Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Jojo Rabbit’: humor escrachado com toques de drama

“Jojo Rabbit” é baseado no livro “Caging Skies”, de Christine Leunens (Foto: Divulgação).

Criada na década de 1920, a Juventude Hitlerista (Hitlerjugend) ganhou força a partir de 1936, quando o alistamento de crianças e adolescentes, de ambos os sexos, se tornou obrigatório na Alemanha. Doutrinados, os jovens eram submetidos a treinamentos militares em acampamentos controlados por oficiais nazistas. Alguns se adequaram, tornando-se fanáticos defensores do Führer, outros nem tanto, pois a pouca idade lhes permitiu o benefício da dúvida. Isto é mostrado no novo longa-metragem de Taika Waititi, “Jojo Rabbit” (Idem – 2019), uma das estreias desta quinta-feira, dia 06.

 

Baseado no livro “Caging Skies” (2004), de Christine Leunens, o longa conta a história de Jojo (Roman Griffin Davis), menino de 10 anos que se alistou na Juventude Hitlerista e sonha em integrar a guarda pessoal de Hitler (Taika Waititi). Tendo o ditador como amigo imaginário, Jojo se considera um nazista exemplar, mas começa a questionar o porquê de tanta perseguição aos judeus depois de conhecer Elsa (Thomasin McKenzie), algo que aumenta após descobrir um segredo de sua mãe, Rosie (Scarlett Johansson).

 

“Jojo Rabbit” funciona enquanto comédia, pois abusa do humor escrachado, sobretudo nas saudações a Hitler e nos diálogos entre ele e o menino. No entanto, o longa perde ritmo e força ao tentar enveredar pelo drama de Elsa, pois sua subtrama não é desenvolvida o suficiente, assim como a de Rosie, mulher que diverge ideologicamente do filho e cujo marido é acusado de desertor pelo Terceiro Reich.

 

Sam Rockwell e Scarlett Johansson em cena com Roman Griffin Davis (Foto: Divulgação).

 

Contando com interessante trabalho de design de produção, figurino e maquiagem, “Jojo Rabbit” tem no elenco seu grande atrativo. O estreante Roman Griffin Davis assimila com muita naturalidade o fanatismo e, posteriormente, os questionamentos de Jojo, assim como Archie Yates, que interpreta o carismático Yorki, melhor amigo do protagonista. No entanto, quem rouba todas as cenas é Sam Rockwell (Captain Klenzendorf), que passeia com segurança pelo humor e pelo drama, concedendo certa dose de compaixão ao personagem no último ato. É um trabalho de composição rico que ofusca até mesmo Scarlett Johansson.

 

Com trilha sonora inserida com cuidado pela montagem, “Jojo Rabbit” é um filme não apenas sobre os perigos da cegueira ideológica, que no cenário mundial contemporâneo não importa se de direita ou esquerda, mas também sobre o choque de realidade que extirpa a inocência de uma criança que outrora acreditava defender um futuro melhor para seu país e povo. Neste contexto, transmite a mensagem de respeito às diferentes opiniões e ideologias, mostrando ser possível a coexistência pacífica por meio da relação entre mãe e filho.

 

* “Jojo Rabbit” recebeu seis indicações ao Oscar 2020: melhor filme; atriz coadjuvante para Scarlett Johansson; roteiro adaptado para Taika Waititi; figurino para Mayes C. Rubeo; design de produção para Ra Vincent e Nora Sopková; e edição para Tom Eagles.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

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