Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

Top 10: os melhores filmes das plataformas de streaming em 2019

Produção original Netflix, “História de um Casamento” é uma das apostas da Netflix neste Oscar (Foto: Divulgação / Crédito: Netflix).

Em 2019, as plataformas de streaming chamaram a atenção não apenas por seus vastos catálogos, mas principalmente pela qualidade de algumas de suas produções. Neste cenário, a Amazon Studios e a Netflix se destacam, sobretudo a segunda no que tange à quantidade, mas ambas têm brigado em pé de igualdade com títulos de estúdios tradicionais, inclusive em premiações como o Oscar.

 

No entanto, para que possam brigar na temporada de premiações americana, os títulos produzidos por e para empresas de streaming precisam seguir as exigências de elegibilidade de instituições como a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS). A principal delas, no caso da AMPAS, é a de que cada filme precisa ficar em cartaz no circuito comercial por pelo menos sete dias em Los Angeles, com três sessões diárias cujos ingressos têm de ser comercializados, podendo estrear simultaneamente em plataformas digitais, algo que incomodou executivos de estúdios e redes de cinema por causa do acordo existente entre eles de que o lançamento no streaming só poderá ocorrer de 72 a 90 dias depois da estreia nas salas.

 

Obviamente, a maioria das produções originais das plataformas digitais tem como objetivo principal o entretenimento puro e simples. Ou seja, tais títulos são passatempos, independente dos gêneros aos quais pertencem, e não costumam passar pelo circuito comercial, nem mesmo os que integram franquias, como por exemplo, “Para Todos os Garotos que Já Amei” (To All the Boys I’ve Loved Before – 2018), adaptação cinematográfica do primeiro livro da trilogia de Jenny Han. Dirigido por Susan Johnson, o romance adolescente se tornou um dos grandes sucessos do ano passado na Netflix, que anunciou a produção de duas sequências, “Para Todos os Garotos que Já Amei 2” (To All the Boys: P.S. I Still Love You – 2020) e “Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre, Lara Jean” (To All the Boys: Always and Forever, Lara Jean – 2020), ambas dirigidas por Michael Fimognari.

 

Dirigido por Martin Scorsese, “O Irlandês” é a principal aposta da Netflix no Oscar 2020 (Foto: Divulgação).

 

Apesar dos filmes de ação, aventura e “água com açúcar”, produzidos principalmente pela Netflix, muitos títulos de seus respectivos catálogos chamam a atenção pelo conteúdo denso e estética rebuscada que merecem a tela grande da sala de exibição. Um deles é “O Irlandês” (The Irishman – 2019), a maior aposta da gigante do streaming para o Oscar 2020. Dirigido por Martin Scorsese, esta adaptação cinematográfica do livro “I Heard You Paint Houses”, de Charles Brandt, conta a história de Frank Sheeran (Robert De Niro), veterano da Segunda Guerra Mundial que trabalhou como caminhoneiro e homem de confiança de Russell Bufalino (Joe Pesci) e Jimmy Hoffa (Al Pacino), líder sindical que desapareceu em 1975 e foi considerado morto pelo governo americano em 1982. Produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, este é um trabalho primoroso que já nasce com o status de clássico.

 

Outra grande aposta da Netflix para o próximo Oscar, “História de um Casamento” (Marriage Story – 2019) é um drama pesado, conduzido com muita sensibilidade por Noah Baumbach, que também assina o roteiro repleto de diálogos inteligentes que exprimem a dor do divórcio, mostrando os dois lados da história. Indicado ao Leão de Ouro na última edição do Festival de Veneza, o longa tem como destaques as atuações de Scarlett Johansson (Nicole) e Adam Driver (Charlie), brilhantes em cena.

 

“Dois Papas” é dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles (Foto: Divulgação / Netflix).

 

Dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles para a Netflix, “Dois Papas” (The Two Popes – 2019) é baseado em fatos reais e mostra o agora Papa Emérito Bento XVI (Anthony Hopkins) pavimentando o caminho de sua renúncia e da ascensão do então Cardeal Jorge Bergoglio (Jonathan Pryce) como Papa Francisco. É uma obra alicerçada nas atuações dos veteranos e na condução firme de Meirelles, apresentando ao espectador os bastidores do Vaticano em meio a sucessivos escândalos que abalaram suas estruturas.

 

Também inspirado numa história real, “O Relatório” (The Report – 2019), de Scott Z. Burns, se desenvolve como um grande flashback para mostrar a jornada de Daniel J. Jones (Adam Driver), agente que lidera uma investigação sobre os métodos utilizados no Programa de Detenção e Interrogatório da CIA pós-11 de setembro, sobretudo a tortura. Produzido pela Amazon Studios, este é um filme que não envereda pelo drama, optando pelo tom mais frio da narrativa, permitindo à plateia observar as peças do jogo político.

 

Dirigido por Nanfu Wang e Jialing Zhang, “One Child Nation” (Idem – 2019) é outra aposta da Amazon Studios na temporada de premiações que termina com o Oscar em 09 de fevereiro de 2020. O documentário mergulha nas consequências da Política do Filho Único, imposta pelo Partido Comunista chinês, que cometeu atrocidades para que sua determinação fosse cumprida sem questionamentos, inclusive abortos induzidos e o assassinato de bebês retirados do útero materno, ainda com vida, no último bimestre de gestação. Entre 1979 e 2015, inúmeras famílias foram separadas e destruídas por causa desta política, que, hoje, tem como uma de suas consequências a falta de jovens adultos para cuidar de idosos.

 

“Querido Menino”: família Sheff se enquadra no conceito de “família de comercial de margarina” (Foto: Divulgação).

 

Nome bastante badalado pela indústria hollywoodiana contemporânea, Timothée Chalamet trabalhou em duas produções inspiradas em fatos reais que chamaram atenção nas plataformas digitais: “Querido Menino” (Beautiful Boy – 2018), lançado comercialmente pela Amazon em fevereiro deste ano, e “O Rei” (The King – 2019), da Netflix.

 

Dirigido por Felix van Groeningen, “Querido Menino” conta a história do jornalista americano David Sheff (Steve Carell) e de seu filho, Nic (Timothée Chalamet), mostrando a degradação do segundo devido à dependência química e o desespero que toma conta de sua família, que deseja ajudá-lo de todas as formas, mas se vê de mãos atadas após tantas idas e vindas da reabilitação. Contando com roteiro bem desenvolvido, o longa tem como destaques as performances de Carell e Chalamet, que compuseram seus personagens sem pieguice, agregando enorme valor ao resultado final.

 

“O Rei”, de David Michôd, é uma produção que fala sobre a necessidade de amadurecimento de um jovem irresponsável por meio da história real do Rei Henrique V (Chalamet), que teve de assumir o trono da Inglaterra após a morte de seu pai, num momento em que o país lutava a Guerra dos 100 Anos contra a França. Esteticamente impecável, o longa chama a atenção por sua fotografia e design de produção, que lhe concedem atmosfera épica inerente a títulos produzidos diretamente para a tela grande.

 

“O Menino que Descobriu o Vento” é inspirado em fatos reais (Foto: Divulgação / Netflix).

 

A Netflix também apostou em outro drama baseado em fatos reais: “O Menino que Descobriu o Vento” (The Boy Who Harnessed the Wind – 2019). Marcando a estreia de Chiwetel Ejiofor na direção de longas-metragens, mostra a miséria no Malawi por meio da trajetória de um menino que, para vencer a fome, cria um sistema de energia eólica para irrigar a plantação do vilarejo onde vive, completamente abandonado pelo governo. Tudo isso após ser impedido de frequentar a escola por falta de pagamento. É uma produção que adota o tom melodramático em alguns momentos, mas que funciona graças à trama linear e ao comprometimento do elenco.

 

Vencedor do Grande Prêmio do Júri na última edição do Festival de Cannes, “Atlantique” (Idem – 2019) é ambientado em Dakar, Senegal, e conta a história de um jovem que decide se aventurar pelo oceano em busca de uma vida melhor em outro país após meses sem receber salário. Para isto, deixa para trás seu grande amor, que está noiva de um homem rico. Primeiro trabalho de Mati Diop na direção de longas-metragens, este filme, distribuído pela Netflix, trabalha drama e suspense, brincando com elementos do cinema fantástico.

 

Marcando a estreia de Sergio Pablos na direção, “Klaus” (Idem – 2019) é uma animação que chama a atenção por seus traços cuidadosos e pela riqueza de detalhes de cenários e personagens, bebendo diretamente da fonte dos grandes estúdios. Co-dirigido por Carlos Martínez López, o longa usa o espírito natalino como fio condutor de uma trama sobre aprendizagem, redenção, superação e segunda chance.

 

Confira o Top 10:

1. “História de um Casamento”:

Foto: Divulgação.

Com direção e roteiro de Noah Baumbach, “História de um Casamento” aborda a dor do divórcio com muita dignidade, mostrando os dois lados da história para que o espectador possa tirar suas próprias conclusões.

 

Sem cometer o pecado da pieguice em nenhum momento, o longa esmiúça as consequências emocionais e financeiras do divórcio, pois trabalha com números oriundos da batalha judicial, o que inclui leis que variam de acordo com o estado americano no qual o processo é aberto.

 

“História de um Casamento” é uma produção dura e objetiva que surte o efeito de um soco no estômago, algo que é potencializado pelo belo trabalho de Adam Driver e Scarlett Johansson, que esbanjam química num jogo cênico impecável, repleto de diálogos fortes e honestos, capazes de deixar o espectador grudado na poltrona. E tudo isso é conduzido com maestria e sensibilidade por Baumbach.

 

2. “O Irlandês”:

Foto: Divulgação.

Mantendo o padrão de qualidade técnico inerente às obras de seu realizador, que volta à zona de conforto do filão da máfia, sobretudo em fotografia e direção de arte, “O Irlandês” tem como força motriz o roteiro desenvolvido com esmero, mostrando a influência da máfia na História política americana, e a escalação do elenco, em total comunhão. Dentre os atores, os destaques são Robert De Niro, que também assina como produtor, Joe Pesci e Al Pacino, em seu primeiro trabalho com Scorsese. O trio brilha a cada cena, explorando minuciosamente as emoções de seus respectivos personagens, sobretudo Pesci, que brinda o espectador com a melhor atuação de sua carreira nesta volta aos longas-metragens em live-action após hiato de nove anos, desde “Rancho do Amor” (Love Ranch – 2010), de Taylor Hackford. É uma performance que opta pela discrição, tal qual a de Robert De Niro, contrastando com a explosão de Al Pacino, mas arrebatadora.

 

Apesar da violência gráfica, “O Irlandês” é uma produção que não julga os atos dos personagens, apenas os mostra sem concessões, levando o espectador à reflexão, pois Frank Sheeran surge como servo leal da máfia que coloca sua própria família em segundo plano, pagando um alto preço por isso na velhice, quando é confrontado por uma dose de humanidade imposta pela filha Peggy (Anna Paquin). E esta opção de não julgar a quem quer que seja, permite que a emoção tome conta da narrativa em diversos momentos, algo potencializado pelo ritmo propositalmente lento para que Scorsese tivesse tempo de aprofundar diversas questões, da política à família, passando pelo submundo do crime.

 

Bebendo da fonte do Cinema Noir, “O Irlandês” é um filme sobre moral, lealdade e traição que nasce como um dos títulos mais potentes da filmografia de Martin Scorsese, cineasta que revolucionou Hollywood nos anos 1970, ao lado de nomes como Francis Ford Coppola, George Lucas e Steven Spielberg.

 

3. “Dois Papas”:

Foto: Divulgação.

Uma das apostas da Netflix na atual temporada de premiações, “Dois Papas” é uma produção simples que chama a atenção pelo roteiro cuidadoso de Anthony McCarten e a condução firme de Fernando Meirelles, que consegue extrair da dupla protagonista, Anthony Hopkins e Jonathan Pryce, atuações impecáveis e extremamente humanas.

 

Mostrando os bastidores da Igreja Católica durante o final do papado de Bento XVI, marcado pelo surgimento de diversos escândalos envolvendo clérigos ao redor do globo e, também, pelo desafio de substituir o Pontífice mais carismático da História, o agora São João Paulo II, e o conclave que levou o cardeal argentino Jorge Bergoglio ao trono de São Pedro.

 

“Dois Papas” é um filme interessante que explora a necessidade de Bergoglio de acertar as contas com o passado para, então, introduzir a Igreja Católica aos novos tempos, equilibrando tradição e reforma, permitindo maior identificação de seus fiéis.

 

4. “One Child Nation”:

Foto: Divulgação.

Em 1979, o Partido Comunista da China instituiu a Política do Filho Único, averbada na constituição três anos mais tarde, devido à crise populacional. A determinação do Estado destruiu e separou famílias durante muitos anos, ocasionando, entre outras coisas, o descarte de bebês como lixo hospitalar e o abandono de meninas recém-nascidas em mercados ou ruas por não levarem à frente o nome do pai.

 

Com aproximadamente uma hora e meia de duração, o documentário apresenta depoimentos de pessoas afetadas diretamente pela violência do regime, inclusive de familiares que abandonaram suas bebês à própria sorte, deixando-as expostas não somente ao risco de morte iminente, como também a traficantes de crianças que as vendiam para adoção internacional. Os chamados agentes de planejamento familiar também falam sobre suas versões da história, alguns demonstrando arrependimento, outros concordando plenamente com a Política do Filho Único, afirmando que lutavam numa guerra populacional e que, neste contexto, “mortes eram inevitáveis” e abortos e esterilizações forçados eram necessários.

 

“One Child Nation” ainda aborda os efeitos do doutrinamento ideológico, uma vez que parte da população ainda defende tais atrocidades, com propagandas incessantes nos meios de comunicação. É um documentário rico em conteúdo que faz um retrato doloroso da China, principalmente da camada mais pobre da sociedade.

 

5. “Querido Menino”:

Foto: Divulgação.

Baseado nos livros de memórias do jornalista David Sheff (Steve Carell), “Beautiful Boy”, e de seu filho, Nic (Timothée Chalamet), “Tweak”, “Querido Menino” faz um doloroso retrato da dependência química e suas consequências, mostrando à plateia que o uso de drogas não é causado somente por lares emocionalmente fraturados. Para isto, explora o fato de os Sheff se enquadrarem no conceito “família de comercial de margarina”, apesar dos ruídos existentes entre David e sua ex-mulher, Vicki (Amy Ryan), devido à situação do filho de ambos.

 

Simplório tecnicamente, o filme trabalha luzes e sombras em sua fotografia para diferenciar os momentos de sobriedade e calmaria daqueles em que Nic se entrega por completo às drogas, sobretudo a metanfetamina. Desta forma, foca no roteiro bem amarrado e desenvolvido com cuidado, tendo como suporte a montagem de Nico Leunen. Responsável pela edição de todos os longas-metragens de Felix van Groeningen, Leunen realiza um trabalho primoroso que costura flashbacks com precisão para deixar nítido ao espectador o amor existente na família Sheff.

 

Produzido por Brad Pitt, “Querido Menino” não é um filme de fácil digestão porque aborda a dependência química sem rodeios, focando mais nos efeitos sobre os familiares do que no jovem prestes a entrar para a universidade. É um drama no tom certo e que não pretende fazer nenhum tipo de julgamento, apenas narrar uma história repleta de amor e dor.

 

6. “O Relatório”:

Foto: Divulgação.

Dirigido e roteirizado por Scott Z. Burns, “O Relatório” assume o tom sóbrio que bebe diretamente da fonte da aclamada série “24 Horas” (24 – 2001 – 2010) e do longa-metragem “A Hora Mais Escura” (Zero Dark Thirty – 2012), de Kathryn Bigelow. Este filme explora a obstinação do agente Daniel J. Jones (Adam Driver) e toda a pressão imposta a ele e à senadora Dianne Feinstein (Annette Bening) durante o período de investigação e posterior elaboração do relatório sobre o Programa de Detenção e Interrogatório da CIA.

 

Contando com um elenco integrado, o longa ainda expõe as falhas de agentes que ignoraram avisos sobre atentados em solo americano antes de 11 de setembro de 2001, cuja barbárie abalou o mundo, mudando-o consideravelmente, sobretudo no que tange à política externa e conflitos bélicos. Isto funciona satisfatoriamente graças ao roteiro enxuto, calcado na perspicaz montagem de Greg O’Bryant.

 

Complementando longas como “Vice” (Idem – 2019) e o já citado “A Hora Mais Escura”, “O Relatório” ainda aborda a questão do vazamento de informações na mídia, citando rapidamente o caso de Edward Snowden. É uma produção interessante que assume atmosfera de thriller à medida que a trama ganha densidade, mantendo o ritmo narrativo ágil da primeira à última cena.

 

7. “O Menino que Descobriu o Vento”:

Foto: Divulgação.

Estreia de Chiwetel Ejiofor na direção de longas-metragens, “O Menino que Descobriu o Vento” apresenta com dignidade e respeito a história real de William Kamkwamba (Maxwell Simba), jovem que venceu a fome e a miséria ao criar um sistema eólico para garantir o sustento de sua família, ajudando, ainda, outras pessoas do vilarejo onde morava no Malawi. Seu invento lhe abriu oportunidades que o menino pobre nunca poderia imaginar, dentre elas, uma bolsa de estudos na conceituada Dartmouth College, nos Estados Unidos.

 

No entanto, entre vencer a fome e se formar numa universidade americana, o garoto passou por momentos dificílimos, mostrados no decorrer do longa, que ainda encontra espaço para mostrar a importância da mulher apesar das imposições sociais.

 

Baseado no livro homônimo de William Kamkwamba e Bryan Mealer, “O Menino que Descobriu o Vento” segue a fórmula tradicional de biografias, apostando na mensagem de que é necessário olhar para o continente africano com atenção, pois seu povo em agonia precisa de socorro imediato, sendo vitimado também por governantes corruptos, não somente por catástrofes ambientais. Neste contexto, Ejiofor realiza um filme em tom quase fabular sobre a importância da união em prol do bem maior e do imprescindível acesso à educação, negado a tantas crianças e adolescentes em todo o mundo.

 

8. “O Rei”:

Foto: Divulgação.

Com direção de David Michôd, “O Rei” é mais um título que coloca a Netflix fora da zona de conforto de suas produções originais que em muito remetem à “Sessão da Tarde”, apostando em histórias adolescentes e/ou “água com açúcar”. Para isto, aposta na técnica apurada para a realização de um produto grandioso com atmosfera épica.

 

Neste cenário, o espectador é exposto à história de Henrique V (Timothée Chalamet), que teve de amadurecer rapidamente para se manter no trono inglês no momento no qual o país enfrentava uma situação política difícil por causa da Guerra dos 100 Anos, travada contra a França. Isto é apresentado por meio de um ritmo narrativo lento que permite a exploração de detalhes da vida do soberano, bem como dos campos de batalha, repleto de sequências que remetem ao oscarizado “Coração Valente” (Braveheart – 1995), de Mel Gibson.

 

Calcado no roteiro de Michôd e Joel Edgerton, que interpreta Falstaff, “O Rei” chama a atenção pela escalação do elenco em total comunhão, destacando-se o amadurecimento profissional de Timothée Chalamet.

 

9. “Klaus”:

Foto: Divulgação.

Estreia de Sergio Pablos na direção, “Klaus” ultrapassa a barreira açucarada de filmes natalinos para contar a história de um jovem rico e arrogante que, castigado pelo pai, é enviado para trabalhar como carteiro em Smeerensburg, uma cidadezinha gelada no fim do mundo. Para voltar para o luxo de casa, Jesper (voz de Jason Schwartzman) precisa atingir uma meta altíssima. Sem nenhuma carta para entregar, pois os habitantes da cidade vivem em pé de guerra, Jesper vê no Natal uma oportunidade, convencendo o solitário Klaus (voz de J.K. Simmons) a lhe ajudar.

 

Abordando temas como infância cerceada por rivalidade antiga de adultos, redenção e segunda chance, esta animação surpreende pelo emprego de técnica apurada, explorando minuciosamente detalhes de cenários e personagens.

 

“Klaus” é um feel-good movie que agrada crianças e adultos graças ao roteiro objetivo e recheado de humor. Apesar da diversão, o longa transmite a mensagem de que é possível aprender com os erros e as dores do passado para se tornar uma pessoa melhor e fazer o bem ao próximo.

 

10. “Atlantique”:

Foto: Divulgação.

Marcando a estreia de Mati Diop na direção de longas-metragens, “Atlantique” começa com o drama de um jovem casal que vive um amor proibido, e é separado pela decisão de Suleiman (Ibrahima Traoré) de se arriscar atravessando o oceano em busca de um futuro melhor. Sonhando com o jovem, Ada (Mame Bineta Sane) tem de enfrentar a dor imposta pela tragédia e a angústia da aproximação do casamento arranjado com um homem rico.

 

“Atlantique” faz um retrato do Senegal por meio de elementos de drama, suspense e fantasia, apoiado num roteiro que se desenvolve de forma satisfatória, mas com alguns deslizes que não chegam a afetar radicalmente o seu resultado final porque o conjunto se sobrepõe tanto em técnica quanto em atuações. O elenco compõe seus respectivos personagens com cuidado, esmiuçando suas características mesmo quando elementos do cinema fantástico tomam conta da narrativa.

 

Neste contexto, Mame Bineta Sane se destaca por fazer de Ada uma jovem que consegue se manter forte em meio ao caos, quebrando regras comportamentais numa sociedade na qual as mulheres têm inúmeras limitações.

 

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