Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘O Bastardo’: suspense belga estreia nas plataformas digitais

“O Bastardo” está disponível nos catálogos do Now, Vivo Play, Looke, Apple TV, Microsoft Movies & TV e Google Play (Foto: Divulgação).

No ano passado, um filme chamou a atenção do público e da crítica ao contar a história de uma família que, aos poucos, se infiltrou na casa de outra, enganando-a e consumindo suas energias e recursos. A produção em questão é “Parasita” (Gisaengchung – 2019, Coreia do Sul), vencedora da Palma de Ouro, no Festival de Cannes, e do Oscar, fazendo história por se tornar o primeiro título em língua não-inglesa a conquistar a estatueta dourada de melhor filme. Na última semana, um longa-metragem de premissa similar foi adicionado às plataformas digitais: “O Bastardo” (Bastaard – 2019, Bélgica), de Mathieu Mortelmans.

 

“O Bastardo” marca a estreia de Mathieu Mortelmans na direção de longas-metragens (Foto: Divulgação).

Enquanto o filme de Bong Joon-Ho gira em torno de duas famílias de classes sociais antagônicas, “O Bastardo” foca na rotina de Daan (Spencer Bogaert), ainda abalado pela perda do irmão mais velho num acidente de carro dois anos antes. Neste cenário, o jovem é o responsável por manter a casa nos eixos, uma vez que o pai nunca está por perto e a mãe apresenta quadro depressivo. A situação começa a mudar com a chegada de Radja (Bjarne Devolder), sem-teto que é acolhido pela matriarca, incomodando Daan, cada vez mais desconfiado das reais intenções do rapaz.

 

Trabalhando com propriedade a função parasitária de Radja, sobretudo no que tange às consequências sobre a família, esta produção belga assume o tom mais sério ao abordar a psicopatia, permitindo que o tema guie a trama por meio do comportamento do jovem, que acaba arrancando algumas máscaras pelo caminho cada vez mais obsessivo. Isto funciona devido ao desempenho de Devolder, que consegue construir seu personagem de maneira a explorar o lado sombrio do indivíduo sem nada a perder, apostando no olhar frio e calculista, fazendo contraponto à atuação de Bogaert, que não consegue encontrar o tom certo de Daan, principalmente em relação ao drama.

 

Estreia de Mathieu Mortelmans na direção de longas-metragens, “O Bastardo” utiliza a trilha sonora com cuidado, concedendo-lhe espaço gradativamente para criar a atmosfera de tensão, apesar de assumir certa previsibilidade em alguns momentos, explicitando as fragilidades do roteiro assinado por Mortelmans, Jan Pepermans e Stefanie Vanhecke, pois nada é aprofundado o suficiente. Nem mesmo os problemas internos de uma família disfuncional e emocionalmente fraturada que teve o luto como elemento catalisador de eventos outrora inimagináveis.

 

No fim das contas, “O Bastardo” consegue driblar as fragilidades do roteiro e prender a atenção do espectador, sobretudo no que tange ao desenrolar da relação de papeis invertidos entre mãe e filho, mostrando que há naquela casa algo ainda mais perturbador que a presença de Radja.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

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