Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

Robert Pattinson: trajetória de sucesso e amadurecimento

“The Batman” é protagonizado por Robert Pattinson (Foto: Divulgação / Crédito: Warner Bros.).

Com dois anos de atraso em decorrência da Covid-19, “The Batman” (The Batman – 2022, EUA), de Matt Reeves, chega ao circuito exibidor brasileiro nesta quinta-feira, dia 03, marcando a volta de seu protagonista, Robert Pattinson, a produções de enorme apelo popular, algo que o ator evitou durante anos – não contabilizando, aqui, “Tenet” (Tenet – 2021, EUA / Reino Unido), pois este atinge uma fatia específica do público devido à complexidade autoral do cinema de Christopher Nolan, apresentada sob a roupagem de blockbuster, que acabou fracassando em virtude do momento inoportuno de seu lançamento.

 

Muito se especulou acerca da escalação de Robert Pattinson como Bruce Wayne / Batman, sobretudo no momento no qual a nostalgia dos fãs tem, de certa forma, guiado a trajetória do personagem na tela grande, especialmente com a implementação do multiverso da DC e do reconhecimento tardio de “Batman” (Batman – 1989, EUA / Reino Unido) e “Batman O Retorno” (Batman Returns – 1992, EUA / Reino Unido), ambos dirigidos por Tim Burton e protagonizados por Michael Keaton, que, ainda este ano, vestirá novamente o uniforme do Homem-Morcego nos cinemas e na HBO Max em títulos como “The Flash” (The Flash – 2022, EUA), de Andy Muschietti, e “Batgirl” (Batgirl – 2022, EUA), de Adil El Arbi e Bilall Fallah – há rumores sobre a participação de Keaton em “Aquaman 2” (Aquaman and the Lost Kingdom – 2022, EUA), de James Wan, mas nada confirmado pela Warner Bros. até a presente data. E parte do burburinho em torno do trabalho de Pattinson neste longa, de orçamento estimado entre US$ 185 milhões e US$ 200 milhões, se deve não apenas ao ceticismo dos fãs do herói, mas às escolhas anteriores do ator, que o afastaram conscientemente do cinema pipoca.

 

Daniel Radcliffe e Robert Pattinson em cena de “Harry Potter e o Cálice de Fogo” (Foto: Divulgação / Crédito: Warner Bros.).

 

Robert Pattinson começou a carreira ainda na adolescência, numa participação, cortada e não creditada, em “Feira das Vaidades” (Vanity Fair – 2004, EUA / Reino Unido / Índia), de Mira Nair, sentindo o gostinho do sucesso no ano seguinte ao interpretar Cedric Diggory em “Harry Potter e o Cálice de Fogo” (Harry Potter and the Goblet of Fire – 2005, Reino Unido / EUA), de Mike Newell. Ao lado de Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint, o ator conquistou a fatia infanto-juvenil do público, o que possibilitou diversas audições nos Estados Unidos, inclusive remotamente. Numa delas, superou cerca de três mil oponentes e conquistou o papel que lhe alçou, definitivamente, à fama: Edward Cullen, o vampiro que ele, num primeiro momento, acreditou pertencer a uma obra literária de pouco apelo comercial.

 

Taylor Lautner, Kristen Stewart e Robert Pattinson em “A Saga Crepúsculo: Eclipse” (Foto: Divulgação).

 

Baseado no livro homônimo de Stephenie Meyer, “Crepúsculo” (Twilight – 2008, EUA), de Catherine Hardwicke, se tornou fenômeno mundial rapidamente, colocando Robert Pattinson, Kristen Stewart e Taylor Lautner como astros do cinemão hollywoodiano, algo anteriormente visto, em proporção similar, com o elenco de “Barrados no Baile” (Beverly Hills 90210 – 1990 – 2000, EUA), primeira série televisiva voltada para o público adolescente. A fama repentina assustou o trio, o que pôde ser observado em terras brasileiras tanto na visita de Stewart e Lautner a São Paulo, em 2009, durante a turnê de divulgação de “A Saga Crepúsculo: Lua Nova” (The Twilight Saga: New Moon – 2009, EUA), quanto na vinda de Lautner ao Rio de Janeiro, em 2012, para o lançamento de “A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2” (The Twilight Saga: Breaking Dawn – Part 2 – 2012), quando o ator demonstrou preocupação para com a histeria dos fãs na porta do Hotel Fasano, em Ipanema, Zona Sul da cidade, durante a coletiva de imprensa. E o sucesso e suas consequências foram os responsáveis por guiar os rumos das carreiras dos atores, que tomaram decisões diferentes, pois enquanto Lautner optou por certa reclusão, o então casal de namorados, Stewart e Pattinson, decidiu trilhar por um caminho mais desafiador, sobretudo no cinema independente.

 

Ávido por deixar para trás a imagem de Edward Cullen, Pattinson cumpriu suas obrigações contratuais, mas começou a lapidar seu trabalho nos intervalos dos filmes da franquia – cinco, ao todo, que, juntos, arrecadaram mais de US$ 3,35 bilhões, segundo o Box Office Mojo. Desta forma, o ator apostou em títulos voltados para a parcela adulta da plateia, como “Lembranças” (Remember Me – 2010, EUA), de Allen Coulter, “Água para Elefantes” (Water for Elephants – 2010, EUA), de Francis Lawrence, e “Cosmópolis” (Cosmopolis – 2011, Canadá / França / Portugal / Itália), de David Cronenberg. E tais produções o ajudaram a se consolidar como um dos nomes mais versáteis de sua geração, principalmente por não ter medo de se arriscar por não mais precisar buscar o estrelato.

 

Demonstrando amadurecimento profissional, Robert Pattinson conquistou o respeito da indústria e da crítica especializada, participando dos mais renomados festivais de cinema do mundo, entre eles, o de Cannes, com filmes como “The Rover – A Caçada” (The Rover – 2014, Austrália / EUA), de David Michôd, “Bom Comportamento” (Good Time – 2017, EUA), de Benny e Josh Safdie, e “O Farol” (The Lighthouse – 2019, EUA / Canadá), de Robert Eggers.

 

Zoë Kravitz e Robert Pattinson em cena de “The Batman” (Foto: Divulgação / Crédito: Warner Bros.).

 

Mesmo após tantos desempenhos aclamados pela crítica, não há como dissociar Robert Pattinson de Edward Cullen. Dissociar ator e personagem, neste caso, seria o mesmo que renegar o passado que o colocou na posição confortável do presente. “Não é mais legal ser um hater. Isso é tão 2010”, brincou Pattinson, em resposta a Zoë Kravitz, que assumiu não ter assistido aos filmes da franquia, durante a divulgação de “The Batman”. Mas esta brincadeira refletiu o posicionamento do próprio ator, que, agora, consegue assimilar o sucesso estrondoso com tranquilidade, reconhecendo a importância de “A Saga Crepúsculo” para a sua carreira.

 

“Parece que para as pessoas mais jovens, no final da adolescência, início dos 20 anos, isso se tornou uma coisa bastante moderna de se gostar. É uma fascinante segunda onda de pessoas apreciando isso, o que é bem legal”, disse Pattinson ao USA Today em 2019. “É adorável agora que a mania não é tão intensa. As pessoas vêm até mim e têm boas lembranças disso. É uma coisa muito doce. Acho que a única parte assustadora foi bem no meio de tudo, quando era muito, muito intenso”, completou o ator à publicação.

 

Agora, mais do que o homem que lutou para se consolidar profissionalmente longe de produções milionárias made in Hollywood e se livrar da imagem do vampiro que brilha à luz do sol, capaz de deixar Nosferatu e Conde Drácula surpresos pela façanha que colocou Edward Cullen longe do gênero do terror, Robert Pattinson é o vigilante que luta contra o crime organizado, caminhando pelas sombras de uma Gotham City decadente e corrompida – “Eu sou a sombra”, diz o seu Batman em determinado momento do novo longa do personagem criado por Bob Kane em 1939. E Pattinson faz de seu Bruce Wayne / Batman o herói que precisa deixar de lado o tormento que lhe prende nas sombras para encontrar o caminho da esperança, brilhando mais em cena que o próprio Cullen, numa atuação impecável que condensa todo o aprendizado e amadurecimento dos últimos anos.

 

Leia também:

Crítica – ‘The Batman’ bebe da fonte do Cinema Noir

Comentários

 




    gl