oriente Médio. Dividido em capítulos, o longa mantém impressa a assinatura de seus realizadores, os irmãos Russo, sobretudo no que tange ao emprego da técnica, destacando-se no catálogo do streaming da maçã apesar da fragilidade de sua trama no que tange ao aprofundamento do drama e da dificuldade dos diretores em superá-la.

 

Com isso, toda a responsabilidade recai sobre os ombros de Tom Holland, que, no decorrer de quase duas horas e meia, oferece uma atuação impecável ao esmiuçar a dor de um jovem que testemunhou mais do que poderia suportar. É um trabalho maduro e desafiador que exigiu muito do ator física e emocionalmente, remetendo, por vezes, à sua entrega naquele que foi seu longa-metragem de estreia, “O Impossível” (Lo imposible – 2012, Espanha), outra história baseada em fatos reais, na qual viveu um adolescente que sobreviveu ao tsunami que devastou a Tailândia no final de 2004.

 

“Cherry – Inocência Perdida” é, no fim das contas, uma produção sobre como as circunstâncias afetam o indivíduo, para o bem e para o mal, oferecendo-lhe uma chance de redenção mesmo que de maneira um tanto inusitada.

 

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