Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim deste ano, “Sibéria” (Siberia – 2020) leva a autoralidade do cinema de Abel Ferrara à seção Perspectiva Internacional da 44a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, conduzindo o espectador pelos delírios e memórias de um homem que optou pelo isolamento num cenário gelado.
Protagonizado por Willem Dafoe (Clint), “Sibéria” aposta em belas imagens, que trabalham luzes e sombras com afinco, para retratar a inquietação de um homem que parte numa aparente jornada solitária e espiritual em busca de paz interior. Sim, aparente, pois nada é explicado à plateia neste longa classificado como drama, fantasia e horror. E isto se torna um problema à medida que o filme se desenvolve, calcado num roteiro vazio, assinado por Ferrara e Christ Zois, que assume narrativa não-linear, jogando para a montagem a responsabilidade de conectar inúmeras pontas soltas.
Com isso, cabe ao espectador tentar compreender a “viagem” proposta por Abel Ferrara, cineasta que consegue emplacar quaisquer projetos por seu nome ser uma das grifes do cinema contemporâneo. No entanto, a grife não pode sobrepor o conteúdo da obra realizada nem sua qualidade. Este, sim, precisa ser priorizado para fazer jus à “marca” nos créditos.
Há um momento específico no qual o protagonista, defendido com dedicação por Dafoe, afirma que “é impossível viver sem propósito”. O mesmo pode ser dito em relação ao cinema, pois todo filme, curta, média ou longa-metragem, precisa de um propósito – transmitir alguma mensagem ou apenas lucrar nas bilheterias, como a maioria dos blockbusters carentes de conteúdo que o sustentem enquanto obras cinematográficas, não importa. E qual é o objetivo real de Abel Ferrara em “Sibéria”? Mostrar a jornada espiritual de um homem solitário para saber quem ele realmente é ou expor o lado mais bestial do ser humano por meio de cenas de violência, por exemplo? São muitas as perguntas sem respostas ao final desta viagem capitaneada por Ferrara.
*A Mostra de Cinema de São Paulo acontece até o dia 04 de novembro, reunindo 198 títulos de 71 nacionalidades, disponibilizados na plataforma Mostra Play ao custo de R$ 6. Além disso, 30 produções serão oferecidas gratuitamente nas plataformas digitais Spcine Play e Sesc Digital, assim como sessões no Belas Artes Drive-in (Memorial da América Latina) e Cinesesc Drive-in (unidade Sesc Parque Dom Pedro II). Clique aqui para conferir a programação completa dos filmes da Mostra.
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