Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘The Batman’ bebe da fonte do Cinema Noir

“The Batman” é protagonizado por Robert Pattinson (Foto: Divulgação / Crédito: Warner Bros.).

Inicialmente previsto para 2020, “The Batman” (The Batman – 2022) sofreu com o efeito dominó de adiamentos imposto pela Covid-19. Mas, mesmo longe do fim, o cenário pandêmico tem na Ciência a sua pior inimiga graças à produção de vacinas que têm possibilitado o retorno gradual às atividades cotidianas, entre elas, ir ao cinema, o que permitiu ao estúdio Warner Bros. lançar o seu título mais aguardado dos últimos anos, com exclusividade no circuito comercial, na próxima quinta-feira, dia 03. E a pergunta que todos os fãs fazem, neste momento, é se a espera valeu a pena. Sim, valeu, pois Matt Reeves brinda o público com um drama policial com doses cavalares de ação sob as lucrativas máscara e capa do Homem-Morcego.

 

Referenciando visualmente “Batman” (Batman – 1989) e “Batman O Retorno” (Batman Returns – 1992), ambos de Tim Burton, bem como utilizando elementos da trilogia “O Poderoso Chefão” (The Godfather – iniciada em 1972), de Francis Ford Coppola, “The Batman” mostra Bruce Wayne / Batman (Robert Pattinson) como um parceiro extraoficial de Jim Gordon (Jeffrey Wright), lutando contra os criminosos de Gotham City, inclusive aqueles que usam o distintivo para esconder suas verdadeiras intenções. Em meio a isso, o Homem-Morcego tenta desvendar as pistas deixadas por um psicopata, Edward Nashton / Charada (Paul Dano), e conhece Selina Kyle / Mulher-Gato (Zoë Kravitz), jovem que pretende vingar a amiga que, assim como ela, trabalhava num clube noturno controlado pela máfia liderada por Carmine Falcone (John Turturro), que tem como testa de ferro Oswald Cobblepot / Pinguim (Colin Farrell) – único personagem mal aproveitado pela trama.

 

Zoë Kravitz e Robert Pattinson em cena de “The Batman” (Foto: Divulgação / Crédito: Warner Bros.).

 

Nitidamente bebendo da fonte do Cinema Noir, Matt Reeves entrega um dos títulos mais instigantes da DC / Warner ao apostar na densidade da trama proposta, desenvolvida com esmero, tendo como grande alicerce a entrega de todo o elenco, especialmente do quarteto formado por Pattinson, Wright, Kravitz e Dano. Com os holofotes voltados para si, o eterno Edward Cullen, de “A Saga Crepúsculo” (The Twilight Saga – 2008 – 2012), tinha como principal desafio compor o personagem de maneira a evitar as críticas recebidas por Ben Affleck, algo conquistado com louvor, pois o ator condensou toda a dor de Bruce Wayne em sua cruzada contra o crime, utilizando-a como guia para mergulhar no submundo de Gotham. Já Wright aposta na integridade de Gordon, policial que vai na contramão de parte da corporação para desmontar o sistema corrupto que assola a cidade, enquanto Kravitz faz de sua Mulher-Gato uma personagem interessante, movida pela dor. No entanto, quem, de fato, rouba a cena é Paul Dano, que faz de seu Charada a peça mais complexa e importante do jogo.

 

“The Batman” também chama a atenção nos quesitos técnicos, sobretudo do design de produção, fotografia, edição de som e montagem, que insere com precisão cirúrgica a trilha sonora assinada por Michael Giacchino, que, com a desenvoltura de um mestre, consegue, por exemplo, encaixar a “Ave Maria”, de Franz Schubert, com “Something in the Way”, do Nirvana – no ano passado, a banda de Kurt Cobain teve seu maior sucesso, “Smells Like Teen Spirit”, em nova versão na trilha de “Viúva Negra” (Black Widow – 2021), dirigido por Cate Shortland para a Disney / Marvel. Além disso, não há como negar a potência desta trilha que, em determinados momentos, remete a “The Imperial March”, tema de outro mascarado de capa preta, Darth Vader, composta por John Williams para o clássico “Star Wars: O Império Contra-Ataca” (The Empire Strikes Back – 1980), de Irvin Kershner.

 

Sem economizar na violência gráfica e com um batmóvel mais envenenado que todos os carros (juntos!) de Dom Toretto e sua “família”, “The Batman” é um filme sobre como as feridas do passado afetam o indivíduo no presente, por vezes, levando-o a um caminho sombrio no qual ele precisa decidir não apenas que tipo de legado quer honrar, como também se vale a pena honrá-lo ou criar uma nova história sem as amarras do sofrimento que o atormentou por toda a vida. E a única maneira de conseguir isso é deixar o sentimento de vingança para trás, permitindo, assim, que a esperança de um futuro melhor, por meio da reestruturação emocional (Bruce Wayne e Selina) e moral (Gotham), se torne um norte. É, sem dúvida, um grande acerto da DC / Warner.

 

* “The Batman” tem uma cena pós-crédito.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

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