No Brasil, quando se fala em produções cinematográficas sobre o serviço militar há a imediata conexão com o passado, mais precisamente com o período da ditadura. E é neste ponto que “Soldado Estrangeiro” (2019) se diferencia das demais, pois é ambientado nos dias atuais e foca na difícil decisão de três jovens que deixaram o país para servir em Forças Armadas estrangeiras. Dirigido e roteirizado por José Joffily e Pedro Rossi, o documentário entra em cartaz nos cinemas na próxima quinta-feira, dia 03.
Abordando as Forças Armadas como sonho e/ou a única saída para uma vida melhor graças ao salário oferecido, “Soldado Estrangeiro” bebe diretamente da fonte do cinema americano tanto na narrativa convencional quanto na estética de tons sóbrios, agregando valor ao resultado final. Contudo, o principal alicerce é a montagem de Jordana Berg, que costura com propriedade três histórias que se complementam de maneira a apresentar ao espectador as fases do alistamento, do combate e da volta para casa, conectando diferentes cenários e emoções – ansiedade por realizar o sonho que dará vida melhor à família integrando a Legião Estrangeira (Bruno Silva); a adrenalina e a energia juvenil no front, combatendo pelo Exército de Israel, em plena Faixa de Gaza (Mário Wasercjer); e as consequências físicas e mentais do período que lutou contra o Talibã, no Afeganistão, pela Marinha Americana (Felipe de Almeida). Neste ponto, chama a atenção a fala de Felipe, deixando claras as feridas emocionais dos tempos de Fuzileiro Naval – “Acho que perdi um pedaço de mim. Não sinto vontade. Não sinto felicidade. Não sinto vontade de ter felicidade”, afirma o brasileiro que briga na justiça americana para conseguir os benefícios de veterano de guerra.
“Soldado Estrangeiro” é eficiente ao trabalhar a relação de cada um dos jovens com suas famílias, mas sem cair na armadilha da pieguice, expondo as motivações individuais sem romantizá-las em nenhum momento. Neste sentido, o longa acaba por levantar, mesmo que indiretamente, questões como raízes e pertencimento de combatentes que tentam descobrir “seu lugar no mundo”.
Contendo trechos do livro “Johnny Vai à Guerra” (1939), de Dalton Trumbo, roteirista americano que integrou a chamada lista negra de Hollywood durante o macarthismo, “Soldado Estrangeiro” trabalha a riqueza de seu conteúdo com habilidade e objetividade, ganhando força a cada cena. Respeitando a distância entre câmera e retratados, necessária em documentários, a produção também tece uma crítica à falta de oportunidades dos jovens no Brasil, o que os leva a sonhar com a vida no exterior e a defender e abraçar as bandeiras dos países que lhes deram uma chance.
Assista ao trailer oficial:
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