Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

Oscar 2023: AMPAS prioriza o modelo tradicional de cinema

O Oscar é realizado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Foto: Divulgação – Crédito: Richard Harbaugh / ©A.M.P.A.S.).

Na última terça-feira (24), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) divulgou a lista de indicados ao Oscar 2023. E, desde então, o burburinho tomou conta da comunidade hollywoodiana, pois uma parcela significativa tem criticado a instituição por não colocar mulheres entre os finalistas da categoria de melhor direção nem negros entre os atores principais.

 

Nesta edição do Oscar, a 95a, a Academia indicou somente dois atores negros nas categorias de coadjuvantes: Angela Bassett e Brian Tyree Henry, respectivamente por “Pantera Negra: Wakanda para Sempre” (Black Panther: Wakanda Forever – 2022, EUA) e “Passagem” (Causeway – 2022, EUA). Isso gerou surpresa porque Viola Davis era considerada um dos nomes mais fortes na corrida pela estatueta de melhor atriz por “A Mulher Rei” (The Woman King – 2022, EUA), dirigido por Gina Prince-Bythewood. Mas Davis é apenas um dos nomes que figuravam na lista de finalistas em potencial que foram esnobados.

 

“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” é protagonizado por Michelle Yeoh (Foto: Divulgação).

 

Não há como negar que, no Oscar 2023, a representatividade é asiática, algo observado com afinco nas categorias de atores, principais e coadjuvantes, refletindo o sucesso de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” (Everything Everywhere All at Once – 2022, EUA), que disputa 11 estatuetas, incluindo as de melhor filme, direção para Dan Kwan e Daniel Scheinert, atriz para Michelle Yeoh e atores coadjuvantes para Jamie Lee Curtis, Stephanie Hsu e Ke Huy Quan.

 

Neste ponto, uma ressalva se faz necessária: as listas de indicados, do Oscar ou não, refletem a situação da indústria cinematográfica, que tenta se abrir gradualmente para atender às demandas da sociedade. Hollywood é uma indústria dominada por homens brancos. Isso é um fato inegável. E só haverá equilíbrio entre indicados e, consequentemente, vencedores, quando os centros de produção, dentre eles, os grandes estúdios tradicionais, desenvolverem projetos que deem oportunidades iguais a todos.

 

“Top Gun: Maverick” é produzido e estrelado por Tom Cruise (Foto: Divulgação).

 

No entanto, a AMPAS também tem sido criticada por uma fatia contrária ao cinema comercial, que reina absoluto entre os concorrentes ao Oscar principal: o de melhor filme. Ao todo, 10 títulos estão na corrida pela estatueta dourada, dentre eles, os campões de bilheteria de 2022, “Avatar: O Caminho da Água” (Avatar: The Way of Water – 2022, EUA) e “Top Gun: Maverick” (Top Gun: Maverick – 2022, EUA), que arrecadaram, até a presente data, US$ 2,04 bilhões e US$ 1,48 bilhão, respectivamente, ao redor do globo – no mercado americano, as posições se invertem, sendo “Top Gun: Maverick” o mais lucrativo, com US$ 718,7 milhões, e “Avatar: O Caminho da Água” o vice, com US$ 601,9 milhões. Se qualquer um desses dois longas-metragens ganhar, entrará para o livro de História da instituição como a terceira sequência consagrada com o Oscar de melhor filme, algo conquistado somente por “O Poderoso Chefão II” (The Godfather Part II – 1974, EUA) e “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” (The Lord of the Rings: The Return of the King – 2033, Nova Zelândia / EUA).

 

Esse aceno ao cinema comercial se deve não apenas à inegável qualidade dos longas-metragens, mas à necessidade de aumentar a audiência da transmissão televisiva da cerimônia, que tem sofrido bastante nos últimos anos, e, principalmente, à celebração do modelo tradicional de cinema, calcado na experiência proporcionada pela tela grande da sala de exibição, local de socialização e fonte de renda. Afinal, sem a receita oriunda das salas, a indústria não se mantém de pé.

 

Nas últimas duas edições, vários títulos produzidos por e para plataformas de streaming chegaram entre os finalistas ao Oscar de melhor filme, algo facilitado, também, pela pandemia, que obrigou a AMPAS a afrouxar suas regras de elegibilidade e permitir a inscrição de filmes que não foram exibidos comercialmente. Além disso, longas-metragens previstos para 2020 tiveram seus lançamentos adiados diversas vezes desde o início da crise sanitária, e só chegaram à disputa a partir do ano passado. Isso represou o cronograma de estreias e beneficiou o streaming, que saiu vitorioso do Dolby Theatre graças à AppleTV+ e “No Ritmo do Coração” (CODA – 2021, EUA / França / Canadá).

 

“No Ritmo do Coração” é uma produção original Apple TV+ (Foto: Divulgação).

 

A consagração de “No Ritmo do Coração” aconteceu no momento no qual a AMPAS, assim como a comunidade hollywoodiana, estava dividida entre a necessidade de manutenção do modelo tradicional de cinema e o abraço ao streaming – o assunto ainda tem sido amplamente debatido. Contudo, o título mais votado pelos membros da instituição não era irrelevante, pois atendia ao seu compromisso com representatividade e inclusão. Com direção e roteiro de Siân Heder, o longa começou sua campanha rumo ao palco do Dolby Theatre com muita discrição e, no começo da temporada, poucos poderiam imaginar sua vitória, sobretudo por ter como uma de suas adversárias a obstinada Netflix, que ainda não realizou o sonho dourado em forma de estatueta de melhor filme.

 

Em 18 de maio do ano passado, quando o Festival de Cannes celebrava o modelo tradicional de cinema com a première de “Top Gun: Maverick” e homenageava Tom Cruise, que recebeu a Palma de Ouro Honorária, a AMPAS anunciou as regras de elegibilidade do Oscar 2023, que, querendo ou não, impactaram as plataformas digitais. A “Regra Dois, Elegibilidade” voltou ao jogo e, com isso, a exibição comercial dos filmes se tornou essencial para torná-los elegíveis à corrida pela estatueta dourada – cada título precisa ficar em cartaz por sete dias consecutivos, com três sessões diárias, nas cidades de Los Angeles, Nova York, São Francisco, Chicago, Miami e Atlanta.

 

Mesmo que a produção original Netflix, “Nada de Novo no Front” (Im Westen nichts Neues – 2022, Alemanha / EUA / Reino Unido), vença seus nove adversários, produzidos para serem exibidos na tela grande, na disputa pela estatueta de melhor filme, o recado dado pela AMPAS ao reimplementar a “Regra Dois, Elegibilidade” e dar espaço a blockbusters foi óbvio: a Academia defende a coexistência pacífica entre o modelo tradicional e o streaming, mas o primeiro segue como sua prioridade, principalmente no momento de retomada após a fase mais crítica da pandemia, que afetou o cinema como jamais visto.

 

Apresentada por Jimmy Kimmel, a 95a cerimônia de entrega do Oscar será realizada em 12 de março no Ovation Hollywood, do Dolby Theatre, em Los Angeles.

 

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