Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Minari – Em Busca da Felicidade’: o sonho americano e as adversidades do caminho

“Minari – Em Busca da Felicidade” é um dos destaques do Oscar 2021 (Foto: Divulgação).

Minari é uma planta coreana que cresce facilmente em qualquer lugar, segundo a personagem Soonja (Youn Yuh-jung) em “Minari – Em Busca da Felicidade” (Minari – 2020), que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 22. Partindo deste princípio, o filme, indicado a seis estatuetas do Oscar 2021, leva às telas a questão da imigração sob a ótica de uma criança, David (Alan S. Kim), que observa a tudo e a todos ao seu redor.

 

Ambientado nos anos de 1980, “Minari – Em Busca da Felicidade” conta a história de Jacob (Steven Yeun) e Monica (Yeri Han), casal de coreanos que imigrou para os Estados Unidos, onde construiu sua família. Na Terra do Tio Sam, os dois tiveram Anne (Noel Cho) e David, que sofre de um problema cardíaco. Enfrentando dificuldades na Califórnia, a família se muda para uma cidade rural do Arkansas, encarando de frente as dificuldades impostas pela realização do sonho de Jacob em ter sua própria fazenda e cultivar vegetais e verduras coreanas. Em situação precária, o quarteto se prepara para a chegada de Soonja, mãe de Monica, uma senhora prática e objetiva, politicamente incorreta, que transforma a vida de todos.

 

Conduzido com sensibilidade por Lee Isaac Chung, que também assina o roteiro, o longa não aprofunda a questão do preconceito racial para apostar numa trama universal sobre adaptação familiar e necessidade de criar raízes, para, então, encontrar a tão almejada felicidade. Neste sentido, as raízes implicam, também, no acolhimento dos habitantes da cidade, o que fica nítido quando Jacob, para amenizar a angústia de Monica, sugere que frequentem a igreja local, onde poderiam criar laços de amizade, algo importante sobretudo para o desenvolvimento social das crianças, que vivem isoladas na fazenda.

 

Alan S. Kim e Youn Yuh-jung em cena de “Minari – Em Busca da Felicidade” (Foto: Divulgação).

 

Com quase duas horas de duração, o longa chama a atenção pela maneira com a qual a câmera capta as imagens, apostando no olhar inocente característico dos primeiros anos da infância. Esta opção de Chung faz de “Minari – Em Busca da Felicidade” uma produção leve e delicada que em nenhum momento cai na armadilha da pieguice. Isto se deve não apenas ao esmerado desenvolvimento do roteiro, mas à comunhão de todo o elenco. Os atores atuam em total sintonia, mas, dentre eles, três se destacam: o novato Alan S. Kim e os veteranos Youn Yuh-jung e Will Patton (Paul).

 

Com a destreza de um adulto experiente, Alan S. Kim surge em cena como o elo mais forte entre os personagens, esbanjando carisma sobretudo no jogo cênico com Youn Yuh-jung, no qual o choque cultural se explicita. Estreante em Hollywood, a atriz coreana compõe a avó fora dos padrões exigidos por David de forma bastante comovente, ganhando espaço aos poucos, explorando a estranheza inicial do reencontro familiar. Gigante como Soonja, Yuh-jung ocupa o posto de favorita ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, mas a premiação esnobou outra interpretação impecável, a de Will Patton, que vive o veterano da Guerra da Coreia que se tornou um homem dedicado à religião, praticamente abraçando o fanatismo religioso.

 

Contando com mais uma performance indicada ao Oscar 2021, a de Steven Yeun, que trabalha com perspicácia as inseguranças de um pai de família movido pelo conceito do sonho americano, “Minari – Em Busca da Felicidade” tem como força motriz a busca por um futuro melhor, que, quando confrontada pelas adversidades da vida, gera angústia e insegurança, principalmente naqueles que não têm a quem recorrer, como os imigrantes que há tempos tentam criar raízes para que possam recuperar a sensação de pertencimento, derrubando, inclusive, a barreira idiomática. E é neste ponto que a metáfora sobre a planta que dá nome ao filme sintetiza toda a situação da família, que pode cultivar sua felicidade em qualquer solo, conquistando seu próprio espaço.

 

*Indicado a seis estatuetas do Oscar: melhor filme; direção e roteiro original para Lee Isaac Chung; ator para Steven Yeun; atriz coadjuvante para Youn Yuh-jung; e trilha sonora para Emile Mosseri.

 

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Assista ao trailer oficial legendado:

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