Roteirista aclamado na televisão e no cinema, Aaron Sorkin sempre demonstrou enorme interesse pelos bastidores da política americana e por dramas ambientados em tribunais, baseados em fatos verídicos ou não, vide dois de seus principais trabalhos, a série televisiva “West Wing: Nos Bastidores do Poder” (The West Wing – 1999 a 2006) e o longa “Questão de Honra” (A Few Good Men – 1992). Agora, Sorkin une os dois temas em seu segundo trabalho como diretor no filme “Os 7 de Chicago” (The Trial of the Chicago Seven – 2020), cujo lançamento nas salas de exibição foi cancelado devido à pandemia do novo coronavírus. Maior estreia da Netflix na última sexta-feira, dia 16, o drama é produzido pela DreamWorks SKG em parceria com a Paramount Pictures.
No final dos anos 1960, a tensão se potencializava nos Estados Unidos em decorrência dos protestos pelos Direitos Civis e, também, à Guerra do Vietnã, possibilitando a eclosão da violência em diversas cidades. A cada dia de conflito na selva vietnamita, vitimando jovens de ambos os países, maior era a cisão da sociedade americana, ainda sob o medo da Guerra Fria e do comunismo, que instaurou uma verdadeira caça às bruxas que começava a perder força devido à revogação do Código Hays, mecanismo de controle do governo em produções culturais, em 1968. Em agosto deste mesmo ano, o Partido Democrata realizou em Chicago (Illinois) sua Convenção Nacional para indicar um nome para a corrida à Casa Branca, então ocupada por Lyndon Johnson. Neste cenário, diversos grupos contra a guerra marcaram manifestações na cidade, mas a situação abraçou o caos, deixando centenas de feridos após o confronto com a polícia local. Líderes de alguns dos grupos foram presos e acusados de conspiração por cruzarem linhas estaduais e incitação à violência. São eles: Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen), Jerry Rubin (Jeremy Strong), Tom Hayden (Eddie Redmayne), Rennie Davis (Alex Sharp), John Froines (Danny Flaherty), Lee Weiner (Noah Robbins) e David Dellinger (John Carroll Lynch).
Assumindo certo didatismo na condução da trama, Sorkin começa com imagens de arquivo para ambientar o espectador, mostrando que o julgamento que se arrastou por meses tinha cunho político, algo corroborado pela postura do juiz Julius Hoffman (Frank Langella), que entrou no tribunal praticamente com o placar decidido, cerceando os advogados de defesa até mesmo quando o ex-Procurador-Geral do governo Johnson, Ramsey Clark (Michael Keaton), foi arrolado como testemunha, afirmando que, segundo investigações de sua equipe à época, a polícia de Chicago havia iniciado o confronto. Assim, o juiz acaba por condensar em sua imagem todo o radicalismo de uma parcela da sociedade que se recusava a enxergar os fatos em prol da estagnação e do preconceito racial, evitando mudanças que, na opinião deles, poderiam colocar em risco o estilo de vida americano. Isto funciona muito bem graças à construção de Langella, que surge em cena como um homem irracional e, de certa forma, mentalmente perturbado que permitiu em seu tribunal a permanência de um homem negro amordaçado e algemado em situação análoga à de seus antepassados em senzalas de fazendas de algodão sulistas, por exemplo. O homem em questão, Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), era líder do Partido dos Panteras Negras, e chegou a ser acusado junto com os 7 de Chicago, como o grupo é conhecido.
Além de Langella, o elenco em comunhão tem como outros destaques Sacha Baron Cohen, Mark Rylance (William Kunstler) e Joseph Gordon-Levitt (William Kunstler), sendo Eddie Redmayne o único a destoar do conjunto por, mais uma vez, não mergulhar de cabeça no personagem, tornando-o artificial até mesmo na maneira como expõe suas motivações e aspirações políticas, sendo ofuscado pelos colegas, inclusive por Keaton, seu adversário na disputa do Oscar de melhor ator em 2015 – Redmayne venceu por “A Teoria de Tudo” (The Theory of Everything – 2014). Demonstrando maturidade cênica, Cohen equilibra a ironia com a seriedade de um homem que tinha na teatralidade de suas ações seu principal trunfo, pois atraía a atenção da mídia, enquanto Rylance e Gordon-Levitt trabalham as questões de seus respectivos personagens com facilidade, principalmente o segundo, dividido entre a necessidade de cumprir suas obrigações profissionais e a ruptura moral com o arcaico modus operandi do sistema, que, neste caso, não permitiu aos réus a defesa adequada.
Contando com interessante trabalho de direção de arte e figurino, “Os 7 de Chicago” chama a atenção pelo roteiro cuja dinâmica e diálogos perspicazes remetem a “Questão de Honra” e pela montagem que o alicerça, costurando com eficiência imagens de arquivo e flashbacks de maneira a manter o ritmo narrativo. É uma produção importante pelo que representa em termos de História, pois muitos fatos devem ser contados para evitar que barbáries se repitam. Desta forma, o longa surge como a grande aposta sob o selo de distribuição da Netflix para o próximo Oscar, que poderá ser favorável às produções lançadas diretamente em plataformas de streaming por causa da pandemia que ocasionou o fechamento das salas de exibição e, consequentemente, adiou lançamentos de peso que brigariam pela estatueta dourada. No atual cenário, é o título que, até o momento, corresponde às novas demandas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS), que há anos é criticada pela falta de representatividade, diversidade e inclusão no prêmio mais cobiçado do cinema mundial.
Assista ao trailer oficial legendado:
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