Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Os Fabelmans’: declaração de amor de Steven Spielberg à família e ao cinema

“Os Fabelmans” é dirigido por Steven Spielberg (Foto: Divulgação / Crédito: Universal Studios e Amblin Entertainment).

Vencedor do Globo de Ouro de melhor filme de drama e direção para Steven Spielberg, concedidos pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association – HFPA), “Os Fabelmans” (The Fabelmans – 2022, EUA) chega ao circuito exibidor brasileiro cerca de um mês antes do previsto, tornando-se uma das principais estreias desta quinta-feira (12). E essa mudança de data se deve, sobretudo, à pavimentação do caminho do filme rumo ao palco do Dolby Theatre como um dos títulos mais fortes da corrida pelo Oscar.

 

Inspirado na história de Spielberg, “Os Fabelmans” começa em 10 de janeiro de 1952 com o casal Burt (Paul Dano) e Mitzi (Michelle Williams) levando seu filho, o pequeno Sam (Mateo Zoryan, infância / Gabriel LaBelle, adolescência), ao cinema pela primeira vez para assistir ao clássico de Cecil B. DeMille, “O Maior Espetáculo da Terra” (The Greatest Show on Earth – 1952, EUA). Inicialmente amedrontado pela tela grande da sala escura, Sam descobre a grande paixão de sua vida, tentando, nos anos seguintes, encontrar seu lugar no mundo mesmo quando tudo ao seu redor começa a ruir devido ao divórcio dos pais. Tudo isso em meio ao bullying no ambiente escolar, promovido por estudantes antissemitas.

 

Roteirizado por Spielberg e Tony Kushner, o longa se desenvolve de maneira a mostrar ao espectador como o cinema se tornou parte essencial da vida do protagonista, espécie de menino prodígio que não tinha interesse em realizar filmes por hobby nem para fugir da realidade na qual estava inserido. O objetivo de Sam era, na verdade, capturar e/ou recriar o mundo real com a câmera que, posteriormente, também seria utilizada para permitir o embarque da plateia no universo de sonho e fantasia. Dessa forma, se torna impossível dissociar o jovem da arte cinematográfica, especialmente quando, mesmo por instinto, percebe a importância de dirigir os “atores” nos sets improvisados dos curtas-metragens rodados em 8mm, entre eles, “Escape to Nowhere” (Escape to Nowhere – 1961, EUA), um dos mais notáveis da juventude de Steven Spielberg.

 

Gabriel LaBelle em cena de “Os Fabelmans” (Foto: Divulgação / Crédito: Universal Studios e Amblin Entertainment).

 

As imagens capturadas pela câmera de Sam são cuidadosamente tratadas pela fotografia de Janusz Kaminski, que, novamente, brinda o público com um trabalho impecável. Contudo, a fotografia não é o único trunfo deste longa dirigido com muita sensibilidade e destreza por Spielberg, homenageado pela HFPA com o Cecil B. DeMille Award em 2009. A montagem de Sarah Broshar e Michael Kahn concede ritmo ágil à produção, inserindo, ainda, a trilha sonora com precisão cirúrgica, impulsionando tanto o drama quanto o humor. Mas nada disso funcionaria na tela grande se a família Fabelman não fosse defendida por um elenco talentoso e em total comunhão.

 

Em “Os Fabelmans”, fica nítido o esforço de todo o elenco, bem como o espírito de equipe que permitiu a cada um deles brilhar por cerca de duas horas e meia. Enquanto Paul Dano explora o lado contido e gentil do homem que foca no trabalho para proporcionar uma vida confortável à esposa e aos filhos, Michelle Williams surge em cena como um furacão, brindando a plateia com uma de suas melhores atuações. Explorando minuciosamente as características de seus respectivos personagens, que vivem uma relação fadada ao fracasso, a dupla também atua como suporte para Gabriel LaBelle, que mergulha no mundo particular de Steven Spielberg como poucos seriam capazes. É uma interpretação rica em detalhes que desperta emoções variadas no espectador, potencializada no jogo cênico não apenas com Dano e Williams, como também com Judd Hirsch (Tio Boris) e Seth Rogen (Bennie), que também se destacam em cena.

 

Enaltecendo logo em seus primeiros minutos o modelo tradicional de cinema, calcado na experiência cinematográfica proporcionada pela sala de exibição, inclusive como local de socialização, no momento em que o papel e o impacto das plataformas digitais são amplamente debatidos, “Os Fabelmans” é uma declaração de amor de Steven Spielberg à sua família e à arte cinematográfica que tanto lhe deve. Considerando que “filmes são sonhos dos quais você nunca se esquece”, a sensação de respeito e admiração a um dos maiores cineastas da História do Cinema, o homem que ajudou a consolidar o cinema como um dos maiores espetáculos da Terra por meio de produções memoráveis, é inevitável ao final da sessão. Os aplausos, também.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

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