No período clássico da indústria hollywoodiana, o faroeste era um dos gêneros que a mantinha de pé, muitos deles protagonizados por heróis erráticos que se redimiam ao final. Neste contexto, John Wayne se destaca como o maior astro do gênero, apesar de suas limitações em frente às câmeras, sobrevivendo à fase na qual Hollywood, assim como a sociedade americana, se dividiu entre o conservadorismo e a rebeldia da juventude, que teve como ícone James Dean. E foi nesta época, na década de 1950, que Wayne invadiu os cinemas como o Ethan de “Rastros de Ódio” (The Searchers – 1956), de John Ford, anos antes de atingir o ápice da carreira em termos de reconhecimento com o Oscar de melhor ator por “Bravura Indômita” (True Grit – 1969), de Henry Hathaway. Pode-se dizer que a trajetória de John Wayne nas telas, somente nelas, lembra um pouco a de Sylvester Stallone, bem como a de Ethan lembra a de John Rambo, que volta às salas de exibição nesta quinta-feira, dia 19, com “Rambo: Até o Fim” (Rambo: Last Blood – 2019), dirigido por Adrian Grunberg, de “Plano de Fuga” (Get the Gringo – 2012).
Eternizado como Rocky Balboa, personagem que lhe deu o reconhecimento da indústria que sempre ajudou a manter com as expressivas bilheterias de seus filmes ao longo de 50 anos de carreira, apesar de não ter vencido o Oscar de melhor ator coadjuvante por “Creed: Nascido Para Lutar” (Creed – 2015), Stallone agora revive sua segunda criação mais importante para a telona: o veterano do Vietnã John Rambo, mas enfatizando o lado humano da máquina de combate por meio de uma trama de cunho familiar. Levando uma vida tranquila ao lado de Maria (Adriana Barraza) e Gabrielle (Yvete Monreal), John vê seu mundo desmoronar com o desaparecimento da segunda, que segue para o México em busca do pai que a abandonou ainda criança, após a morte da mãe. Neste cenário, John é obrigado a encarar uma missão de resgate que desperta o Rambo de outrora.
Contando com técnica apurada, principalmente no que tange aos efeitos sonoros, “Rambo: Até o Fim” tem em Stallone o seu grande trunfo, pois o ator, que parece ter nascido para interpretar Rocky e Rambo, consegue explorar com sensibilidade o lado humano de um homem ainda atormentado pelas lembranças da guerra, lutando diariamente contra seus próprios fantasmas numa jornada que pode ser chamada de redentora. É um trabalho de composição que remete ao do já citado “Creed: Nascido Para Lutar”, quando Rocky precisa mergulhar no passado em prol do presente.
Sylvester Stallone, que também assina o roteiro ao lado de Matthew Cirulnick, tem Adriana Barraza e Yvete Monreal como principais apoios em cena, esbanjando química com as duas atrizes, que estão à vontade no universo criado por ele, Michael Kozoll e William Sackheim há 37 anos, baseado no livro “First Blood”, de David Morrell. Apesar da integração do elenco, o destaque negativo é Óscar Jaenada, que constrói o traficante mexicano Victor Martinez de forma extremamente caricata.
Com sequências de ação repletas de violência gráfica, algumas delas capazes de revirar o estômago do espectador, “Rambo: Até o Fim” é um filme sobre a importância da família para o indivíduo e a necessidade de protegê-la e preservá-la a todo custo. É uma produção de ritmo narrativo ágil que respeita a essência do personagem que invadiu os cinemas pela primeira vez com “Rambo: Programado Para Matar” (First Blood – 1982), sob a direção de Ted Kotcheff.
“Rambo: Até o Fim” chega aos cinemas brasileiros na mesma semana do lançamento de um livro sobre Sylvester Stallone, “Stallone e as Coisas que Ficaram Guardadas no Porão”, de autoria do jornalista e crítico de cinema Rodrigo Fonseca. O livro, disponível apenas na versão digital, faz um apanhado da carreira do ator, abordando também a questão do heroísmo na indústria hollywoodiana.
Assista ao trailer oficial legendado:
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