Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

R.I.P., Paulo Gustavo

Paulo Gustavo. Foto: Reprodução de Internet

Paulo Gustavo. Foto: Reprodução de Internet

A notícia que os brasileiros não queriam receber chegou no final da noite da última segunda-feira, dia 04: Paulo Gustavo se tornou mais uma vítima fatal da Covid-19. Aos 42 anos de idade, o ator e humorista pertencia ao grupo de risco e se contaminou, mesmo tomando cuidados, sem ter tido a oportunidade de se vacinar, como tantas outras pessoas que se tornaram números numa estatística bastante dolorosa – o Brasil já soma mais de 411 mil mortos.

O anúncio da morte precoce de Paulo Gustavo, no auge da carreira, obriga o público a refletir sobre a fragilidade humana face à uma doença que, apesar de invasiva e cruel, é subestimada por tantos brasileiros que, felizmente, não conhecem o terror e a pressão impostos pelo novo coronavírus. Respeitar um vírus tão mortal e de consequências imprevisíveis, pois cada organismo reage de uma forma, é uma obrigação moral do indivíduo, que precisa se preservar para proteger o próximo. Isto não é difícil e independente de ideologia, religião, raça… basta que cada um tenha consciência e senso de responsabilidade.

Neste ponto, leitor, você deve estar se perguntando o porquê de começar o texto desta maneira, uma vez que a coluna é sobre cinema. Mas o cinema brasileiro acaba de perder um de seus principais nomes, um homem que atraiu o público numa intensidade que, no Brasil, poucos conseguiram, podendo ter seu sucesso comparado ao de Xuxa e Os Trapalhões, que dominaram bilheterias com títulos que marcaram gerações. Paulo Gustavo era um profissional versátil e perspicaz que, dentre muitas coisas, conseguiu transformar seu grande sucesso dos palcos num fenômeno da tela grande. “Minha Mãe é Uma Peça – O Filme” (2013), de André Pellenz, arrastou uma multidão às salas de exibição, mais de 4,5 milhões de pessoas, possibilitando não apenas a produção de outros dois filmes, também lucrativos, mas, principalmente, a fácil identificação tanto de mães quanto de filhos.

Por meio do humor escrachado, Paulo Gustavo condensou em Dona Hermínia todas as angústias e, por que não dizer, surtos de mães que não sabem dosar a dedicação e a proteção excessiva aos filhos, ultrapassando limites em alguns momentos e, consequentemente, levando-os à loucura. Ao mesmo tempo, sob o figurino da personagem inspirada em sua própria mãe, D. Déa Lúcia, o ator e humorista tratou com sensibilidade questões enfrentadas por muitas famílias, inclusive derrubando a barreira do preconceito para transmitir a necessária mensagem de que o amor e o respeito são elementos indispensáveis para o indivíduo aceitar e compreender o próximo, seja ele seu parente ou não, permitindo o aprendizado e a convivência com as diferenças.

Brincando com estereótipos, Paulo Gustavo deixa uma obra que caiu no gosto popular por conseguir dialogar com o público de todas as idades e classes sociais, deixando sua marca na História do teatro, televisão e cinema brasileiros, como poucos profissionais foram capazes de fazer.

Hoje, o Brasil está de luto por Paulo Gustavo e todas as outras milhares de vítimas fatais da Covid-19. Mas a dolorosa estatística parece não ser suficiente para parte da população que ignora a gravidade do cenário pandêmico que, infelizmente, não é ficcional. Que a imagem de Paulo Gustavo, que vivia sua melhor fase tanto na vida pessoal quanto na profissional, possa ajudar esta fatia que não acredita no poder de destruição do novo coronavírus a, ao menos, respeita-lo, pois atitudes individuais afetam o coletivo. E essa pandemia precisa ter fim!

Não custa lembrar: a máscara é imprescindível para a contenção do novo coronavírus. E vacina, sim, pois ela salva vidas.

Comentários

 




    gl